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domingo, 31 de março de 2013

LEITURA DE DOMINGO

O NOVO MERCADO SEXUAL

Nélson Motta

O jogo virou, de antigas oprimidas dos anos 60, chamadas por John Lennon de "o crioulo do mundo" em "Woman is the Nigger of the World", as mulheres avançaram pelas trilhas abertas pelo feminismo e hoje são presidentes, secretárias de Estado, ministras, comandantes de jatos, de batalhões militares e de grandes grupos econômicos, jogando futebol, dirigindo filmes e dando aulas de todos os assuntos, elas estão em toda parte, até na frente de combate. Mas continuam reclamando.
Pesquisas recentes mostram que nos Estados Unidos, onde elas têm mais poder, dinheiro, independência e liberdade do que nunca, as mulheres estão mais insatisfeitas agora do que nos anos 60, porque, com tantas opções, escolher ficou muito mais difícil. E como Freud já sabia, nunca se sabe o que quer uma mulher. Até o sonho da maternidade balança, algumas já admitem que seria melhor não ter tido filhos, ou que foram eles que destruíram a sua felicidade.
São muitas as Marias hoje em dia, da clássica "Maria-Gasolina", com sua atração irresistível por carros, à moderna "Maria-Chuteira", que acompanhou a evolução sociopatrimonial dos jogadores de futebol. Agora a antropóloga Miriam Goldenberg fala do florescimento nos meios universitários da "Maria-Apostila", que manda recados safados aos professores nas apostilas e no Facebook, tipo "Vai ao barzinho hoje ? Se for, vou sem calcinha". Competindo para ver quem pega mais professores, as "Maria-Lattes", como a famosa plataforma de currículos acadêmicos, valorizam tanto a quantidade quanto a qualidade.
As mulheres passivas, à espera do chamado dos homens, estão saindo de cena. Estamos na era da periguetes, das roupas curtas e justas em corpos sarados, partindo para o ataque e invertendo os papéis de gênero, intimidando e provocando desconforto nos homens. Embora ainda continuem esperando um telefonema no dia seguinte.
Nas pesquisas de Miriam ficou claro que, com essa troca de papéis, os homens estão apavorados. E as mulheres, desesperadas. Assim como na economia, a lei da oferta e da procura vale para o mercado sexual: quando a oferta cresce, a procura amolece.

PENSAMENTO DO DOMINGO


"A ocasião não faz o ladrão, faz o roubo. O ladrão já nasce feito."

Machado de Assis

DAS MADRUGADAS


Bread - Guitar Man (1972)

Who draws the crowd and plays so loud,
Baby it's the guitar man
Who's gonna steal the show, you know
Baby it's the guitar man,

He can make you laugh, he can make you cry
He will bring you down, then he'll get you high
Somethin' keeps him goin', miles and miles a day
To find another place to play

Night after night who treats you right,
Baby it's the guitar man
Who's on the radio, you go listen
To the guitar man

Then he comes to town, and you see his face,
And you think you might like to take his place
Somethin' keeps him driftin' miles and miles away
Searchin' for the songs to play

Then you listen to the music and you like to sing along,
You want to get the meaning out of each and ev'ry song
Then you find yourself a message and some words to call your own
And take them home

He can make you love, he can get you high
He will bring you down, then he'll make you cry
Somethin' keeps him movin', but no one seems to know
What it is that makes him go.

Then the lights begin to flicker and the sound is getting dim
The voice begins to falter and the crowds are getting thin
But he never seems to notice he's just got to find
Another place to play,
(Anyway got to play, anyway got to play)

(Neither way got to play, neither way got to play)

SÓ EU MESMO


Consta que na MuiLeal tem um bar (ou tinha, se ainda não foi dilapidado pelos frequentadores) onde além de bebidas e acepipes, vende-se também a mobília do local.
É um lugar que as pessoas adoram frequentar. Não pelo seu ambiente (que deve estar cada vez mais Zen) ou pela cerveja gelada, mas para poderem dizer que vão em um bar onde se vende a mobília.
Fico imaginando a satisfação de algum deslumbrado frequentador ou frequentadora que deve contar sempre uma mesma história: “Comprei um abajur ma-ra-vi-lho-so! Só eu mesmo, sair do bar com abajur, hahaha...".
Eu prefiro tomar cerveja em bar, mas cada um consome o que quiser. Mas fica, pra mim, um trechinho da frase acima: “Só eu mesmo”.
O ser humano passa a vida tentando se juntar nos mais diversos bandos: um time de futebol que os una, um partido político, um tipo de música, um bar que venda a mobília, enfim... E depois passa a vida tentando ser diferente do resto do bando. Se todo mundo frequenta o bar pra beber, eu frequento pra levar as cadeiras. Se a turma faz churrasco nos domingos, eu resolvo que como só alface e torço pra ser convidado pro evento carnívoro pra comer as saladas todas (muita maionese, sempre).
É claro que as pessoas não são iguais. Mas tem coisas que parecem fora de lugar e se fossem feitas no anonimato não teriam graça. O bacana das férias não é ir pra Europa, é colocar, na volta, uma foto como proteção de tela na frente do Coliseu.

LUIGGI PERGUNTA


Existe chinelagem maior do que ler o jornal no mercado e devolvê-lo pro lugar como se nada houvesse acontecido?

sábado, 30 de março de 2013

PENSAMENTO DO DIA

"Não tem nada mais sozinho do que ser inteligente."
Sérgio Sampaio

DAS MADRUGADAS


-O que eu fiz da minha vida?
Eu mal conseguia manter os olhos abertos. A mulher do Paulo dormia num sofá. Tiago dançava com uma garrafa de conhaque apertada contra o peito. (...).
-Eu sou um merda! – gritara Paulo, sem largar o meu rosto.
- Merda sou eu! – gritara o Tiago. – Sabe o que que eu sou?
- Merda sou eu! – insistia Paulo.
- Sabe que eu sou? Um fracassado.Pronto.
- Merda sou eu!
- Eu sou um merda fracassado. Sou mais merda que você.
Paulo largara meu rosto e agarrara a cabeça de Tiago.
- Eu sou mais merda que vocês todos!
- Por quê?
- Porque eu era melhor do que vocês todos. Eu era o melhor de todos! Pra vocês chegarem a merda, não precisou muito. Eu, sim, tive que cair. Eu é que sou mais merda.
Tiago viera apertar meu rosto e pedir minha opinião, depois de jogar a garrafa de conhaque longe.
- Daniel, quem é o mais merda?
Mas eu não estava em condições de fazer um julgamento objetivo. Éramos todos merdas. (...).

Trecho de "O Clube dos Anjos" - Luis Fernando Veríssimo - 1998

DAS MADRUGADAS

Do recém citado e certeiro Caetano Veloso:

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."

TARANTINO

Aos 50 anos, Quentin Tarantino se vê como um "realizador de dramas"

Ana Maria Bahiana
Do UOL, em Los Angeles 

Quentin Tarantino faz o sinal de paz ao receber o Oscar de melhor roteiro original por "Django Livre" 
São 50 anos de vida e 30 anos desde o primeiro filme como realizador, o incompleto “Love Birds in Bondage”, destruído, dizem as lendas, por seu ex-parceiro e ex-amigo, o falecido Scott Magill.  São também 21 anos desde “Cães de Aluguel”, sua estreia como diretor, 19 desde que “Pulp Fiction” sacudiu a Croisette, arrebatou uma Palma de Ouro, um Oscar e um Globo de Ouro e nove longas que introduziram um novo termo na linguagem do cinema: tarantinesco.

Autodidata -- “não fiz faculdade de cinema, vi filmes. O cinema me ensinou cinema” --, absolutamente passional sobre seu ofício, desconfiado das novidades tecnológicas -- “digital me dá sempre impressão de coisa feita para TV”-- Quentin Jerome Tarantino, de Knoxville, Tennessee, trouxe um vigor pop para a cena do cinema independente que se desenhava em meados dos 1990, e apresentou e reapresentou a novas gerações gêneros de outros tempos e nacionalidades: filme noir, blaxploitation, ação wuxia chinesa, terror slasher, faroeste espaguete, ação-aventura de guerra.

No processo, reinventou a carreira de John Travolta (“Pulp Fiction”), prestou a devida homenagem à diva black Pam Grier (“Jackie Brown”), transformou Uma Thurman numa heroína de ação (“Kill Bill 1”, 2 e o 3, que vem aí), lançou o austríaco Christoph Waltz em Hollywood (e no meio de uma chuva de prêmios -- “Bastardos Inglórios”, “Django Livre”) e resolveu de modo muito pessoal a antiga tensão entre comércio e arte que está na base do cinema, especialmente do cinema americano. “Eu ainda não esgotei a visitação aos meus gêneros favoritos”, ele diz. “Ainda há muito que fazer.”

Um balanço dos 50 anos de Quentin Tarantino, por ele mesmo.

A melhor coisa de fazer 50 anos:É bom não ser mais considerado um garoto. Quando eu comecei, quando “Cães de Aluguel” foi lançado, tudo o que diziam e escreviam sobre mim era para me chamar de garoto, de adolescente, que eu tinha aprendido cinema na videolocadora, etc. É bom saber que pelo menos agora eu tenho mais a oferecer.

O que aprendeu com a maturidade:Eu comecei a acreditar em vidas passadas os últimos dez anos. Sempre pensei nisso, mas de uns anos para cá eu realmente me convenci que isso existe. Como tudo comigo eu não estou cem por cento comprometido com o conceito mas… eu não me surpreenderia se isso fosse verdade. Eu acredito que é inteiramente possível.·         

O que mudou ao longo desses anos:Nada no mundo mudou ao ponto de afetar minha arte. Nada, nada, nada. Minha arte, minha voz, minha imaginação, meus personagens, meu modo de contar histórias, tudo isso vai por onde eu quero que vá independente do que acontece no planeta Terra. Isso é meio parte do meu trabalho, não é?

Como vê sua filmografia:Eu, pessoalmente, me vejo como um realizador de dramas. Na minha cabeça, meus filmes são todos dramas que têm elementos de comédia, algumas vezes. Mas não me importo quando dizem que sou um diretor de gêneros. Porque para mim todo filme é um filme de gênero. Para mim, um filme de Eric Rohmer é um filme de gênero. Se você faz um filme como os dele você está fazendo um filme no gênero Eric Rohmer. Mesma coisa com John Cassavetes. E eu mais que ninguém sei disso porque sou responsável por ter tornado Eric Rohmer um dos diretores franceses mais populares de Manhattan Beach, no tempo em que eu trabalhava na videolocadora!

O que ainda quer fazer no cinema:Eu sempre quis fazer um faroeste espaguete e finalmente consegui! Um faroeste espaguete a meu modo, é claro. Acho que eu gostaria de fazer um musical. Às vezes eu penso nisso. Por outro lado, todos os meus filmes são de certa forma musicais, ou pelo menos têm grandes cenas musicais. Eu gosto de usar música do meu modo, sem estar preso a convenções. Imagino que poderia fazer um musical tipo jukebox com um monte de canções que eu conheço e ir compondo a história a partir delas…

O que ninguém ainda entendeu sobre ele:Eu já era um especialista em cinema quando fui trabalhar na videolocadora. As pessoas não se tocam disso. Eu fui trabalhar na videolocadora porque eu era um especialista em cinema. Mas na verdade, quanto mais o tempo passa, mais eu me considero um historiador do cinema do que propriamente um especialista.

A violência em seus filmes:Eu não acho que as pessoas vão ver meus filmes por causa da violência. Elas não vão para ver a violência nos meus filmes. Elas não vão porque eu dirigi uma série de cenas sensacionalisticamente violentas nos meus filmes. Ou pelo menos não vão só por isso… Elas vão por causa do meu diálogo, por causa dos meus personagens, os corações dos meus personagens e a humanidade nos corações dos meus personagens.

Do que mais tem orgulho:Eu tenho muito orgulho das minhas personagens femininas. Eu acho que elas são extremamente femininas, elas falam como mulheres, agem como mulheres e se defendem. Elas não têm medo de atacar para se defender. Não são indefesas, são valentes. E mulheres são assim. Eu mudo o adversário, o local, o vilão, o monstro, dou a elas armas diferentes e soluções diferentes, mas em comum todas elas têm essa força interior que eu acho, na verdade, extremamente feminina e extremamente humana.

sexta-feira, 29 de março de 2013

DE RÁDIO


“Ema, Ema, Ema: Cada um com seus pobrema”. Era o que costuma dizer um antigo colega de trabalho. Assim mesmo: "seus pobrema".
Todo feriado e vésperas de feriado é a mesma choradeira no rádio: “Estamos aqui trabalhando apesar do feriado”. O choro é livre, eu sei. E cada um defende a si e sua classe como puder. É natural. Mas me aborrece o choro de um profissional que está onde tanta gente gostaria de estar. Será que não sabiam que rádio funciona 24 horas e todos os dias?
E a moda agora não é ser feliz? Que busquem sua felicidade, estes descontentes. Que larguem seus brutais empregos que os fazem trabalhar nos feriados e vão fazer outra coisa. Motoristas de ônibus, quem sabe? Opa, essa profissão trabalha em feriado também. Enfermagem? Medicina? Também não dá. Restaurante? Poxa vida, também funciona feriado. Segurança? Não. Comércio? Perigo!, muitos já trabalham em domingos e feriados. Guarda costeira? Polícia Militar? Não. Feirante? Setor de serviços? Profissional liberal? Também pode ser que apareça um trabalho em feriado.
Uma boa alternativa é trabalhar em uma fábrica. Mas na linha de produção. Trabalhador entra seis ou sete horas da manhã, mas sabe que tem hora pra ir pra casa e a certeza que não terá o desgosto de trabalhar em um feriado. Acho que todos queixosos serão muito felizes então.
Bom feriado a todos.
Luiggi

PENSAMENTO DO DIA

"Caos no meio do caos não é divertido, mas caos no meio da ordem é."
Steve Martin

MÚSICA NA SEXTA


O mundo perdeu mais um contador quando Francisco José Itamar de Assumpção largou o segundo ano do curso de Ciências Contábeis para se dedicar ao teatro e à música em Londrina/PR. Nascido em Tietê, interior de São Paulo, cresceu ouvindo os batuques do terreiro de candomblé no quintal de sua casa.
Tocou baixo na banda Sabor de Veneno, que acompanhava Arrigo Barnabé, e junto com este e outros participou da chamada Vanguarda Paulista.
Sobre crítico e produtores de gravadoras dizia que "Se tivesse que ouvir conselho, pediria ao Hermeto Pascoal”.
Sobre o rótulo de “maldito”, costumava falar que “maldição” era não entender a música dos outros.
O álbum "PretoBrás", lançado em 1998, foi último trabalho do músico.
É difícil pensar em Itamar Assumpção sem pensar em “Nego Dito”, música de seu primeiro disco – “Beleléu, Leléu, Eu” -, lançado em 1980 com sua banda “Isca de Polícia”.
NEGO DITO
Meu nome é
Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Eu me invoco eu brigo
Eu faço e aconteço
Eu boto pra correr
Eu mato a cobra e mostro o pau
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Tenho o sangue quente
Não uso pente meu cabelo é ruim
Fui nascido em Tietê
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Não gosto de gente
Nem transo parente
Eu fui parido assim
Apaguei um no Paraná, pá, pá, pá, pá
Meu nome é Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Quando tô de lua
Me mando pra rua pra poder arrumar
Destranco a porta a pontapé
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Se tô tiririca
Tomos umas e outras pra baratinar
Arranco o rabo do satã
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Se chamá polícia
Eu viro uma onça
Eu quero matar
A boca espuma de ódio
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Se chamá polícia
Eu vou cortar tua cara
Vou retalhá-la com navalha


JESUS NO XADREZ

Pra não dizer que não falamos em Sexta-Feira Santa:
Quando Palmeira das Antas,
Pertencia ao capitão “Justino Bento da Cruz”.
Nunca faltou diversão,
Vaquejada, cantoria, procissão e romaria.
Sexta-feira da paixão.

Na quinta-feira maior, no salão paroquial
Dona Maria das Dores reunia os moradores
Logo após uma pré-seleção ao lado do capitão.
Escalava-se a seleção de atrizes e atores.

O papel de cada um o capitão escolhia.
A roupa e a maquiagem eram com dona Maria.
O resto era discutido, aprovado e resolvido
Na sala da sacristia.

Todo ano tinha um Jesus, um Caifaz e um Pilatus.
Só não mudavam a cruz, o verdugo e os maus tratos.
O Jesus daquele ano, foi o Quincas beija-flor
Caifaz foi o Cipriano, Pilatus foi o Nicanor.

Duas cordas paralelas, separavam
A multidão, para que pudessem entre elas
Caminhar a procissão.
Cristo conduzindo a cruz, foi não foi advertia
Ao centurião perverso que com força lhe batia.
Era pra bater maneiro mas ele não entendia,
Devido ao grande pifão que bebeu naquele dia
Do vinho que o capelão guardava na sacristia.

Cristo dizia: - ô rapaz, vê se bate devagar,
Já to todo encalombado assim não vou agüentar.
Ta com a gota pra doer, ô tu para de bater,
Ô a gente vai brigar, jogo já essa cruz fora,
To ficando revoltado, vou morrer antes da hora
De ficar crucificado.

O pior era que o malvado fingia que não ouvia,
Além de bater com força ainda se divertia,
Espiava pra Jesus, fazia pouco e dizia:
-Que cristo frouxo é você que chora na procissão?
Jesus pelo que se sabe num era mole assim não!
Eu to batendo com pena, tu vai ver o que é bom
Na subida da ladeira da venda de Finelon,
O couro vai ser dobrado, daqui até o mercado
A cuíca muda o som!

Naquele momento, ouviu-se um grito da multidão.
Era Quincas que com raiva sacudiu a cruz no chão,
E partiu feito maluco pra cima de Bastião.
Se travaram no tabefe ponta pé e cabeçada...
Madalena levou queda, Pilatus levou pancada,
Deram um bufete em caifaz que até hoje não faz
Nem sente gosto de nada.

Desmancharam a procissão, o cacete foi pesado,
São Tomé levou um tranco que ficou desacordado,
Acertaram um cocorote na careca de Timóteo
Que até hoje é aluado.

Até mesmo São José, que não é de confusão,
Na ânsia de defender o filho de criação,
Aproveitou a garapa pra dar um monte de tapa
Na cara do bom ladrão.

A briga só terminou quando o doutor delegado,
Interviu e separou cada santo pro seu lado.
Desde que o mundo se fez, essa foi a primeira vez
Que cristo foi pro xadrez mas não foi crucificado.

CHICO PEDROSA, pelo Cordel do Fogo Encantado.

quinta-feira, 28 de março de 2013

PERGUNTA DO DIA

"O macaco melhorou ou foi o homem que piorou?"

Carlos Heitor Cony

O BARRO DA VIDA

Kevin recebeu um e-mail de um amigo que mora no centro da cidade

Fui almoçar em um bifê aqui perto. Público variado: peões, secretárias, executivos... Mas predominando senhoras decadentes (e nesta região tem muito disso). É clima de guerra, amigo. Disputa por espaço no bufê. Disputa por mesas. E as pessoas vão pra liquidar com o restaurante.

Só eu (sem exagero) tinha somente um prato na mesa (arroz, feijão, massa, carne de panela, batata-doce, molho de guisado, nenhuma salada). As pessoas tinham TRÊS pratos na mesa: um com arroz, feijão, massa, bolinhos etc., outro só de carnes (costela, bife à milanesa, chuleta de porco) e outro de frutas. Todos pratos grandes, não os pequenininhos (estes vinham com salada de batata, e podemos considerá-lo um quarto prato). E todos transbosdando. Todo mundo tomava cafezinho na saída, e se o restaurante oferecesse mais alguma coisa de graça, ia também... Que côsa... Não me considero um inocente, mas fiquei impactado...

P. S.: Esqueci de contar a maior. Um sujeito se serviu de montão no bufê e pediu pra garçonete um ovo frito. Ela diz que vai mandar fazer e anota R$ 0,50 na comanda do querido. Ele protesta: “Como assim?” Ela responde: “Ovo não tem no bufê.” E o argumento dele, triunfante, pra não ser cobrado pelo ovo: “Mas eu não peguei feijão!" O barro da vida...

NÃO PODERIA MORRER SEM SABER

Com camisa transparente, Nanda Costa circula toda sorridente por aeroporto

(globo)

LACRARAM AS UVAS


Comentei semana passada aqui sobre uma mania feia que algumas pessoas têm, no mercado, de, cada vez que passam por um cacho de uvas, arrancar algumas e sair comendo tranquilamente.

Mesmo não sendo um grande apreciador da fruta – sinceramente prefiro o seu sumo fermentado – , já tive vontade de comprar um cacho ou dois. Mas aquela cena dos pobres cachos magoados, aviltados, conspurcados, maculados, invadidos, profanados, me afastava um pouco da ideia.

Pois, agora, da mesma maneira que a gente coloca os discos na prateleira de cima pras crianças não mexerem, um pano sobre a carne pras moscas não avançarem, a comida dentro do forno pro cachorro não avançar, passaram a lacrar as uvas.

Ainda existem os cachos à mercê dos dedos escrutinadores do mercado, mas quem quiser comer uma uva que não tenha sido vítima da gula de ninguém já pode. Claro que alguns consumidores ilegais meterão os dedos pelas frestas da caixa pra roubar alguma. Mas aí vão ter que escorar a cuia em algum lugar, vão precisar de outra pessoa pra segurar a garrafa térmica e ainda cuidar para que a bolsa de pano não vire. Ou seja, uma trabalheira. E aí já é demais.

DAS MADRUGADAS

"You can't always get what you want." (Você não pode ter sempre o que quer.)

Filósofo Jagger

O MAPA


Ainda em tempo de prestar homenagem aos 241 anos da Muileal.

O Mapa

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse meu corpo!)
Sinto uma dor esquisita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita
Tanta nuança de paredes
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...



Mário Quintana - Apontamentos de História Sobrenatural - 1976

quarta-feira, 27 de março de 2013

FRASE DO DIA

"Violência é uma das coisas mais divertidas de se  assistir."

Quentin Tarantino

POLÊMICA

Lech Walesa diz que minoria gay "persegue e castiga" heterossexuais

O líder sindical Lech Walesa foi premiado pela luta a favor dos direitos dos trabalhadores e contra a opressão do regime comunista.

 
O prêmio Nobel da Paz e ex-presidente polonês Lech Walesa disse que suas opiniões sobre a homossexualidade levaram ao cancelamento de suas duas conferências nos Estados Unidos, o que demonstra que a minoria gay é "efetiva" e "persegue e castiga a maioria".

Walesa, considerado o herói na luta contra o comunismo e símbolo da chegada da democracia à Polônia, disse há algumas semanas que os homossexuais "deveriam se sentar na última fila do Parlamento ou até mesmo atrás de um muro", e não pretender impor suas posturas minoritárias frente à maioria da população.

Em entrevista à emissora "RMF", Walesa lamentou hoje que as declarações tenham levado ao cancelamento de duas conferências nos Estados Unidos e que ele tenha deixado de ganhar US$ 70 mil.

O político se considera uma "vítima" do "lobby gay", que acusa de "usar sua influência diretamente" contra ele e de ser uma força que se baseia "na dor e no ressentimento".
Após as declarações polêmicas, várias organizações de gays e lésbicas o acusaram de ser um inimigo das minorias, de representar a extrema direita e de ser um antidemocrata.


"Têm que fazer alarde (de sua tendência sexual) diante da maioria?" questionou novamente hoje o político polonês, se referindo à parada anual do orgulho gay em Varsóvia e outras cidades do mundo. "Deveriam ser recatados, se fechar a sua intimidade, não mostrar (sua sexualidade)", queixava-se o ex-líder do Solidariedade.
A Polônia é um dos países mais conservadores e católicos da Europa, embora, paradoxalmente, seu Parlamento tenha um deputado abertamente homossexual, Robert Biedron, e um parlamentar transexual, Anna Grodzka, ambos do partido anticlerical Movimento Palikot.

Lech Walesa, que tem oito filhos e é reconhecidamente um católico praticante, foi o primeiro presidente da Polônia democrática e suas opiniões ainda são referência para grande parte da sociedade polonesa.

GRANDES FRASES DE GRANDES FILMES


                                                  “Is it safe?” (É seguro?)

Dr. Christian Szell (Laurence Olivier) para Thomas "Babe" Levy (Dustin Hoffman)
Marathon Man – Maratona da Morte - 1976

terça-feira, 26 de março de 2013

FALÊNCIA

Cantora Dionne Warwick declara falência nos EUA

Folha de S. Paulo

 Jonathan Alcorn/Reuters 
A cantora de soul Dionne Warwick, 72, entrou na última quinta-feira (22) com um pedido de falência na Justiça norte-americana. De acordo com a revista "Rolling Stone", ela deve impostos acumulados desde a década de 1990.
No pedido de falência, a cantora, que é prima de Whitney Houston (1963-2012), alegou que não consegue fazer apresentações suficientes para pagar os débitos.
O pedido foi feito em 21 de março, junto à Corte de Falências de Nova Jersey, Estado onde ela nasceu e vive atualmente. Ela citou um patrimônio total de US$ 25,5 mil e um passivo superior a US$ 10,7 milhões -- quase todo em dívidas tributárias com o Serviço Interno de Arrecadação (a Receita Federal dos EUA) e com o Estado da Califórnia.
Segundo o advogado da cantora, Daniel Stolz, um ex-empresário de Warwick teria administrado mal as finanças dela e criado dívidas. Ainda segundo a defesa, as multas recebidas nos últimos 15 anos fizeram com que a dívida tenha ficado impagável.
Em 2012, a cantora chegou a ser listada como umas das 500 pessoas que mais deviam taxas e impostos no estado americano da Califórnia.
 Jonathan Alcorn/Reuters 

PROMESSAS, PROMESSAS...

Luan Santana anuncia aposentadoria após passar mal em show

COPA 2014


Na Copa de 2014 não será permitido fumar nos estádios. Mas a cerveja estará liberada. Se até lá não inventarem o bêbado passivo...

LUIGGI ADVERTE


Um enochato é pior coisa pode lhe aparecer pela frente nesse mundo, vasto mundo. Alguém que não bebe, harmoniza, também não inspira confiança. Mas, por favor, nunca diga que um vinho é amargo. Diga que o vinho é ruim, que é uma merda, que você prefere rose e suave, que você come trufas e chá verde na Maomé. Atire a taça com o vinho no garçon (ou no parente que serviu o vinho). Quebre a garrafa conta a parede e ameace um por um no ambiente. Aos gritos. Fale mal da família dos vinicultores. Mas não diga que o vinho é amargo.  Acredite, não diga. Peça uma fanta. Xingamentos para a redação.

PENSAMENTO DO DIA

                             "De perto, ninguém é normal."
                                                               Caeteno Veloso

PRIMEIROS PARÁGRAFOS INESQUECÍVEIS

"Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo."

Gabriel García Márquez - Cem Anos de Solidão - 1967

DAS MADRUGADAS

Fugindo do padrão TOA de musicais, segue somente o vídeo (e o áudio, naturalmente), sem letra, sem trololó. Puro diletantismo. Com direito a leite de rosas sobre o piano também.

segunda-feira, 25 de março de 2013

POR FALAR EM FOTOS


A melhor coisa que já inventaram pra quem gosta de fotos são as máquinas digitais. Não falo dos puristas, que preferem o velho filme etc. Isso é outro departamento. Falo de quem gosta de tirar fotos dos parentes, das festas, das paisagens.

E a melhor coisa que já inventaram pra quem não gosta de ver fotos é a máquina digital. No tempo do filme havia um evento especial quando ele era revelado. E todo mundo era obrigado a olhar foto por foto, que chegava à sua mão já com marcas de digitais impressas com pudim. E era preciso fazer comentários, perguntar quem é esse e quem é aquela. E fazer “óóóó” pra todo pimpolho que aparecesse nas fotos. Se não ficava chato.

Agora, as fotos ficam dentro das máquinas digitais pra todo o eterno sempre e ninguém vê. Ou vão parar no Facebook ou qualquer site de hospedagem de fotos. Ou seja: vê quem quer.

É claro que você pode cair numa armadilha de um viajante orgulhoso que passou todas as fotos da viagem para um CD e aparece no churrasco já montando a televisão para que todos parem o assunto e o acompanhem foto por foto na sua viagem. E, nesse caso, nunca são 12, 24 ou 36 fotos. Tem do travesseiro em que dormiu, da flor que murchou, do pneu que desgastou, da entrada da cidade (a turma adora tirar fotos de entradas de cidade), do copo vazio de guaraná e de uma mancha num guardanapo que ficou parecida com o Felipão.

Aí dá saudade do velho filme.

LUIGGI ADVERTE



Se você não é o Einsten, e temos certeza que não é (de qualquer maneira Einsten não entendia português e provavelmente não iria gostar das traduções do Google), não tire fotos com a língua de fora ou fazendo caretas. Não é legal. Acredite.
 

FRASE DO DIA

"Tragédia é quando eu corto meu dedo, comédia é quando você cai em um esgoto a céu aberto e morre."

                                                                    Mel Brooks

CLÁSSICOS PARA A VIDA ETERNA


Sérgio Luiz Gallina

A WHITER SHADE OF PALE (1967) PROCOL HARUM

Canção de estreia da banda britânica Procol Harum, lançada em 12 de maio de 1967alcançou a primeira colocação no UK Singles Chart em junho de 1967, e permaneceu por seis semanas. Sem muita promoção, atingiu a quinta posição nas paradas americanas.
Mais de 900 gravações por outros artistas são conhecidas. A música foi incluída em inúmeras compilações sobre os sucessos da década e ainda é usada em trilhas sonoras de muitos filmes, como The Big ChillPurple HazeBreaking the WavesThe Boat That Rocked e New York Stories (Martin Scorsese). Em uma cena antológica de The Commitments (Allan Parker, 1991), um padre corrige um dos personagens que está executando a música no órgão da igreja em relação à letra e diz que é uma das letras mais horríveis que ele já ouviu. Na verdade, há quem afirme que a canção é resultado de uma grande "viagem".

Os créditos de composição originais foram somente para Gary Brooker e Keith Reid. Em 30 de julho de 2009Matthew Fisher ganhou direito aos créditos de coautoria da música em decisão unânime do Law Lords.
We skipped the light fandango
turned cartwheels 'cross the floor
I was feeling kinda seasick
but the crowd called out for more
The room was humming harder
as the ceiling flew away
When we called out for another drink
the waiter brought a tray
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And so it was that later
as the miller told his tale
that her face, at first just ghostly,
turned a whiter shade of pale
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She said, 'There is no reason
and the truth is plain to see.'
But I wandered through my playing cards
and would not let her be
one of sixteen vestal virgins
who were leaving for the coast
and although my eyes were open
they might have just as well've been closed
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And so it was that later
as the miller told his tale
that her face, at first just ghostly,
turned a whiter shade of pale