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quinta-feira, 15 de maio de 2014

ÁLBUM DA QUINTA

LIMITE DAS ÁGUAS - 1976 - EDU LOBO

Limite das Águas é o décimo álbum de Eduardo de Góes Lobo, o Edu Lobo. Após quatro anos de ausência do mercado fonográfico (seu último disco de estúdio tinha sido "Missa Breve", de 1973), Edu, de volta ao Brasil, assina contrato com a Continental e lança um maravilhoso disco.


Limite das Águas, por Carlos Dalla Bernardina Júnior:

"Este disco foi criado pelo Edu depois que ele voltou de um período em Los Angeles estudando arranjo e orquestração. Mas ao contrário do que poderia se esperar, é um disco essencialmente centrado na força da canção. Por outro lado, é clara a influência que a temporada no exterior exerceu sobre seu processo criativo. É como se agora Edu fosse capaz de pensar a canção sem estar preso ao instrumento (seja o violão ou o piano – no caso dele, mais o violão), ou pelo menos, como se tivesse adquirido uma habilidade maior para desconstruir a própria idéia original a partir de um leque mais rico de possibilidades musicais, tal como o diretor de cinema que lê o roteiro original e imagina mil situações para transformá-lo em filme.

Em suma, é como se Edu tomasse consciência de que uma canção é mais um roteiro do que uma música, e que o resultado final pode ser infinitamente mais rico do que a mera sobreposição da seção rítmica e melódica à idéia musical original. Talvez neste disco Edu esteja fazendo música como quem faz cinema...

As letras tentam romper de vez com a herança bossa-novista de seu parceiro e referência de início de carreira, Vinícius de Morais. Com exceção talvez de duas faixas, “Considerando” e “Toada”, as letras tentam exprimir uma subjetividade menos linear, mais fragmentada, como que tentando transmitir a intensidade das impressões, mais do que sua síntese numa “moral sentimental da história”. Outras vezes, elas seguem o caminho oposto e assumem a figura de um narrador externo, mas ainda preferindo o relato fragmentado e “impressionado” dos fatos, jogando de forma (propositalmente) confusa com eles, como se a intenção fosse mais construir uma certa “textura simbólica”, do que contar uma história propriamente.

Enfim, este me parece um disco onde Edu se sente maduro o suficiente para permitir se perder, arriscar novos caminhos musicais, sem com isso abrir mão da unidade estética, ou perder o leme do processo criativo. Como se ele tivesse a confiança de que, ao final, ele se encontraria novamente, mas agora num novo patamar artístico."


As composições são todas de Edu, sendo três em parceria com Cacaso, três com Capinam e duas com Gianfrancesco Guarnieri. O disco conta com a participação de vários músicos de destaque e tem arranjos do próprio Edu e de Maurício Maestro. Joyce aparece em "Uma vez um caso" e Os 3 Morais em "Limite das Águas".


Lado 1
1. Uma Vez Um Caso (Edu Lobo / Cacaso)
2.Negro Negro (Edu Lobo / Capinan)
3. Considerando (Edu Lobo / Capinan)
4. Toada (Edu Lobo / Cacaso)
5. Gingado Dobrado (Nordestino) (Edu Lobo / Cacaso)

Lado 2
1. Limite das Águas (Edu Lobo)
2. Cinco Crianças (Edu Lobo / Gianfrancesco Guarnieri)
3. Segue o Coração (Edu Lobo / Gianfrancesco Guarnieri)
4. Repente (Edu Lobo / Capinan)


A música Limite das Águas, originalmente, tinha letra de Capinam, mas Edu achou a letra tão linda que recusou-se a musicá-la, publicando-a como um poema na contracapa do disco.

"Qual o limite das águas
A margem que reprime o rio
Eu digo então que os meus olhos não são olhos, são imagens
Eu digo então que as imagens não são imagens, mas visagens
E as visagens, personagens, pessoas dos olhos, passagens

Qual o limite das águas
Entre a cidade e o campo
Entre a navalha e a carne
Eu digo então que meus olhos não são olhos, são imagens
Eu digo então que imagens não são paisagens, mas viagens
Entre o que sente e o que sabe qual o limite das águas

Me dê a mão sobre as águas
Vou navegar nos seus ais
Ou nada disso limita o delírio e a razão
Que medo então nos assalta entre a calma e os temporais
Entre o terror e a ternura, entre o negror e a brancura
Entre o espaço e a ave, a tempestade e o cais
Talvez no seu coração
Eu digo então que a paixão não é paixão, é meu sangue
A incessante viagem
Eu digo então que a luz não é a luz, é ofuscante detalhe do negror
Eu digo então que a cor não é a cor, mas a luz
O outro lado da cor

Qual o limite das águas
Que dificulta o simples
Que malbarata o amor
Qual o limite das águas
Diga lá, cantador"


Edu Lobo - arranjos, voz, violão
Cristovão Bastos - piano
Rubinho - bateria
Maurício Maestro - baixo, regência 

Édson Lobo - baixo
Toninho Horta - violão
Cláudio Guimarães - guitarra
Márcio Montarroyos - trompete
Edson Maciel - trombone
Jorginho, Macaé - sax alto
Oberdan 
 sax tenor
Geraldo - sax barítono
Os 3 Morais - vocais
Gegê, Cláudio Carybé, Rubinho - percussão
Danilo Caymmi, Paulo Guimarães, Mauro Senise, Nivaldo Ornellas, Dimitri flautas
Joyce - vocais
Lindolfo Gaya, Otávio Basso - regência
Cláudio Bertrami baixo
Jacques Morelenbaum - cello
Wanda Lobo, Malu, Cybele, Ângela, Fernando Leporacecoro

Lindolfo Gaya - regência

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