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domingo, 21 de maio de 2017

LEITURA DE DOMINGO

TEMER, MORO, OS ‘VERDADEIROS COMUNISTAS” E "AS RUAS" 

  Carlos Augusto Bissón
É preciso que haja coerência. Se eu, nós e boa parte da esquerda acreditamos que a classe média foi para a rua pedir a queda de Dilma não exatamente pela corrupção, mas por rejeição ideológica ao PT, atiçada pela imprensa num quadro de retração econômica - a qual acabou com a farra de consumo protagonizada por ela no governo Lula - então, Temer tem toda a razão, do ponto de vista dele, não do meu, friso, em não renunciar. Porque ele sabe, senti isto no depoimento dele nesta tarde (20/05), que é improvável que a chamada “massa coxinha” vá para as ruas pedir sua queda. 

O que eles queriam já conseguiram.Uma das evidências disso é que a Folha e o Estadão já se colocaram no papel de “assessores de imprensa” de Temer chamando “especialistas” para sugerir que houve “edição” nas gravações da conversa entre Joesley Batista e Temer (foto). Isso paralisa a esquerda, já que ela sempre afirmou que a imprensa faz “vazamentos seletivos” contra o PT. A direita não brinca em serviço. É verdade que em trechos fundamentais – como as menções a Eduardo Cunha – os jornais dizem que não houve cortes. Isto, porém, está no corpo da notícia, não nas manchetes. E são as manchetes que determinam a opinião pública do país.

O drama brasileiro é que, diante do mais devastador conjunto de denúncias contra o sistema político brasileiro jamais feita, é provável, infelizmente, que boa parte da população se mantenha apática – a não ser que novas revelações bombásticas alterem essa posição. Isto num momento em que as declarações do dono da JBS deixam claro que a compra de políticos no Brasil – mais de 1800, segundo Joesley - é regra, e não exceção, como quiseram nos escandalizar com aquele troço de Mensalão. 

Num momento, repito, em que os valores astronômicos envolvendo as operações de compra e suborno da JBS também escarram para a sociedade aquilo que a ironia brilhante da Denise Cogo detectou: “O empresariado brasileiro parece todo comunista, tamanha a profundidade dos laços com o setor público e a dependência do Estado. Capitalista é o povo brasileiro que tem que se contentar com o Estado mínimo que eles defendem pra nós." Sim, pois como alguém disse no Facebook, os maiores propagandistas das virtudes da livre iniciativa e do capitalismo neste país são os pequenos e médios comerciantes que pensam que são “grandes empresários” por vender cacarecos à classe C. 

O fato é que estamos diante do que os marxistas chamam de “condições objetivas” para uma reforma geral do Brasil – mas, a sociedade não se move, inclusive por falta de agenda política transformadora, a qual nem esquerda nem direita parecem interessadas em produzir. Isto, porém, já sabíamos. 

O país avacalha qualquer coisa, até Marx. Notem que, neste final de semana, já há uma certa retração na perplexidade nacional. O dólar voltou a cair, após ter sofrido a maior alta dos últimos 18 anos. Joesley negou que tivesse comprado juízes, ato de legítima de defesa, já que é com o Judiciário – peça essencial na sustentação corrupta desta pseudo-república – que ele está negociando sua delação premiada. E, por fim, o senhor Sergio Moro – que “não sabia” que Eduardo Cunha recebia mesada, mesmo preso – está liberado, enfim,diante das denúncias contra Temer e Aécio Neves, para prender Lula sem provas consistentes. Não gostou do que leu ? Eu também não. Então, vá pra rua protestar, meu caro. O Brasil precisa de você.

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