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quarta-feira, 31 de julho de 2013

PALADINO

Barbosa é questionado por compra de imóvel

SEVERINO MOTTA
DE BRASÍLIA - Folha de S. Paulo


Representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Conselho Nacional do Ministério Público, Almino Afonso cobrou ontem investigação sobre a compra de apartamento em Miami pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

Conforme a Folha revelou, Barbosa criou a Assas JB Corp., no Estado da Flórida (EUA), para a aquisição do imóvel em 2012, o que lhe permite benefícios fiscais.

Seu apartamento, de 73 m², tem quarto, sala, cozinha e banheiro. O valor do imóvel é estimado no mercado entre R$ 546 mil e R$ 1 milhão.

Durante sessão do Conselho, Afonso disse que o fato de Barbosa ser proprietário da empresa está em desacordo com a Loman (Lei Orgânica da Magistratura).

Pela norma, um magistrado não pode ser diretor ou sócio-gerente de uma empresa, apenas cotista.

Almino Afonso também defendeu que o Ministério Público apure o fato de o ministro do STF ter fornecido o endereço do imóvel funcional onde mora como a sede da empresa.

Decreto que rege a ocupação de móveis funcionais não permite o uso do bem para fim que não seja de moradia.

"Agora virou moda e até mesmo ministro da Suprema Corte compra apartamento no exterior usando uma empresa como se isso fosse comum, apesar da Loman não aceitar. Por certo isso será objeto de apuração do MP", disse.

DOS EXAMES

Reza a lenda que um professor de Direito Penal da UFRGS, em um exame oral, espantou-se com a resposta que considerou muito idiota de um aluno.

Nesse instante, o bedel abre a porta para perguntar ao professor se precisa de alguma coisa. Aproveitando a oportunidade, o mestre, querendo fazer um gracejo com a turma, fala:

- Traga um fardo de alfafa, por favor!

O aluno levanta o dedo em direção ao bedel:

- E pra mim um cafezinho!


Em outro exame, na Faculdade de Medicina, a questão versava sobre os produtos naturais em que o carvão estava presente - desde o "carbono natural" ao "negro animal". O inquiridor, brincando, fez um trocadilho, ao flexionar significativamente as palavras:

- Me dá um exemplo de carvão, bruto!

O aluno respondeu a pergunta corretamente, mas também não deixou de sugerir a pausa vocativa:

- Negro, animal!

MERCADO DE TRABALHO

O mercado de trabalho segue em plena ascensão...



Depois de celebridade da mídia, subcelebridade, ex-BBB, ator que não trabalha há anos, ex- jogador de futebol, namorada de boleiro, namorada de pagodeiro, namorada de sertanejo, modelo polivalente e sedutor profissional (devo ter esquecido algumas), descobri mais duas novas profissões: estudante (Geisy Arruda) e irmã do Neymar (irmã do Neymar).

PAUTA EXTRA

Pauta Extra 14. Gravado em 30/07/2013

Para Download do programa vá em
http://www.4shared.com/mp3/bgYhcKmi/PautaExtra14.html
 

VERISSIMO

Homem que é homem
Luis Fernando Verissimo

Homem que é Homem não usa camiseta sem manga, a não ser para jogar basquete. Homem que é Homem não gosta de canapés, de cebolinhas em conserva ou de qualquer outra coisa que leve menos de 30 segundos para mastigar e engolir. Homem que é Homem não come suflê. Homem que é Homem — de agora em diante chamado HQEH — não deixa sua mulher mostrar a bunda para ninguém, nem em baile de carnaval. HQEH não mostra a sua bunda para ninguém. Só no vestiário, para outros homens, e assim mesmo, se olhar por mais de 30 segundos, dá briga.

HQEH só vai ao cinema ver filme do Franco Zeffirelli quando a mulher insiste muito, e passa todo o tempo tentando ver as horas no escuro. HQEH não gosta de musical, filme com a Jill Clayburgh ou do Ingmar Bergman. Prefere filmes com o Lee Marvin e Charles Bronson. Diz que ator mesmo era o Spencer Tracy, e que dos novos, tirando o Clint Eastwood, é tudo veado.

HQEH não vai mais a teatro porque também não gosta que mostrem a bunda à sua mulher. Se você quer um HQEH no momento mais baixo de sua vida, precisa vê-lo no balé. Na saída ele diz que até o porteiro é veado e que se enxergar mais alguém de malha justa, mata.

E o HQEH tem razão. Confesse, você está com ele. Você não quer que pensem que você é um primitivo, um retrógrado e um machista, mas lá no fundo você torce pelo HQEH. Claro, não concorda com tudo o que ele diz. Quando ele conta tudo o que vai fazer com a Feiticeira no dia em que a pegar, você sacode a cabeça e reflete sobre o componente de misoginia patológica inerente à jactância sexual do homem latino. Depois começa a pensar no que faria com a Feiticeira se a pegasse. Existe um HQEH dentro de cada brasileiro, sepultado sob camadas de civilização, de falsa sofisticação, de propaganda feminina e de acomodação. Sim, de acomodação. Quantas vezes, atirado na frente de um aparelho de TV vendo a novela das 8 — uma história invariavelmente de humilhação, renúncia e superação femininas — você não se perguntou o que estava fazendo que não dava um salto, vencia a resistência da família a pontapés e procurava uma reprise do Manix em outro canal? HQEH só vê futebol na TV. Bebendo cerveja. E nada de cebolinhas em conserva! HQEH arrota e não pede desculpas.
*
Se você não sabe se tem um HQEH dentro de você, faça este teste. Leia esta série de situações. Estude-as, pense, e depois decida como você reagiria em cada situação. A resposta dirá o seu coeficiente de HQEH. Se pensar muito, nem precisa responder: você não é HQEH. HQEH não pensa muito!

Situação 1

Você está num restaurante com nome francês. O cardápio é todo escrito em francês. Só o preço está em reais. Muitos reais. Você pergunta o que significa o nome de um determinado prato ao maître. Você tem certeza que o maîtreestá se esforçando para não rir da sua pronúncia. O maître levará mais tempo para descrever o prato do que você para comê-lo, pois o que vem é uma pasta vagamente marinha em cima de uma torrada do tamanho aproximado de uma moeda de um real, embora custe mais de cem. Você come de um golpe só, pensando no que os operários são obrigados a comer. Com inveja. Sua acompanhante pergunta qual é o gosto e você responde que não deu tempo para saber. 0 prato principal vem trocado. Você tem certeza que pediu um "Boeuf à quelque chose" e o que vem é uma fatia de pato sem qualquer acompanhamento. Só. Bem que você tinha notado o nome: "Canard melancolique". Você a princípio sente pena do pato, pela sua solidão, mas muda de idéia quando tenta cortá-lo. Ele é um duro, pode agüentar. Quando vem a conta, você nota que cobraram pelo pato e pelo "boeuf' que não veio. Você: a) paga assim mesmo para não dar à sua acompanhante a impressão de que se preocupa com coisas vulgares como o dinheiro, ainda mais o brasileiro; b) chama discretamente o maître e indica o erro, sorrindo para dar a entender que, "Merde, alors", estas coisas acontecem; ou c) vira a mesa, quebra uma garrafa de vinho contra a parede e, segurando o gargalo, grita: "Eu quero o gerente e é melhor ele vir sozinho!

Situação 2

Você foi convencido pela sua mulher, namorada ou amiga — se bem que HQEH não tem "amigas", quem tem "amigas" é veado — a entrar para um curso de Sensitivação Oriental. Você reluta em vestir a malha preta, mas acaba sucumbindo. O curso é dado por um japonês, provavelmente veado. Todos sentam num círculo em volta do japonês, na posição de lótus. Menos você, que, como está um pouco fora de forma, só pode sentar na posição do arbusto despencado pelo vento.

Durante 15 minutos todos devem fechar os olhos, juntar as pontas dos dedos e fazer "rom", até que se integrem na Grande Corrente Universal que vem do Tibete, passa pelas cidades sagradas da Índia e do Oriente Médio e, estranhamente, bem em cima do prédio do japonês, antes de voltar para o Oriente. Uma vez atingido este estágio, todos devem virar para a pessoa ao seu lado e estudar seu rosto com as pontas dos dedos. Não se surpreendendo se o japonês chegar por trás e puxar as suas orelhas com força para lembrá-lo da dualidade de todas as coisas. Durante o "rom" você faz força, mas não consegue se integrar na grande corrente universal, embora comece a sentir uma sensação diferente que depois revela-se ser câimbra. Você: a) finge que atingiu a integração para não cortar a onda de ninguém; b) finge que não entendeu bem as instruções, engatinha fazendo "rom" até o lado daquela grande loura e, na hora de tocar o seu rosto, erra o alvo e agarra os seios, recusando-se a soltá-los mesmo que o japonês quase arranque as suas orelhas; c) diz que não sentiu nada, que não vai seguir adiante com aquela bobagem, ainda mais de malha preta, e que é tudo coisa de veado.

Situação 3

Você está numa daquelas reuniões em que há lugares de sobra para sentar, mas todo mundo senta no chão. Você não quis ser diferente, se atirou num almofadão colorido e tarde demais descobriu que era a dona da casa. Sua mulher ou namorada está tendo uma conversa confidencial, de mãos dadas, com uma moça que é a cara do Charlton Heston, só que de bigode. O jantar é à americana e você não tem mais um joelho para colocar o seu copo de vinho enquanto usa os outros dois para equilibrar o prato e cortar o pedaço de pato, provavelmente o mesmo do restaurante francês, só que algumas semanas mais velho. Aí o cabeleireiro de cabelo mechado ao seu lado oferece:

— Se quiser usar o meu...

— O seu...?

— Joelho.

— Ah...

— Ele está desocupado.

— Mas eu não o conheço.

— Eu apresento. Este é o meu joelho.

— Não. Eu digo, você...

— Eu, hein? Quanta formalidade. Aposto que se eu estivesse oferecendo a perna toda você ia pedir referências. Ti-au.

Você: a) resolve entrar no espírito da festa e começa a tirar as calças; b) leva seu copo de vinho para um canto e fica, entre divertido e irônico, observando aquele curioso painel humano e organizando um pensamento sobre estas sociedades tropicais, que passam da barbárie para a decadência sem a etapa intermediária da civilização; ou c) pega sua mulher ou namorada e dá o fora, não sem antes derrubar o Charlton Heston com um soco.

Se você escolheu a resposta a para todas as situações, não é um HQEH. Se você escolheu a resposta b, não é um HQEH. E se você escolheu a resposta c, também não é um HQEH. Um HQEH não responde a testes. Um HQEH acha que teste é coisa de veado.
*
Este país foi feito por Homens que eram Homens. Os desbravadores do nosso interior bravio não tinham nem jeans, quanto mais do Pierre Cardin. O que seria deste pais se Dom Pedro I tivesse se atrasado no dia 7 em algum cabeleireiro, fazendo massagem facial e cortando o cabelo à navalha? E se tivesse gritado, em vez de "Independência ou Morte", "Independência ou Alternativa Viável, Levando em Consideração Todas as Variáveis!"? Você pode imaginar o Rui Barbosa de sunga de crochê? O José do Patrocínio de colant? 0 Tiradentes de kaftan e brinco numa orelha só? Homens que eram Homens eram os bandeirantes. Como se sabe, antes de partir numa expedição, os bandeirantes subiam num morro em São Paulo e abriam a braguilha. Esperavam até ter uma ereção e depois seguiam na direção que o pau apontasse. Profissão para um HQEH é motorista de caminhão. Daqueles que, depois de comer um mocotó com duas Malzibier, dormem na estrada e, se sentem falta de mulher, ligam o motor e trepam com o radiador. No futebol HQEH é beque central, cabeça-de-área ou centroavante. Meio-de-campo é coisa de veado. Mulher do amigo de Homem que é Homem é homem. HQEH não tem amizade colorida, que é a sacanagem por outros meios. HQEH não tem um relacionamento adulto, de confiança mútua, cada um respeitando a liberdade do outro, numa transa, assim, extraconjugal mas assumida, entende? Que isso é papo de mulher pra dar pra todo mundo. HQEH acha que movimento gay é coisa de veado.

HQEH nunca vai a vernissage.

HQEH não está lendo a Marguerite Yourcenar, não leu a Marguerite Yourcenar e não vai ler a Marguerite Yourcenar.

HQEH diz que não tem preconceito mas que se um dia estivesse numa mesma sala com todas as cantoras da MPB, não desencostaria da parede.

Coisas que você jamais encontrará em um HQEH: batom neutro para lábios ressequidos, pastilhas para refrescar o hálito, o telefone do Gabeira, entradas para um espetáculo de mímica.

Coisas que você jamais deve dizer a um HQEH: "Ton sur ton", "Vamos ao balé?", "Prove estas cebolinhas".

Coisas que você jamais vai ouvir um HQEH dizer: "Assumir", "Amei", "Minha porção mulher", "Acho que o bordeau fica melhor no sofá e a ráfia em cima do puf".

Não convide para a mesma mesa: um HQEH e o Silvinho.

HQEH acha que ainda há tempo de salvar o Brasil e já conseguiu a adesão de todos os Homens que são Homens que restam no país para uma campanha de regeneração do macho brasileiro.

Os quatro só não têm se reunido muito seguidamente porque pode parecer coisa de veado.

Texto extraído do livro "As mentiras que os homens contam, Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2000, pág. 89.

GRANDES FRASES DE GRANDES FILMES

"Gentlemen, you can't fight in here! This is the War Room!"

(Cavalheiros, vocês não podem brigar aqui! Esta é a Sala de Guerra!)
President Merkin Muffley (Peter Sellers) - Dr. Strangelove - 1964

FRASE DO DIA

"Críticos são sujeitos que passam anos procurando um erro dos escritores - e acabam encontrando."
Peter Ustinov

terça-feira, 30 de julho de 2013

ALIMENTO QUE PROVOCA DANOS IRREPARÁVEIS

Durante um congresso sobre saúde alimentar, o orador faz uma pergunta:

- Qual o alimento que causa sofrimento extremo, durante anos, depois de ser comido?

Depois de um longo silêncio, do meio da plateia, um gaiato levanta a mão e responde:

- Bolo de casamento!

ESPETÁCULO DA ARQUIBANCADA

Ermã escreve:
Num tradicional programa de rádio aqui da Mui Leal, há pouco, tratava-se sobre a polêmica do dia: o GRE-Nal de domingo próximo, o primeiro na Arena do Grêmio, terá torcida única.

A decisão é da Brigada Militar, acatada ser pelo Ministério Público do RS, sob a alegação de que, dessa forma, melhor atende às condições de segurança necessárias.


Há um tanto de verdade nas alegações da Brigada Militar, que, sejamos francos, também busca proteger-se das acusações de truculência, que certamente viriam caso tivesse que dar conta de duas turbas rivais, mas ‘apaixonadas por futebol’.

Em certo ponto do programa, abre-se o microfone para ‘O Povo nas Ruas’ – assim com letra maiúscula, ‘pra denotar a importância dele, o Povo. A imensa maioria de ouvintes logo manda opiniões do tipo “Sou contra. A graça do GRE-Nal é ter a torcida rival, ‘pra revidar os xingamentos”.

E eu aqui, ingênua, achando que a arbitrariedade da decisão ficava por conta da impossibilidade dos colorados não poderem ver, ao vivo, in loco, o seu time.

Que nada! Futebol hoje é tudo aquilo que acontece no estádio e também fora do campo. A torcida (e aqui caberia toda uma nova reflexão) vale mais do que o golo.

Parabéns, Povo da Rua! É por tua culpa que os colorados vão assistir o jogo no boteco.

PRIMEIROS PARÁGRAFOS INESQUECÍVEIS

Nossa época é essencialmente trágica, por isso nos recusamos a vê-­la tragicamente. O cataclismo já aconteceu e nos encontramos em meio às ruínas, começando a construir novos pequenos habitats, a adquirir novas pequenas esperanças. É trabalho difícil: não temos mais pela frente um caminho aberto para o futuro, mas contornamos ou passamos por cima dos obstáculos. Precisamos viver, não importa quantos tenham sido os céus que desabaram. Era esta mais ou menos a posição de Constance Chatterley. A guerra derrubara o teto sobre sua cabeça. E ela percebera que todos precisamos viver e aprender.
 O Amante de Lady Chatterley - 1928 - D.W.Laurence

FRASE DO DIA

"Sou uma ótima dona de casa. Sempre que me divorcio, eu fico com a casa."
Zsa Zsa Gabor

segunda-feira, 29 de julho de 2013

DE ÔNIBUS

Poucos prazeres nesta vida se comparam ao momento em que o ônibus parte e a poltrona ao seu lado permanece vazia. Talvez o sal deslizando do saleiro sem precisar de uma pancada na mesa ou a visão de uma enorme pilha de cestinhos verdes na entrada do supermercado, sinalizando que ele está vazio...

Com alguma regularidade, faço uma viagem interestadual de aproximadamente quatro horas, sem paradas. Para um sujeito sem ambições como eu, quatro horas sentado com um livro, um walkman com carga e rock suficiente para chegar ao destino, e vez por outra uma soneca, tá tudo bem. Mas uma pessoa só é o suficiente para bagunçar com tudo isso. Principalmente se estiver ao seu lado.

E os tipos presentes nessas viagens são muitos. Na fila, a gente já pode identificar alguns. Tem a turma do travesseiro, por exemplo. Chegam, normalmente, com uma mala de mão e na outra um travesseiro enorme. Você se questiona se está na fila certa, afinal aquela preparação é para uma noite de sono forte, não para uma viagem de meio período. A primeira atitude dessa gente quando entra no ônibus é deitar a poltrona até que ela fique completamente na horizontal, mesmo que elas não sejam feitas para isso. Aliás, as duas poltronas. Uma característica dessas pessoas é a sorte: nunca senta ninguém ao lado deles. Acho que é o medo do ronco e da baba.

Tem a turma esganada. Entram com um x-burger de calabresa (mesmo em viagens às 8h da manhã), um copo de café (pobre adora café), uma garrafa de 600ml de fanta (pobre gosta de refrigerante colorido, e já fez as contas, sabe que comprar a garrafa de 600 “vem mais e é um pouco mais caro só do que a latinha”) e pipoca doce. Comem aquilo tudo empesteando o ar com cheiros e grunhidos. Dormem também. Mas acordam em seguida e lembram que compraram “um salgado” e “bolachinhas recheadas”, caso tivessem uma fome alarmante no meio da viagem. É o caso de novo. E tem outra garrafa de 600ml de fanta. É claro que usarão o banheiro do ônibus em breve. Não vou entrar nesses detalhes. E são muitos.

Uma turma que viaja bastante são os inocentes. Normalmente, são avós com os netos. Esquecem de coisas como, por exemplo, a identidade e a autorização do juizado de menores para a viagem. Muitas vezes, esquecem até da passagem. Mas sempre conseguem lugar no ônibus. Impressionante! E claro que sempre tem a sacolinha de rango pro netinho.

O meticuloso. Dá para ver que já sai de casa com a passagem e a identidade separadas no bolso. Sobe muito sério, senta sempre no meio do ônibus, corredor. Antes de sentar, tira na bolsa o jornal do dia, a revista da semana, o livro do mês, um fone de ouvido sintonizado em uma rádio local e um DVD no notebook devidamente conectado à internet. Checa tudo novamente e arruma a sacola no porta-objetos sobre sua cabeça como se fosse um filho que precisasse de carinho antes de dormir. É o único do ônibus que usa o cinto de segurança.

Os tipos são vários. Como diz Luis Fernando Veríssimo: ´”mais variado que baldeação em Cacequi”.

A LÓGICA DA FILA

Três guichês na rodoviária. Setor de viagens interestaduais. Fila única. 

Uma senhora se aproxima de um dos guichês e pergunta: 


- “Ainda tem passagens pra 'tal lugar'?” 


- “Sim”, responde com educação a atendente. 


- “Então, eu quero dois lugares. Bem na frente!”. 


- “Ok, senhora. Apenas aguarde a sua vez na fila.” 


Então a senhora recua, espantada e braba, e dispara: 


- “Mas aí quem estiver na minha frente vai comprar os lugares bem da frente!”

CLÁSSICOS PARA A VIDA ETERNA ESPECIAL

NEVER NEVER (1966) LOS SHAKERS

O grupo Los Shakers (Hugo Fattoruso, Osvaldo Fattoruso, Roberto "Pelin" Capobianco e Carlos "Caio" Vila)  se reuniu pela primeira vez em 1963, na boate "Hot Club", em Montevidéu. No início de 1964, depois de ouvir A Hard Day's Night, dos Beatles, decidiram mudar de estilo e de país: foram para a Argentina.

O grupo havia conseguido um contrato com a Odeon argentina, e, de início, não causaram muito impacto. Tudo mudou, entretanto, com o lançamento de duas composições próprias, "Break it all" e "More" (1965). 

Com o sucesso, vieram apresentações na televisão, shows e o primeiro álbum do grupo, denominado The Shakers. O grupo chegou a lançar um disco nos Estados Unidos (Break it all) e mais um na Argentina (Shakers for you). 

No Brasil, o álbum "Shakers for you" teve um razoável sucesso, e "Never Never" foi um hit nas paradas brasileiras. Chegaram a se apresentar em shows ao vivo na TV Record. O grupo acabou em 1969, quando estavam radicados na Espanha. Os irmãos Jorge e Hugo criaram o OPA Trio nos anos 70, quando estavam nos EUA.

Há exatamente um ano (29/7/12), Jorge Osvaldo Fattoruso morria em Montevidéu, vítima de câncer, aos 64 anos. O vídeo abaixo é uma homenagem do músico uruguaio Pablo Nash a Osvaldo.


I am not the only one who looks for you 

Never, never, never 
Never been the only one 
I have ever asked you to be true to me 
ever, ever, ever 
I have ever asked you 
I want you to tell all your feelings about me 
And never, never, never lie to me 
Now, we’re through so let’s remind the things we’ve done 
And never, never, never, never 
Never, never, never 
They will come again 
(Marimbo?) > solo 
I want you to tell all your feelings about me 
And never, never, never lie to me 
Now, we’re through so let’s remind the things we’ve done 
And never, never, never, never 
Never, never, never 
They will come again




DE RÁDIO

Ouvi agora há pouco no rádio...

- Um ônibus que transportava peregrinos que participaram da Jornada Mundial da Juventude sofreu acidente na Via Dutra, na parte paulista. Dez pessoas ficaram feridas, entre elas um padre.

FRASE DO DIA

"Não se pode ter tudo.... onde você guardaria?" 
Steven Wright

domingo, 28 de julho de 2013

J. J. CALE

J. J. Cale ficou mais conhecido pelo grande público por seus trabalhos com Eric Clapton e por "Cocaine", uma daquelas músicas que as pessoas adoram sem nem saber por quê, na maioria das vezes. Na verdade, o guitarrista foi um grande compositor, e vários hits gravados por inúmeros astros do rock são de sua autoria. 

Para homenagear J. J. Cale, falecido ontem aos 74 anos, um vídeo de Carlos Santana, interpretando "The Sensitive Kind" (com vocal de Alex Lighterwood), gravada no disco Zebop, de 1981. A curiosidade fica por conta do mexicano empunhando uma Fender Strato. 

2 LONGOS DIAS



Sinopse:  Inspirado pela obra que Quentin Tarantino, dois gangsters mantém um rapaz preso até ele revelar a localização de algo muito importante.
Diretor:  Thiago F. Santiago
Elenco:  Bruno Olivieri, Eduardo Fraga, Fabiano Xavier, Pedro Monteiro
Duração:  9 min
Ano:  2006
Formato:  Vídeo
País:  Brasil
Cor:  Colorido
Fotografia:  Firescape
Roteiro:  Thiago F. Santiago

ULYSSES

Os primeiros parágrafos de 'Ulysses', segundo os três tradutores brasileiros


ANTÔNIO HOUAISS

"Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada, com um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha. Seu roupão amarelo, desatado, se enfunava por trás à doce brisa da manhã. Elevou o vaso e entoou:

- Introibo ad altare Dei.

Parando, perscrutou a escura escada espiral e chamou asperamente:

- Suba, Kinch. Suba, jesuíta execrável.

Prosseguiu solenemente e galgou a plataforma de tiro. Encarando-os, abençoou grave três vezes a torre, o campo circunjacente e as montanhas no despertar."

Lançada em 1966, a tradução do filólogo carioca Antônio Houaiss (1915-1999) foi feita por encomenda do editor Ênio Silveira, da Civilização Brasileira, entre novembro de 1964 e outubro de 1965 - ou seja, em menos de um ano. Chegou à 17ª edição em dezembro último de 2011.


BERNARDINA DA SILVEIRA PINHEIRO

"Majestoso, o gorducho Buck Mulligan apareceu no topo da escada, trazendo na mão uma tigela com espuma sobre a qual repousavam, cruzados, um espelho e uma navalha de barba. Um penhoar amarelo, desamarrado, flutuando suavemente atrás dele no ar fresco da manhã. Ele ergueu a tigela e entoou:

- Introibo ad altare Dei.

Parado, ele perscrutou a escada sombria de caracol e gritou asperamente:

- Suba, Kinch! Suba, seu temível jesuíta!

Solenemente ele avançou para a plataforma de tiro. Olhou à volta e seriamente abençoou três vezes a torre, o terreno à volta e as montanhas que despertavam."

A professora carioca Bernardina da Silveira Pinheiro dedicou sete anos à tradução do romance, editada em 2005 pela Objetiva. A obra literária de Joyce - especialmente o épico de Bloom - a levou a pesquisas de pós-doutorado na Irlanda e na Inglaterra. Sua versão ganhou nova edição, da Alfaguara, em 2008.


CAETANO W. GALINDO

"Solene, o roliço Buck Mulligan surgiu no alto da escada, portando uma vasilha de espuma em que cruzados repousavam espelho e navalha. Um roupão amarelo, com cíngulo solto, era delicadamente sustentado atrás dele pelo doce ar da manhã. Elevou a vasilha e entoou:

- Introibo ad altare Dei.

Detido, examinou o escuro recurvo da escada e invocou ríspido:

- Sobe, Kinch. Sobe, seu jesuíta medonho.

Altivo, ele se adiantou e subiu na plataforma de tiro redonda. Olhou à volta e abençoou sério e por três vezes a torre, o campo em torno e as montanhas que acordavam."

O curitibano Caetano Waldrigues Galindo se ocupou da tradução de Ulysses por dez anos. A origem do trabalho foi sua tese de doutorado. A edição que sai agora com o selo Penguin Companhia chegou a ter alguns trechos lidos em público, nas festas do Bloomsday.

Matéria publicada em 27/4/2012 no Estadão

MICK JAGGER

Mick Jagger completou 70 anos na sexta-feira (26/7).


LEITURA DE DOMINGO

CECÍLIA MEIRELES

A tardezinha de sábado, um pouco cinzenta, um pouco fria, parece não possuir nada de muito particular para ninguém. Os automóveis deslizam; as pessoas entram e saem dos cinemas; os namorados conversam por aqui e por ali; os bares funcionam ativamente, numa fabulosa produção de sanduíches e cachorros-quentes. 

Apesar da fresquidão, as mocinhas trazem nos pés sandálias douradas, enquanto agasalham a cabeça em echarpes de muitas voltas. Tudo isso é rotina. Há um certo ar de monotonia por toda parte. O bondinho do Pão de Açúcar lá vai cumprindo o seu destino turístico, e moços bem falantes explicam, de lápis na mão, em seus escritórios coloridos e envidraçados, apartamentos que vão ser construídos em poucos meses, com tantos andares, vista para todos os lados, vestíbulos de mármore, tanto de entrada, mais tantas prestações, sem reajustamento — o melhor emprego de capital jamais oferecido! 

Em alguma ruazinha simpática, com árvores e sossego, ainda há crianças deslumbradas a comerem aquele algodão de açúcar que de repente coloca na paisagem carioca uma pincelada oriental. E há os avós de olhos filosóficos, a conduzirem pela mão a netinha que ensaia os primeiros passeios, como uma bailarina principiante a equilibrar-se nas pontas dos sapatinhos brancos. 

Andam barquinhos pela baía, com um raio de sol a brilhar nas velas; há uns pescadores carregados de linhas, samburás, caniços, muito compenetrados da sua perícia; há famílias inteiras que não se sabe de onde vêm nem se pode imaginar para onde vão, e que ocupam muito lugar na calçada, com a boca cheia de coisas que devem ser balas, caramelos, pipocas, que passam de uma bochecha para a outra e lhes devem causar uma delícia infinita. 

Depois aparecem muitas pessoas bem vestidas, cavalheiros com sapatos reluzentes, senhoras com roupas de renda e chapéus imensos que a brisa da tarde procura docemente arrebatar. Há risos, pulseiras que brilham, anéis que faíscam, muita alegria: pois não há mesmo nada mais divertido que uma pessoa toda coberta de sedas, plumas e flores, a lutar com o vento maroto, irreverente e pagão. E depois são as belas igrejas acesas, todas ornamentadas, atapetadas, como jardins brancos de grandes ramos floridos. 

Por uma rua transversal, está chegando um carro. E dentro dele vem a noiva, que não se pode ver, pois está coberta de cascatas de véus, como se viajasse dentro da Via-láctea. Todos param e olham, inutilmente. Ela é a misteriosa dona dessa tardezinha de sábado, que parecia simples, apenas um pouco cinzenta, um pouco fria. E a moça que vem, com a alma cheia de interrogações, para transformar seus dias de menina e adolescente, despreocupados e livres, em dias compactos de deveres e responsabilidades. É uma transição de tempos, de mundos. Mas os convidados a esperam felizes, e ela não terá que pensar nisso. Ela mal se lembra que é sábado, que é o dia de seu casamento, que há padrinhos e convidados. E quando a cerimônia chegar ao apogeu, talvez nem se lembre de quem é: separada dos acontecimentos da terra, subitamente incorporada ao giro do Universo.

FRASE DO DIA

"A única coisa que impede Deus de enviar outra inundação é que a primeira não funcionou."

Nicholas Chamfort

sábado, 27 de julho de 2013

CORREIO DO CORVO

Morre J.J. Cale, autor de 'Cocaine' e parceiro de Eric Clapton

Compositor teve um ataque cardíaco na sexta (27), segundo seu site oficial.
Músico gravou 14 discos e último trabalho foi parceria com Clapton.
Da EFE

O músico e cantor J.J. Cale morreu na sexta-feira (27), aos 74 anos, em um hospital da Califórnia (Estados Unidos) devido a um infarto, informou neste sábado seu site.

O músico, ganhador de vários prêmios Grammy e lenda do rock, foi compositor de temas como "Cocaine" e "After Midnight", que popularizou o guitarrista Eric Clapton, amigo e admirador de Cale.

O site oficial de J.J. Cale postou um comunicado no qual informa que o músico morreu na tarde da sexta-feira em um hospital da Jolla, no estado da Califórnia, por um "ataque cardíaco".

"Não são necessárias doações, mas como ele era um grande amante dos animais, se desejarem podem doar a abrigos de animais locais", diz o breve comunicado sobre sua morte.

John Weldon Cale nasceu em 1938 e em sua longa carreira gravou 14 discos de estúdio e colaborou com Eric Clapton no álbum "The road to Escondido", de 2006. Seu último trabalho de estúdio foi uma parceria com Clapton na faixa "Angel" do último álbum do guitarrista, "Old Sock"', que foi lançado no mesmo ano.

PAUTA EXTRA

Pauta Extra 13. Gravado em 26/07/2013
 

 

COVER DO SÁBADO

"Little Wing" é uma canção de Jimi Hendrix gravada no álbum Axis: Bold as Love, de 1967. Tem sido regravada por vários artistas, incluindo Stevie Ray Vaughan, Gil Evans, Derek and the Dominos e Eric Clapton, The Corrs e Skid Row, É considerada uma das canções mais regravadas do século XX.

Em 1987, Sting incluiu-a no seu terceiro disco, Nothing Like the Sun, com orquestração de Gil Evans.

AS DUAS FRIDAS


As Duas Fridas, da pintora mexicana Frida Kahlo, mostra duas Fridas sentadas em um sofá de cordas sem encosto, uma ao lado da outra, de mãos dadas, tem um céu escuro, tempestuoso, que dá ao observador a ideia de que naquele instante a artista não vislumbrava um horizonte claro. Ou seja, seu futuro era uma tempestade iminente. Além disso, o piso da obra parece sem vida, somente areia e mais nada, quase tão sem vida quanto uma das duas Fridas apresentadas acima.
 
 

As duas mulheres olham para o mesmo lugar, sustentando um olhar altivo, concentrado e enigmático. Suas peles se diferenciam pela tonalidade - uma delas é mais clara - assim como por suas expressões faciais. Outro ponto que diferencia as duas é o vestido. Aqui a peça branca, com detalhes florais em vermelho, gola alta, peitoral e mandas trabalhadas - talvez influência de uma recente viagem a Paris - apresenta uma Frida mais feminina, enquanto a outra é representada com roupas do cotidiano da artista, com cores fortes, poucos detalhes e barra enfeitada.

A exposição do coração em ambas as figuras, que se interligam por uma artéria, também chama a atenção do observador. O coração da Frida tipicamente vestida aparece inteiro, ainda que fora do corpo. Já a outra está com o coração partido. As mãos dadas mostram que a Frida de coração inteiro é quem toma conta da outra. Toda essa dor pode se tratar de um rompimento com Diego Rivera, seu marido com quem teve uma vida conturbada, e isso fica evidente pelo aparelho cirúrgico na mão da Frida feminina, enquanto suas vestes estão salpicadas com sangue.

Ficha Técnica - As Duas Fridas:

Autor: Frida Kahlo
Onde ver: Museu de Arte Moderna, Cidade do México, México
Ano: 1939
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 173,5cm X 173cm
Movimento: Arte Mexicana

FRASE DO DIA

"Um especialista é aquele que explica algo fácil de maneira confusa, de tal modo que faz você pensar que a confusão é culpa sua." 
 
 
William Castle

sexta-feira, 26 de julho de 2013

MAIS PELADOS (AS PEITOLAS)


Ermã escreve:

Então que a panfletagem política – porca e mal feita - chegou à Literatura. E como chegou em terras gringas não demora as FEMENS da nossa Republiqueta irão copiar. Saca só o último grito em New York: ler fazendo topless. ‘Pra jogar na cara da sociedade o quão iguais aos homens elas são, got it?

Lá, em New York, é possível fazer topless em qualquer lugar. Aparentemente uma lei municipal permite o ato. O quê, inclusive,  me fez pensar onde estaria, então o ‘protesto’.

[Pausa ‘pra ver se o encontro. O protesto.]

Ah! Ele não está. Porque quem quer fazer topless faz. Quem quer ler, lê. E quem quer se declarar igual aos homens, se declara.

Agora, combina qualquer duas das vontades acima e tu tem material ‘pro Instagram.

[Ou ‘prum livro da Dona Marthinha.]

 

OBRAS PÓSTUMAS

Salvo na MuiLeal, onde as pessoas escrevem “para não explodir” de tanta ideia que têm na cabeça, todo mundo que escreve, escreve para ser lido. (Na MuiLeal também, é claro). Todo artista, de uma maneira geral, quer que sua obra chegue a algum público.


Acabo de ouvir no rádio que o produtor que trabalhava com Amy Winehouse quando ela morreu disse que não vai lançar mais nada inédito da cantora. Segundo ele, não seria decente lançar algo que não tenha sido aprovado em vida pela artista. Achei bacana da parte dele.

Já ouvi que especialistas em Gershwin (o George) chegaram a duvidar da autenticidade de algumas de suas obras achadas tempos depois de sua morte devido à baixa qualidade na comparação com o restante de suas composições.


Voltando ao início. Todo artista quer que sua obra seja conhecida, mas alguns conseguem avaliar sua obra e compreender que nem tudo o que fazem é genial. Que merece, realmente, o fundo da gaveta. Para a eternidade ou para uma nova tentativa algum dia.

Eu sei que segundo essa minha lógica não conheceríamos quase nada de Kafka e outras coisas boas. Mas como saber se o artista considera a obra pronta ou não?

CONTAINERS

Algumas ideias são boas, mas nem sempre dão certo. Pode ser que um ou outro ajuste resolva os problemas. Mas acho difícil. Refiro-me aos containers de lixo da MuiLeal. Gostei da ideia. Acho bom não ter horário pra levar o lixo pra rua. Mas a execução não está legal. Acho até que estou meio isolado nessa opinião, mas acho que não está dando certo.

Muito é por causa dos usuários (que surpresa!). Alguns utilizam os containers como se fossem aquelas caçambas de tele-entulho. Outros não conseguem, por falta de força ou altura, abrir as tampas pra jogar o lixo lá dentro. Outros, por preguiça mesmo, atiram seu lixo na base dos containers.

O fedor e a sujeira perto são grandes. As calçadas ficam todas encardidas. E também agora sou obrigado a dar explicações pra catadores de lixo sobre o que tem dentro do pacote que atiro ali pra dentro.

Pro meu gosto não está bom, mas reconheço que voltar pra forma antiga de coleta seria dar um passo pra trás. Cartas para a redação.

ORGULHO

Na ZH de ontem (25/7):

Gaúcho é selecionado para testar o Google Glass
Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra...

MÚSICA NA SEXTA

José Rodrigues Trindade, o Zé Rodrix, nasceu no Rio de Janeiro em 1947. Em 2000, compôs JESUS NUMA MOTO, lançada diretamente em um CD/DVD ao vivo em 2001, no reencontro com seus parceiros Sá e Guarabyra.

Abaixo, alguns depoimentos do autor sobre a música.

Isso, quando ele parou (um motoqueiro "Hells Angel's”), tirou o capacete e era um gerente de banco, um senhor. Um senhor de quase seus 70 anos, aquela cara de gerente de banco, e estava numa moto. Aí falei para o meu filho, "Olha aí, meu filho, esse aí meteu um Marlon Brando nas ideias e saiu por aí!", exatamente onde começa a música. Então, essa característica panfletária, você pode ver nas músicas antigas e nas novas, pois nós sempre fomos gente com esse tipo de postura, panfletária, aberta, de opinião, nunca a música pela música, algo que a gente não perdeu nesses anos, e talvez aí esteja o motivo do interesse das pessoas ter permanecido.

Ela foi composta em 2000, a partir da imagem de Jesus dirigindo uma moto. No momento, ela vem se tornando hino dos grupos de motoqueiros brasileiros. Cada vez mais cantada por eles em seus eventos. Não acredito em sonhos, a não ser quando estou dormindo. Por isso, creio que JESUS NUMA MOTO é apenas um retrato das pessoas de minha geração que, após amadurecerem, se tornam capazes de ter duas vidas, sendo uma delas aquela que lhes agrada integralmente

Existe um Universo mítico que só tem concretude na musica feita no Brasil, e sendo mais transcendente que imanente, ainda assim é levado a sério, como se tivesse existência real. Passei por isso com CASA NO CAMPO; a quantidade de gente que embarcou naquele sonho, sem perceber que ele era apenas a fotografia de um determinado momento, não está no gibi. Tenho passado por isso atualmente com JESUS NUMA MOTO(...).

A imensa quantidade de motoqueiros individuais ou coletivamente organizados que está transformando a música em um hino da categoria (rsss) não dá para encarar. (Neste caso, acho que o problema está na sonoridade das palavras CELA e SELA, que cada um entende do jeito que quer, pode e consegue...)

Há quem viva de acordo com as personas estabelecidas nas músicas deste ou daquele, provavelmente porque elas decifraram dentro de seu espirito algum enigma que ele sequer sabia que lá estava. Esta é a função do artista, nascida da sua capacidade criativa e de sua maior ou menor coragem de se atirar no abismo-de-si-mesmo em busca de alguma coisa a mais. Se o artista não presta esse serviço, desbravando continentes inexplorados, o público vai ficando bobinho e sem essência, vivendo apenas da epiderme para fora, sem que haja real penetração da arte no seu eu mais interior, daí em diante reiterando ou clonando personagens e atitudes que não são verdadeiras nem mesmo para o autor da canção.

Uma impostura de parte a parte: os artistas mentem, o público se deixa enganar, e a indústria cultural continua faturando. Cada vez menos, é verdade, porque aquilo que não se instala profundamente no público se torna apenas descartável, dando ao púublico a sensação de que TODA MUSICA É DESCARTÁVEL, já que vazia de significado e incapaz de penetrar em seu espírito. Do outro lado, temos as músicas comerciais que se pretendem profundas, mas não o são, fingindo uma importância e um valor que não têm, mas do qual se arrogam através do artifício da pretensa "qualidade", sem fundamento nem realidade alguma. Em todos os lados, o que vemos é apenas o culto à personalidade, sem que as obras o justifiquem. Artistas também se tornam descartáveis, uma espécie de ex-BBB com cachê cada vez menor, e nunca compreendem que foi exatamente a sua maneira equivocada de agir em relação à música que os transformou em pálidas sombras de si mesmos.

  
Jesus numa Moto
Zé Rodrix
  
Preso nessa cela
De ossos, carne e sangue
Dando ordens a quem não sabe
Obedecendo a quem tem.

Só espero a hora
Nem que o mundo estanque
Prá me aproveitar do conforto
De não ser mais ninguém.

Eu vou virar a própria mesa
Quero uivar numa nova alcateia
Vou meter um Marlon Brando" nas ideias
E sair por aí.

Prá ser Jesus numa moto
Che Guevara dos acostamentos
Bob Dylan numa antiga foto
Cassius Clay antes dos tratamentos

John Lennon de outras estradas
Easy Rider, dúvida e eclipse
São Tomé das letras apagadas
E arcanjo Gabriel sem apocalipse.

Nada no passado
Tudo no futuro
Espalhando o que já está morto
Pro que é vivo crescer.

Sob a luz da lua
Mesmo com sol claro
Não importa o preço que eu pague
O meu negócio é viver.

Eu vou virar a própria mesa
Quero uivar numa nova alcateia (nova alcateia)
Vou meter um Marlon Brando" nas ideias
E sair por aí.

Prá ser Jesus numa moto
Che Guevara dos acostamentos
Bob Dylan numa antiga foto
Cassius Clay antes dos tratamentos.

John Lennon de outras estradas
Easy Rider, dúvida e eclipse
São Tomé das letras apagadas
E arcanjo Gabriel sem apocalipse.