Páginas

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

MÚSICA NA SEXTA

José Ramalho Neto, Zé Ramalho, nasceu em outubro de 1949, na cidade de Brejo do Cruz, Paraíba.

Em 1975, gravou seu primeiro álbum, Paêbirú, com Lula Côrtes, pela gravadora Rozenblit. Durante muito tempo foi o disco (vinil) mais caro do Brasil, devido à sua raridade. A maioria dos exemplares se perdeu numa enchente na cidade de Recife.

Vai para o Rio de Janeiro com o nome de Zé Ramalho da Paraíba e começa a tocar na banda de Alceu Valença.

Há uma lenda que diz que Zé Ramalho, em uma experiência com cogumelos alucinógenos, Zé teria visto uma nave espacial e uma voz teria lhe dito “avôhai” no ouvido.

A música Avôhai, nas palavras do próprio Zé Ramalho em entrevista ao site Via Fanzine:

Quando eu fiz esta música eu criei esta palavra. Ela significa avô e pai. É uma espécie de homenagem ao meu avô, que foi a pessoa que me criou. Ele fazia o papel de avô e de pai. Meu pai morreu muito jovem, nos açudes do sertão, morreu afogado quando eu era garotinho. Então foi meu avô que me educou, foi quem me ensinou a seguir o caminho do bem, a batalhar minhas coisas. Eu me inspirei na imagem dele. E me chegou a palavra [Avôhai]... Ao mesmo tempo ela é interpretada pelas pessoas que a ouvem das mais diversas formas. É uma coisa muito mística também, representa a continuidade da espécie, ou seja, passar a sabedoria de uma geração para a outra... O avô passa para o pai, que passa para o filho e aí por diante...

A música está no seu primeiro disco, “Zé Ramalho”, de 1978. O disco tem Sérgio Dias nas guitarras e Patrick Moraz gravou os teclados em Avôhai.

Nota da Redação: Zé Ramalho sempre frisa que Chico Buarque errou o nome da sua cidade ao batizar a sua música com o nome de Brejo DA Cruz.

Nota da Redação 2: A primeira gravação de Avôhai foi feita pela cantora Vanusa, no disco “Vanusa 30 anos”, que também tem composições de Caetano Veloso, Belchior, Arnaud Rodrigues, Assis Valente e Raul Seixas.


Avôhai
Zé Ramalho 
Um velho cruza a soleira
 De botas longas, de barbas longas
 De ouro o brilho do seu colar
 Na laje fria onde quarava
 Sua camisa e seu alforje
 De caçador...
Oh! Meu velho e Invisível
 Avôhai!
 Oh! Meu velho e Indivisível
 Avôhai!
Neblina turva e brilhante
 Em meu cérebro coágulos de sol
 Amanita matutina
 E que transparente cortina
 Ao meu redor...
E se eu disser
 Que é meio sabido
 Você diz que é meio pior
 Mas e pior do que planeta
 Quando perde o girassol...
É o terço de brilhante
 Nos dedos de minha avó
 E nunca mais eu tive medo
 Da porteira
 Nem também da companheira
 Que nunca dormia só...
O brejo cruza a poeira
 De fato existe
 Um tom mais leve
 Na palidez desse pessoal
 Pares de olhos tão profundos
 Que amargam as pessoas
 Que fitar...
Mas que bebem sua vida
 Sua alma na altura que mandar
 São os olhos, são as asas
 Cabelos de Avôhai...
Na pedra de turmalina
 E no terreiro da usina
 Eu me criei
 Voava de madrugada
 E na cratera condenada
 Eu me calei
 E se eu calei foi de tristeza
 Você cala por calar
 Mas e calado vai ficando
 Só fala quando eu mandar...
Rebuscando a consciência
 Com medo de viajar
 Até o meio da cabeça do cometa
 Girando na carrapeta
 No jogo de improvisar
 Entrecortando
 Eu sigo dentro a linha reta
 Eu tenho a palavra certa
 Prá doutor não reclamar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário