"No planeta Marte, à margem de um mar morto, havia uma casa com pilastras de cristal, e a cada manhã era possível ver a senhora K saboreando os frutos dourados que cresciam das paredes de cristal, ou limpando a casa com punhados de poeira magnética que se grudava à sujeira e se dispersava depois no vento morno. À tarde, quando o mar fossilizado ficava quente e imóvel, as videiras se enrijeciam no quintal e a pequena e distante cidade marciana de ossos se fechava toda, sem ninguém porta afora, era possível ver o próprio senhor K em sua sala, lendo um livro de metal com hieróglifos em relevo sobre os quais passava a mão, como se toca uma harpa. E do livro, à medida que os seus dedos o percorriam, cantava uma voz, uma voz antiga e suave, que contava histórias de quando o mar banhava o litoral com um vapor vermelho e os homens punham em combate nuvens de insetos de metal e de aranhas elétricas."
Ylla (Crônicas Marcianas) - Ray Bradbury - 1950
Ylla (Crônicas Marcianas) - Ray Bradbury - 1950
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