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domingo, 13 de dezembro de 2015

LEITURA DE DOMINGO

“Quando Frank Sinatra morrer e for para o céu, a primeira coisa que ele fará será procurar Deus e gritar com ele por tê–lo feito careca.” (Marlon Brando)

              Texto de Anélio Barreto
Quando, no show de encerramento da Copa do Mundo, no Dodgers Stadium, em Los Angeles, os tenores Luciano Pavarotti, José Carreras e Plácido Domingo cantaram os primeiros acordes de “My Way”, os três acenaram e sorriram para um senhor de cristalinos olhos azuis sentado em uma das primeiras filas. Os olhos azuis brilharam, mas o corpo não executou todos os comandos e ele teve que ser apoiado para erguer-se e acenar de volta, retribuindo o cumprimento.

Era Frank Sinatra. Aos 78 anos, o velhinho vivia a emoção de ver–se homenageado pelos três mais disputados tenores do mundo, todos eles dando o melhor de si na interpretação de uma música que é Sinatra da cabeça aos pés.

Nada mau para um garotinho desenganado no parto e deixado de lado para morrer.

Um adolescente problemático que vivia brigando nas ruas e dizendo que seria um gângster.

Um sujeito de escrúpulos duvidosos que chegou a envolver–se com o inimigo público número um da América.

Ou para um cantor que se tornou tão formidável que é praticamente impossível apontar alguém, entre nós, nossos pais e avós, que não tenha cantarolado, ou dançado, ou namorado ao som de uma de suas canções.

Esta história real (ou uma lenda real?) começou em uma cidadezinha de Nova Jersey, ao lado do Rio Hudson, chamada Hoboken. Ali moravam, no número 415 da Monroe Street, o ex–boxeador Anthony Martin Sinatra e sua mulher, uma enfermeira e parteira, nascida Natalie Garaventi e chamada na época simplesmente Dolly, Dolly Sinatra. Os dois italianos: ele siciliano, ela genovesa.

Francis Albert Sinatra nasceu no dia 12 de dezembro de 1915. O parto foi difícil e o fórceps o marcou.

Um superbebê. Pesava seis quilos e pouco, tinha ferimentos no queixo e em uma das orelhas.

– Não acho que sobreviverá – disse o médico. – O melhor é que nos concentremos na mãe.

Rosa Garaventi, a avó, não levou o médico a sério: colocou o garotinho sob uma torneira de água fria e o choque fez com que respirasse.

Em dezembro de 1915 os Estados Unidos acompanhavam a guerra na Europa e dois anos depois entrariam nela. No cinema, chorava-se a morte de John Bunny, a primeira grande estrela da comédia americana, um abre-alas para Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd, entre outros. E, enquanto o garotinho Sinatra crescia, outro gênero de filmes ia se firmando: o de gângsteres. Muitos consideram Underworld, de 1927, o primeiro deles.

O Sinatra adolescente acompanhou as aventuras de Little Caesar, O Pequeno César, com Edward G. Robinson, em 1930, e Scarface, com Paul Muni, em 32. Na tela eles eram vistos como heróis e, para os garotos com que Frank convivia, ser gângster estava na moda. Ele chegou a declarar, muitos anos depois, que gostara daquilo e talvez tivesse levado a coisa um pouco longe demais. Queria ser considerado um bandido, e chamava gângsteres por apelidos, era grosseiro, ameaçava pessoas e procurava exibir mau-caratismo entre maus-caracteres. Falava de uma garrafa que partiu sua cabeça em uma briga de quadrilhas, e de uma corrente de ferro que quase o aleijou, mas muita gente achou aquilo papo-furado, e que tudo o que Sinatra queria era aparecer.

Ele retrucou afirmando que foram apenas a música e seu talento que o impediram de tornar–se um bandido de verdade.

Publicado em O Estado de S. Paulo em 10 de dezembro de 1995, por ocasião dos 80 anos do cantor. Confiram texto na íntegra em http://50anosdetextos.com.br/2010/sinatra/

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