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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O MUNDO TODO

Acabo de ler na ZH que é comum no mundo todo as pessoas comerem vegetais no café da manhã. Na verdade, o parágrafo começa assim: “Coma vegetais no café da manhã. Você já come frutas no café, então, por que isso seria estranho? Desjejuns baseados em vegetais são comuns no mundo todo.”

Mas que mundo todo é esse? No “meu” mundo, e no das pessoas que eu conheço, mesmo as mais extravagantes, não tem café da manhã com pepino, feijão ou rúcula.

Aliás, não só não conheço esse mundo de que me fala a matéria como não conheço muitos mundos. E pouca gente conhece mais do que um. Não me refiro a Marte ou outras galáxias distantes. Falo de qualquer favela da MuiLeal ou de qualquer cidade do planeta.

Falei AQUI semana passada sobre pessoas que atravessam o mundo atrás de um mato diferente. Essas pode ser que tenham pretensão de “conhecer o mundo”. Engano. Nunca vão conhecer o mundo. Como disse, não conhecem nem o mundo a um quilômetro da sua casa.

Pode ser que eu receba de contra-argumento que essa pessoa de vez em quando banha crianças pobres e tira delas seus piolhos, que ela invade vilas noite adentro em kombis cheias de sopa quente pra confortar as noites frias dos desvalidos. Reitero – impiedoso que sou – que isso é mais um alívio próprio, um sonrisal pra consciência, do que propriamente bondade.

Parece que o (a) jornalista escreve pensando que seus leitores vivem num mundo de telenovela ou propaganda de margarina, todos com tempo e dinheiro para um lauto café da manhã, e desconheça que na maioria dos mundos as pessoas se dão por satisfeitas com um pão com manteiga e uma caneca de café com leite.

Esses mundos diferentes convivem bem, num acordo tácito, há gerações. Mas provocação com salada de pepino no café da manhã já é demais.

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