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terça-feira, 19 de março de 2013

TOM ZÉ E A COCA-COLA


#Com a boca no mundo: Tom Zé e a Coca-Cola
Por Oi FM . 11.03.2013 às 16:35h
Por Marcus Preto - 
Tom Zé fez a locução em um comercial da Coca-Cola para a Copa de 2014, que entrou no ar há alguns dias. E neguinho caiu de pau em cima dele por causa disso. Li comentários nas redes sociais de gente se dizendo “chocada”, pois era “contraditório” Tom Zé fazer esse “trabalho sujo”, que “devia estar faltando dinheiro pro aluguel”, que ele “se vendeu” porque é “muito pesado” promover “o refrigerante símbolo do capitalismo”. Uma conversinha meio 1967, tipo a passeata contra a guitarra elétrica. E o pior é que não era piada. As pessoas imprimiam nessas frases um tom de seriedade, como se de fato acreditassem nelas.

A discussão gerada é rica demais – muito menos pela propaganda em si e por Tom Zé, muito mais pelo atraso e pela hipocrisia geral que ela explicita. É sempre assustador ver as pessoas jogando pedra no espelho. Atacando algo que elas também fazem diariamente. Eu mesmo, por exemplo, sou um pouco sustentado pela Coca-Cola desde que entrei nessa história de jornalismo: nunca trabalhei em nenhum veículo que se recusasse a publicar um anúncio da marca “capitalista” para pagar meu salário. Mas, na mentalidade adolescente da galera, jornalista pode tudo para viabilizar seu trabalho com a estrutura necessária – como também pode o dentista, o catador de papel, o engenheiro, o caixa de supermercado, o gerente de banco. Menos o artista. Esse tem de produzir a “grande arte” na lama. Sangrando, de preferência.
Mas a questão mais importante ainda é outra. Como eu, Tom Zé também se assustou com o delírio dessa corrente reacionária – vinda de cabeças que, em 1967, certamente também teriam atacado Caetano Veloso pela heresia de incluir a palavra “Coca-Cola” em “Alegria, Alegria”, ou chamado os Mutantes de vendidos por terem feito o jingle e atuado em uma série de comerciais da Shell.

Bem, mas eu dizia que Tom Zé também se assustou com a gritaria. E postou um texto no seu blog, como se fosse necessário explicar alguma coisa a alguém. Escreveu que, “quando o anúncio saiu na TV, imaginei que até as opiniões contrárias eram uma espécie de comemoração por eu aparecer com status de locutor de uma propaganda grande. Mas, agora, quando perco o sono por causa do assunto… Não, agora eu estou preocupado!”.

No texto (leia a íntegra aqui), Tom Zé afirma ainda que, para artistas com seu perfil, “as gravadoras são agora inalcançáveis”. E eu acrescento: para artistas inovadores e que, como ele, pretendem colocar a música adiante, andar com ela e não viver do que já fizeram no passado, as gravadoras andam impossíveis. Mas é ele que segue: “É curioso que, quando fui consultado sobre o anúncio [da Coca-Cola], nem pensei nessa probabilidade [de afrontar a opinião pública]. No ano passado, meu disco fora patrocinado pela Natura e como eu nunca tinha recebido patrocínio desse tipo – nem de nenhum outro – eu me senti como um artista levado em conta!”.
Pois é, Tom Zé! Essa é a discussão mais importante que esse seu caso com a Coca-Cola traz à tona. Tem gente que não enxerga, mas enquanto as grandes marcas estiverem ligadas apenas a nomes ultrapopulares, como cantoras de axé ou jogadores de futebol, estamos todos perdendo. É preciso que as empresas ajudem a bancar também a inteligência, a invenção, a novidade. E, ao que parece, é você quem vai ter de ensinar essa lógica a muita gente por aí. Obrigado, Tom Zé! Mais uma vez. E eu vou ali tomar uma Coca-Cola.

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