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sábado, 27 de dezembro de 2014

UMBIGUISMO

Em uma de suas propagandas institucionais no rádio, o sindicato dos médicos enfatiza que muitos de seus afiliados estarão de plantão na noite de Ano Novo, sem poder confraternizar com seus familiares, assim como aconteceu na noite de Natal.

O reclame fala que isso faz parte da vida de um profissional. Que bom essa ciência. Afinal de contas, nunca canso de dizer, existem pessoas que escolhem seus destinos profissionais. E médicos, certamente, estão entre elas. Assim como jornalistas.

Uma noite dessas estava jantando quando lembrei que ainda não tinha assistindo ao novo jornal da Rede Globo, Hora Um. E sintonizei lá. (Sim, estava jantando no horário desse telejornal, cumprindo uma agenda que Kevin, maldosamente, chama de “horário da Transilvânia”.)

Nem vou entrar no mérito sobre a qualidade do jornal, mas do diálogo da apresentadora da atração e da “moça do tempo”, que salientavam que estavam acordadas há tempos pra estarem prontas pra atração, das dificuldades disso etc. Não sei se o objetivo era me fazer ficar com dó. Provavelmente não. Espero que não.

Na hora, me dei conta de que se a gente está vendo elas ali, radiantes e maquiadas, é porque tem mais gente envolvida: um operador de câmera, alguém pra pentear e maquiar as queridas, alguém pra guardar a portaria da emissora, alguém pra fazer café, enfim, todo aparato de gente necessária pra tocar pra frente um programa de televisão. Da mesma forma nossos abnegados médicos.

Eu concordo com a resposta que Caetano Veloso dá a Noel Rosa em Dom de Iludir: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é"; mas sou obrigado a concordar com um comentário que ouvi dia desses: “O problema do mundo é o ‘umbiguismo’ das pessoas”.

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