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sexta-feira, 15 de abril de 2016

MÚSICA NA SEXTA

Maurício Pereira nasceu em São Paulo, em 1959. Ao longo de sua carreira, gravou um total de oito discos, sendo dois com Os Mulheres Negras e seis discos solo, consagrando-se como um dos ícones da música independente brasileira.

Em 1985 criou, com o músico André Abujamra, a banda Os Mulheres Negras, com a qual lançou dois discos: Música e Ciência, em 1988, e Música Serve pra Isso, em 1990, ambos pela gravadora Warner e produzidos por Pena Schmidt.

No início dos anos 90, participou, como cantor, do programa diário Fanzine, apresentado pelo escritor Marcelo Rubens Paiva na TV Cultura. Lá, entre 1992 e 1995, cantou mais de 600 canções de compositores brasileiros, sempre acompanhado pela banda fixa do programa, a Banda Fanzine.

Em 1995, lançou seu primeiro disco solo e de produção independente, Na tradição, em que é o autor da maioria das composições. Em dezembro de 1996, realizou o primeiro show ao vivo via internet no Brasil.

Em 1998, lançou seu segundo CD solo, autoral, Mergulhar na Surpresa, acompanhado pelo pianista Daniel Szafran, com convidados especiais em algumas faixas.

Em 2003 gravou ao vivo, em São Paulo, acompanhado pelo grupo Turbilhão de Ritmos, seu terceiro CD, Canções Que Um Dia Você Já Assobiou - vol.1, no qual é apenas intérprete. O repertório é composto de sucessos de rádio.

Em 2007 gravou seu quarto disco, novamente um trabalho autoral, Pra Marte. É desse disco a música TROVOA, que segundo o autor é uma canção de amor que Waldick Soriano poderia ter feito.


Trovoa
Mauricio Pereira

Minha cabeça trovoa
sob meu peito te trovo
e me ajoelho
destino canções pros teus olhos vermelhos
flores vermelhas, vênus, bônus
tudo o que me for possível
ou menos
(mais ou menos)
me entrego, ofereço
reverencio a tua beleza
física também
mas não só
não só

graças a Deus você existe
acho que eu teria um troço
se você dissesse que não tem negócio
te ergo com as mãos
sorrio mal
mal sorrio
meus olhos fechados te acossam
fora de órbita
descabelada
diva
súbita…
súbita…

seja meiga, seja objetiva
seja faca na manteiga
pressinto como você chega
ligeira
vasculhando a minha tralha
bagunçando a minha cabeça
metralhando na quinquilharia
que carrego comigo
(clipes, grampos, tônicos):
toda a dureza incrível do meu coração
feita em pedaços…

minha cabeça trovoa
sob teu peito eu encontro
a calmaria e o silêncio
no portão da tua casa no bairro
famílias assistem tevê
(eu não)
às 8 da noite
eu fumo um marlboro na rua como todo mundo e como você
eu sei
quer dizer
eu acho que sei…
eu acho que sei…

vou sossegado e assobio
e é porque eu confio
em teu carinho
mesmo que ele venha num tapa
e caminho a pé pelas ruas da Lapa
(logo cedo, vapor… acredita?)
a fuligem me ofusca
a friagem me cutuca
nascer do sol visto da Vila Ipojuca
o aço fino da navalha me faz a barba
o aço frio do metrô
o halo fino da tua presença

sozinha na padoca em Santa Cecília
no meio da tarde
soluça, quer dizer, relembra
batucando com as unhas coloridas
na borda de um copo de cerveja
resmunga quando vê
que ganha chicletes de troco

lebrando que um dia eu falei
"sabe, você tá tão chique
meio freak, anos 70
fique
fica comigo
se você for embora eu vou virar mendigo
eu não sirvo pra nada
não vou ser teu amigo
fique
fica comigo…"

minha cabeça trovoa
sob teu manto me entrego
ao desafio de te dar um beijo
entender o teu desejo
me atirar pros teus peitos
meu amor é imenso
maior do que penso
é denso
espessa nuvem de incenso de perfume intenso
e o simples ato de cheirar-te
me cheira a arte
me leva a Marte
a qualquer parte
a parte que ativa a química
química…

ignora a mímica
e a educação física
só se abastece de mágica
explode uma garrafa térmica
por sobre as mesas de fórmica
de um salão de cerâmica
onde soem os cânticos
convicção monogâmica
deslocamento atômico
para um instante único
em que o poema mais lírico
se mostre a coisa mais lógica

e se abraçar com força descomunal
até que os braços queiram arrebentar
toda a defesa que hoje possa existir
e por acaso queira nos afastar
esse momento tão pequeno e gentil
e a beleza que ele pode abrigar
querida nunca mais se deixe esquecer
onde nasce e mora todo o amor

Com Wikipédia
Sugestão do leitor Pedro de Lara

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