José Ramalho Neto, Zé Ramalho, nasceu em outubro de 1949, na cidade de Brejo do Cruz, Paraíba.
Em 1975, gravou seu primeiro álbum, Paêbirú, com Lula Côrtes, pela gravadora Rozenblit. Durante muito tempo foi o disco (vinil) mais caro do Brasil, devido à sua raridade. A maioria dos exemplares se perdeu numa enchente na cidade de Recife.
Vai para o Rio de Janeiro com o nome de Zé Ramalho da Paraíba e começa a tocar na banda de Alceu Valença.
Há uma lenda que diz que Zé Ramalho, em uma experiência com cogumelos alucinógenos, Zé teria visto uma nave espacial e uma voz teria lhe dito “avôhai” no ouvido.
A música Avôhai, nas palavras do próprio Zé Ramalho em entrevista ao site Via Fanzine:
Quando eu fiz esta música eu criei esta palavra. Ela significa avô e pai. É uma espécie de homenagem ao meu avô, que foi a pessoa que me criou. Ele fazia o papel de avô e de pai. Meu pai morreu muito jovem, nos açudes do sertão, morreu afogado quando eu era garotinho. Então foi meu avô que me educou, foi quem me ensinou a seguir o caminho do bem, a batalhar minhas coisas. Eu me inspirei na imagem dele. E me chegou a palavra [Avôhai]... Ao mesmo tempo ela é interpretada pelas pessoas que a ouvem das mais diversas formas. É uma coisa muito mística também, representa a continuidade da espécie, ou seja, passar a sabedoria de uma geração para a outra... O avô passa para o pai, que passa para o filho e aí por diante...
A música está no seu primeiro disco, “Zé Ramalho”, de 1978. O disco tem Sérgio Dias nas guitarras e Patrick Moraz gravou os teclados em Avôhai.
Nota da Redação: Zé Ramalho sempre frisa que Chico Buarque errou o nome da sua cidade ao batizar a sua música com o nome de Brejo DA Cruz.
Nota da Redação 2: A primeira gravação de Avôhai foi feita pela cantora Vanusa, no disco “Vanusa 30 anos”, que também tem composições de Caetano Veloso, Belchior, Arnaud Rodrigues, Assis Valente e Raul Seixas.
Avôhai
Zé Ramalho
Um velho cruza a soleira
De botas longas, de barbas longas
De ouro o brilho do seu colar
Na laje fria onde quarava
Sua camisa e seu alforje
De caçador...
Oh! Meu velho e Invisível
Avôhai!
Oh! Meu velho e Indivisível
Avôhai!
Neblina turva e brilhante
Em meu cérebro coágulos de sol
Amanita matutina
E que transparente cortina
Ao meu redor...
E se eu disser
Que é meio sabido
Você diz que é meio pior
Mas e pior do que planeta
Quando perde o girassol...
É o terço de brilhante
Nos dedos de minha avó
E nunca mais eu tive medo
Da porteira
Nem também da companheira
Que nunca dormia só...
O brejo cruza a poeira
De fato existe
Um tom mais leve
Na palidez desse pessoal
Pares de olhos tão profundos
Que amargam as pessoas
Que fitar...
Mas que bebem sua vida
Sua alma na altura que mandar
São os olhos, são as asas
Cabelos de Avôhai...
Na pedra de turmalina
E no terreiro da usina
Eu me criei
Voava de madrugada
E na cratera condenada
Eu me calei
E se eu calei foi de tristeza
Você cala por calar
Mas e calado vai ficando
Só fala quando eu mandar...
Rebuscando a consciência
Com medo de viajar
Até o meio da cabeça do cometa
Girando na carrapeta
No jogo de improvisar
Entrecortando
Eu sigo dentro a linha reta
Eu tenho a palavra certa
Prá doutor não reclamar...
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