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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

DAS MADRUGADAS

SAGARANA E MATITA PERÊ


Aos meus dezesseis anos conheci Tom Jobim, apresentado por Baden Powell, de quem eu havia me tornado parceiro. Eles, apesar de se gostarem, guardavam uma rivalidade velada. Isso pra mim não tinha a menor importância, porque eu sabia a grandeza do talento dos dois, e os considerava, já naquela época, os mais influentes compositores populares brasileiros da segunda metade do século XX. 

Nos encontrávamos sempre em reuniões musicais, cotidianamente feitas em casas de amigos como Olívia e Francis Hime, Marcos e Paulo SérgioValle, e na  do próprio Tom, na rua Codajás, no Leblon. 

Tornamo-nos amigos e companheiros de mesa de bar, em boemia de fim de tarde. O papo, além de música, é claro, era sobretudo literatura. Amávamos os autores regionais mais que os urbanos. E Guimarães Rosa acima de todos. 

Li toda obra de Guimarães dos treze aos quinze anos, com tamanha paixão, que escreveria em seu estilo, se assim o quisesse. Por conta disso, antes da parceria com Baden, fiz uma canção (um batuque mineiro) com João de Aquino, chamada "Sagarana", cujo subtítulo era "Saudação a João Guimarães Rosa". Era óbvia a homenagem. Tom não a conhecia até então. E ele estava, naquele momento, apenas mergulhado nas veredas do Grande Sertão, de onde eu já emergira.

Histórias das Minhas Canções - Paulo César Pinheiro - Leya - 1970

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