"Durante uma hora maciça, deixou-se ficar, em pé, numa contemplação espantada.
Lá estava a mulher, de pés unidos, as mãos entrelaçadas, entre as quatro chamas dos
círios. Parentes e amigos tentavam convencê-lo: “Senta! Senta!”. Mas ele, fiel à própria
dor, era surdo a esses apelos. Como insistissem, acabou explodindo: “Não me amolem,
sim?”. E continuou, firme, empertigado. No fundo, achava que sentar, em pleno velório
da esposa, seria uma desconsideração à morta. Uma hora depois, no entanto, cansou. E
esta contingência física e prosaica fê-lo transigir. Ocupou uma cadeira entre dois
amigos. Uma senhora gorda, aliás vizinha, inclinou-se, suspirando:
— É por isso que eu não topo viajar de avião!"
Mausoléu (A vida como ela é... O Homem Fiel e outros contos) - Nélson Rodrigues - 1992
— É por isso que eu não topo viajar de avião!"
Mausoléu (A vida como ela é... O Homem Fiel e outros contos) - Nélson Rodrigues - 1992
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