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sexta-feira, 19 de julho de 2013

O MATERIAL

“A coleta do material vai ser aqui?” “Sim”, disse eu vacilando e já prevendo o pior. 
A vida realmente é uma caixinha de surpresas. Há uma semana nem imaginava que ia precisar fazer alguns exames. Agora estava ali respondendo sobre “meu material”.

“Mas é apenas um exame de sangue, não?” “Tem um exame de urina também”. Podia ser pior, bem pior.

Mas uma situação dessas nunca é exatamente tranquila. O sujeito me entrega dois potinhos e me aponta o banheiro. “Colha o material e aguarde aqui a chamada pelo nome.” Eu juro que fui educado com ele, não tinha motivo para ele fazer aquilo comigo. “Aguardar AQUI?, nessa sala?”. “Sim, senhor, colha o material e volte aqui para aguardar a chamada pelo nome”.


Não tinha como recuar. Pelo jeito dele falar, parecia a coisa mais natural do mundo uma sala cheia de gente segurando seu material em potinhos. (Já tinha chamado meu xixi de tudo, menos de “material”.) Colhi meu material e retornei à sala de espera.
De repente dou por mim em uma sala de frente para a Avenida Independência, todo mundo caminhando na rua e eu ali de pé, segundo um pote de xixi. Por sorte, estava chovendo e carregava comigo um guarda-chuva, que hoje ganhou também o status de “esconde potinho”. Fiquei tentando especular o que cada um ali carregava no colo. Ninguém parecia incomodado com a situação. Acho que o sujeito da recepção me sacaneou.

Nunca fiquei tão feliz ao ser chamado para fazer exame de sangue e passar aquele material adiante. Quando saí, tive impressão que todo mundo tinha um sorriso no rosto. E como bom pobre que sou, voltei pra casa feliz da vida carregando uma enorme radiografia de um exame anterior.

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