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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

DE RÁDIO

Transcorreu ontem (domingo, 25/01/2015) o Dia do Carteiro. Fiquei sabendo disso pelos elogios que o apresentador Fagundes do programa guasca da Rádio Gaúcha fez a estes profissionais. Bacana homenagear uma categoria e tal.

Mas a cantilena seguiu. E seguiu e seguiu. Eu já tinha até me desligado daquela glamurização da profissão quando ouço “O carteiro segue seu dia sem tempo para um mate!”.

Ora, que me conste poucos profissionais podem se dar ao luxo de matear no trabalho. Pense na cena: um motorista de ônibus que só sai do final da linha depois que “cevar o amargo”, como gosta de falar quem toma chimarrão. E depois aproveita a sinaleira fechada pra passar a cuia pros passageiros mais frequentes e reclamar que tem gente que tá tomando chimarrão e não tá contribuindo com o racha da erva. (As negociações com os sindicatos seriam divertidíssimas). Ou um médico que para uma cirurgia pra reclamar com a enfermeira que alguém entupiu a bomba novamente e essa situação, decididamente, não dá mais pra aturar. Os exemplos são vários. Na verdade, quem precisa das mãos pra trabalhar, não pode matear.

Mas o apresentador segue, e arremata a arenga informando que o pobre carteiro sem mate tem sua verdadeira satisfação quando leva uma notícia feliz ao destinatário.

Meio boquiaberto com o arroubo romântico, me veio à memória um antigo samba chamado “Mensagem”: “Quando o carteiro chegou, e o meu nome gritou, com uma carta na mão, ante surpresa tão rude, nem sei como pude, chegar ao portão, lendo o envelope bonito, no seu subscrito...” 

Não lembro o resto da letra (que deve ser da década de 40), mas certamente o desalmado sambista não refere que a destinatária da missiva tenha sequer oferecido um mate amargo ao carteiro. Sacanagem.

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