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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

MÚSICA NA SEXTA

Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, Gonzaguinha, nasceu em 1945, no Rio de Janeiro.

Em uma madrugada, Agnaldo Timóteo contou para Gonzaguinha que estava vivendo um romance perturbado com Paulo Cesar Souza (para quem Timóteo compôs “A bolsa do posto 3”, sucesso na década de 70), cheio de desencontros e brigas. Gonzaguinha escreveu, então, pensando nessa história, "Grito de Alerta", canção de uma dolorida e conturbada história de amor buscando paz.

Porém, antes de Agnaldo saber da existência da canção, Gonzaguinha a entregou para a cantora Maria Bethânia, que no ano anterior gravara com sucesso "Explode Coração", do compositor. Bethânia incluiu "Grito de Alerta" no álbum Mel, de 1979, abrindo o lado B do LP. A canção de tema homoafetivo ganhou interpretação intensa e dramática pela cantora, responsável por outras canções de personagens que se entregam intensamente ao amor, e tornou-se logo um grande sucesso dela e um dos maiores êxitos do bem sucedido álbum.

Quando Agnaldo Timóteo ficou sabendo da canção, Bethânia já tinha a gravado. Irritado por não ter sido o primeiro a gravar a canção cuja história era sobre ele, acabou sendo o segundo a gravar. Sua versão foi adicionada ao álbum Deixe-me Viver, mas não conseguiu destaque.

Sobre o episódio, Timóteo se pronunciou: “Eu fiquei pau da vida com o Gonzaguinha porque aquela história era minha, eu deveria ter sido até parceiro dele na música. Eu falei: Puta que pariu, Gonzaguinha, então eu te conto uma história de minha cama e você dá a música para a Bethânia gravar!?”

No ano seguinte foi Gonzaguinha quem a gravou no seu álbum 'De Volta ao Começo'.



Grito de Alerta
Gonzaguinha
  Primeiro você me azucrina
 Me entorta a cabeça
 Me bota na boca
 Um gosto amargo de fel...
  Depois
 Vem chorando desculpas
 Assim meio pedindo
 Querendo ganhar
  Um bocado de mel...
 Não vê que então eu me rasgo
 Engasgo, engulo
 Reflito e estendo a mão
 E assim nossa vida
 É um rio secando
 As pedras cortando
 E eu vou perguntando:
 Até quando?...
São tantas coisinhas miúdas
 Roendo, comendo
 Arrasando aos poucos
 Com o nosso ideal
 São frases perdidas num mundo
 De gritos e gestos
 Num jogo de culpa
 Que faz tanto mal...
  Não quero a razão
 Pois eu sei
 O quanto estou errado
 E o quanto já fiz destruir
 Só sinto no ar o momento
 Em que o copo está cheio
 E que já não dá mais
 Pra engolir...
  Veja bem!
 Nosso caso
 É uma porta entreaberta
 E eu busquei
 A palavra mais certa
 Vê se entende
 O meu grito de alerta
 Veja bem!
 É o amor agitando o meu coração
 Há um lado carente
 Dizendo que sim
 E essa vida dá gente
 Gritando que não.

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