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domingo, 24 de abril de 2016

LEITURA DE DOMINGO (A CRÔNICA DO CAJO)

Bela, recatada e do lar

                      Cajo
E a bela, recatada e do lar Penélope ficou anos esperando por seu amado Ulisses, que havia partido para lutar na Guerra de Tróia. 

Em uma de suas aventuras guerreiras, Ulisses se depara com Circe, a deusa do amor físico e das feitiçarias. A própria, havia enfeitiçado alguns de seus homens e transformado-os em porcos. Ulisses, avisado por Hermes (mensageiro), preparou-se para o encontro com ela e, não caindo em suas armadilhas, conseguiu que a deusa desfizesse o encanto, dando como garantia a certeza de que ficaria com ela em seus aposentos por um tempo. 

Enquanto isso, Penélope tecia um sudário, dizendo que quando o terminasse se casaria com um dos pretendentes, já que não sabia se Ulisses estava vivo ou não. Seu amor pelo marido, entretanto, fazia com que aquilo que ela tecia durante o dia fosse desfeito durante a noite. Então, ela, dona esposa do golpista mor, bela, recatada e do lar, enquanto ele andava às voltas com suas Circes, transforma-nos em porcos. 

Um pouco de Chico Buarque ilustra um pouco tudo isso.

Mulheres de Atenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas; cadenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos
Poder e força de Atenas
Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar, violentos
Carícias plenas, obscenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas, serenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos

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