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terça-feira, 15 de abril de 2014

A CRÔNICA DO CAJO

Coisas sobre o aquecimento global

Dias atrás, um aluno me perguntou sobre o aquecimento global, se era ou não uma farsa. Em verdade, ele se referia a uma entrevista no Programa do Jô, no dia 02/maio/2012 (alguns meses antes do mundo acabar...), em que um professor da USP, climatologista, falava sobre a farsa do aquecimento global, no seu entender. Disse-me o aluno que ficou sem saber o que estava acontecendo e que o tal professor parecia muito convincente dada a sua convicção sobre o assunto (redundei). Resolvi assistir novamente a entrevista. E cada vez me convenço mais de que o professor é um, sei lá, não quero ofender ninguém, mas, por favor, no mínimo falta a ele honestidade intelectual. 

Vamos ao que ele disse na entrevista. Ele simplesmente disse que não existe aquecimento global (que é apenas uma hipótese, o que por si só já é besteira), que o desmatamento na Amazônia é um mito e que não provoca nenhuma influência no clima, já que a floresta mesmo desaparecendo pode voltar a se formar depois de uns 20 anos, e que a camada de ozônio não existe. Para ele, tudo isso é piada. Piada é você, professor! Todos nós somos movidos segundo certos interesses e quero saber quais são os seus. Os meus são a preocupação com aquilo que você chama de farsa. Você diz que não há problemas no desmatamento da Amazônia porque há um aquífero (Alter do Chão) e que o mesmo por si só fornece água ou pode fornecer água para a floresta. Bom, o problema é que não existe nenhuma raiz que tenha mais de 3,5 km de profundidade para atingir tal reservatório e é óbvio que não é por aí. Depois fica fazendo jogo de palavras e diz que a vegetação é o espelho do clima - coisa do século 19 - e completa afirmando que a floresta tropical existe porque chove, não chove porque tem floresta. Cruz credo! A vegetação como resultado exclusivo da ação climática é uma visão ultrapassada.

Contrapondo-se a esta visão unidirecional entende-se hoje que há uma interação entre a floresta e o clima, principalmente se levarmos em conta as florestas tropicais. Pesquisas recentes demonstraram que 75% da chuva que se precipita na floresta amazônica voltam para a atmosfera na forma de vapor juntamente com a transpiração das plantas, o que nos dá a evapotranspiração (evaporação da água do solo e a perda de água pelos vegetais). Na Amazônia, 50% da precipitação vêm da evapotranspiração e o restante dos oceanos, trazida pelos ventos alísios. Ou seja, a floresta não é conseqüência do clima e que o atual equilíbrio climático é que depende da interação entre a atmosfera e a paisagem vegetal. Assim, o desmatamento teria como consequência a diminuição da evapotranspiração e haveria uma menor quantidade de vapor d’água na atmosfera que resultaria em uma menor precipitação, prolongando os períodos com menos chuvas, trazendo déficit de água nos solos e mesmo uma maior oscilação na temperatura. Os rios voadores, expressão interessante para o fluxo de vapor de água do norte para o sul do país, trariam menos umidade para regiões que dependem dos mesmos para que chova, como na região central da América do Sul. Vejam só, se não chove, haverá menos água nas cabeceiras dos rios, e o volume dos mesmos diminuiria e muitos destes rios abastecem grandes bacias hidrográficas, inclusive a Amazônica. E o que isso provocaria? Ora, profundas alterações no regime dos rios e também no potencial hidrelétrico e em todo ecossistema hídrico das bacias atingidas. 

Cabe lembrar que no Cerrado brasileiro temos as nascentes de rios de três grandes bacias hidrográficas do país: Paraná, Amazônica e São Francisco. Mas não ficou por aí, ele disse que a camada de ozônio não existe! Ou seja, o que filtra os raios ultravioletas do sol, um Sundown fator 50? E que o efeito estufa é uma física impossível. Então alguém me explica, desenhando, se possível, como a vida pode vicejar na Terra. 

Mas o mais interessante de tudo não é isso. Em julho/agosto de 2012, um famoso cientista, talvez o mais cultuado entre os descrentes do aquecimento global, o senhor Richard Muller, publicou um estudo em que afirma que a ação humana está interferindo no planeta. A divulgação da mesma veio cerca de um mês depois que se constatou um derretimento crítico nos glaciares da Groenlândia e a redução da banquisa (água do mar permanentemente congelada). Ora, assim como a floresta tropical, as regiões polares são como se fossem um ar condicionado para a Terra. Funciona assim: durante o verão a banquisa recua, e a partir do outono, ela se expande novamente. Só que esta expansão está ficando menor em razão do efeito estufa (ah, desculpa, não existe efeito estufa). O degelo não é exclusividade da Groenlândia e ocorre simultaneamente no Alasca e no norte canadense. Com tal diminuição da quantidade de gelo, não haveria mais como controlar as temperaturas no hemisfério norte, ou seja, o gelo das geleiras/glaciares são importante controle climático.

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