Páginas

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

MAIS MÉDICOS

Carlos Augusto Bissón, no feicebúqui.




SE OS MÉDICOS CUBANOS SÃO “ESCRAVOS”, TODO FUNCIONÁRIO PÚBLICO BRASILEIRO TAMBÉM É...

O mais curioso da atitude dos médicos brasileiros que xingaram seus colegas cubanos em Fortaleza nesta semana é a visão que esses xenófobos e racistas têm do serviço público. Sim, senhores, porque é preciso deixar bem claro: os médicos cubanos são FUNCIONÀRIOS PÚBLICOS. E toda a discussão promovida pela mídia e pelos brucutus de sempre em torno dos supostos “direitos trabalhistas” desses profissionais vindos de Cuba se dá em trono da premissa equivocada de que eles são...médicos particulares, contratados pelo Governo Dilma sem direito às garantias da CLT... REPITO: eles são servidores públicos, CEDIDOS ao programa Mais Médicos. Em qualquer cedência de órgão público no Brasil, ou pelo menos, no RS, há ressarcimento à ORIGEM, a qual, muitas vezes, é responsável pelo pagamento do funcionário. É sob este prisma, portanto, que o “problema” salarial cubano deve ser visto. O Governo dos Castro tem o direito de dispor profissionalmente dos servidores, cujo estudo custeou e que emprega nos postos de saúde de lá, da maneira que for mais conveniente aos interesses do Estado. 

O que é visível é que a mercantilização da Saúde no Brasil nas últimas décadas atingiu tal ponto que muitos médicos brasileiros (suponho que não a totalidade) consideram “escravidão” trabalhar no serviço público. Mesmo que eles tenham estudado gratuitamente em universidades federais e estaduais, financiadas pelo dinheiro do contribuinte- eu e você. Alguém pode argumentar que os cubanos foram chamados de “escravos” pelos colegas brasileiros porque vivem sob a ditadura de Fidel Castro. Bem, aí é estabelecer a equivalência discriminatória entre o povo de um país e o regime político sob o qual este vive. O nome disso é fascismo. SE, porém, a questão é aquela apontada pela jornalista potiguar Micheline Borges – a de que as médicas cubanas têm cara de “empregadas domésticas” – bom, aí, temos mais um caso de discriminação social "bem" brasileiro e de, sobretudo, solidariedade de classe entre as elites, que é histórica neste país (releiam “O caso da vara”, do Machado de Assis, Roberta Flores PedrosoRoberta Eilert Barella eHelena Terra).Afinal de contas, muitos dos médicos cubanos vêm das classes pobres. A maioria dos nossos, da classe MÉDIA ALTA para cima. A mesma solidariedade, só para dar um exemplo, que falta em relação aos salários dos porteiros e seguranças de nossos prédios, devidamente terceirizados.

Mas, fiquem tranquilos. Eu não estou comparando os nossos médicos a porteiros e domésticas, ainda que a vinculação dos primeiros com a indústria farmacêutica possa ser bem mais custosa aos nossos bolsos (vou postar nos comentários o artigo de Luís Nassif sobre o tema). O que me interessa é, como escreveu o Bob Fernandes, que há 11 milhões de brasileiros vivendo em 700 municípios nos quais não há um ÙNICO médico. Eu não estou exigindo que os nossos profissionais de Saúde se metam em grotas. Isso até os políticos da oposição sabem que NÂO acontece e não vai acontecer, já que os médicos ganham bem mais do que 10 mil ou 20 mil reais oferecidos pelas Prefeituras (já repararam que não apareceu nenhum parlamentar para defender esse, com o perdão da palavra, “povo” doutor ?). O que me choca – em termos, já que estamos no Brasil - é que haja médicos nativos que lutam para que nenhum de seus colegas estrangeiros se disponha a ir até essas bibocas. Aí, é uma questão de falta da humanidade – humanidade que, se supõe, deveria estar minimamente presente nesta profissão (com compensação financeira, é claro,porque não exijo que médicos sejam santos).

P.S. A foto que ilustra a postagem é aquela que já se sabe aqui no Facebook. VEJA elogiava (1999) a vinda de cubanos para o Brasil no tempo de FHC e Serra (Ministro da Saúde) e relincha furiosamente quando isto acontece no Governo Dilma. Ou seja, o de sempre...

Nenhum comentário:

Postar um comentário