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domingo, 31 de julho de 2016

DO FUNDO DO BAÚ


"Planeta: Terra. Cidade: Tóquio. Como em todas as metrópoles deste planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. E apesar dos esforços das autoridades de todo o mundo, pode chegar um dia em que a terra, o ar e as águas venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá intervir? Spectreman!" 

Era com a frase apocalíptica acima que o narrador iniciava cada episódio de Spectreman, uma série de TV de ficção-científica de 63 episódios produzida no Japão entre 1971 e 1972 e exibida no Brasil entre 1981 a 1982 pela Rede Record e 1983 até 1990 na TVS (atual SBT).

O seriado contava a luta do androide Spectreman contra o genial cientista Gori e seu divertido auxiliar, Karas — ambos simioides (homens-macaco). Além da tradicional guerra do bem contra o mal, as aventuras de Spectreman faziam com que o telespectador refletisse sobre os problemas causados pela poluição. O tema esteve presente em praticamente todos os episódios — os monstros criados pelo Dr. Gori usavam o lixo como matéria-prima.

No primeiro capítulo, um homem que caminhava pelas tumultuadas ruas da capital japonesa ouve um chamado. Imediatamente o sujeito olha para o céu e vê, entre as núvens, uma espécie de espaçonave. Por telepatia, recebe a ordem: “Spectreman, essa é a voz dos Dominantes. Prevemos uma catástrofe ecológica em plena Baía de Tóquio. Horário terrestre: 19h. Tua missão é investigar imediatamente. Lembre-se que não deves revelar tua identidade a nenhum nativo deste planeta. Estás preparado, Spectreman?” “Às ordens!”. Essa era a resposta que permitia ao aparente ser humano chamado Kenji se transformar no androide Spectreman.

Característica rara até mesmo para as séries mais recentes, as histórias de Spectreman quase sempre eram divididas em dois episódios, chamados, no Brasil, de "Primeira Parte" e "Epílogo". No final da primeira parte, o narrador chamava a atenção do telespectador para que ele não deixasse de conferir o desfecho da história, que viria a acontecer no capítulo seguinte.

A série trazia uma interessante ambiguidade,Dr. Gori justificava seus planos de invadir e dominar a Terra com um argumento muito racional e atual: os seres humanos estão destruindo o planeta com a poluição, logo, não mereciam viver nele. Gori queria extinguir a população da Terra para recriar as belezas naturais e, claro, dominar o planeta. Pensando por esse viés, ao defender a Terra dos ataques do inimigo — que criava monstros ecologicamente corretos, pois usava como matéria-prima o lixo reciclado —, Spectreman estaria, mesmo sem querer, defendendo as grandes corporações poluidoras. Na verdade, o herói tinha consciência da triste consequência de suas intervenções. Várias vezes ele deixava claro que o ser humano só tinha chance de sobreviver se cuidasse melhor do planeta. Mesmo assim, por vontade própria e também por ordem dos Dominantes, Spectreman defendia os terráqueos.

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