Ira! é uma banda brasileira de rock and roll, formada em
1981, na cidade de São Paulo. A banda anunciou seu término em setembro de 2007.
Em 2014, anunciou sua volta. Entre tantas formações, a considerada “clássica”
tem Nasi (vocal), Edgard Scandurra (guitarra e vocal), André Jung (bateria) e
Ricardo Gaspa (baixo e vocal).
Em março de 1985, o Ira! lança seu primeiro LP, Mudança de
Comportamento. No ano seguinte, o grupo lança o seu disco de maior sucesso até o
Acústico MTV, de 2004, Vivendo e Não aprendendo. O LP traz muitas músicas que
tocaram durante muito tempo (e até hoje) nas rádios, como "Envelheço na
Cidade", "Vitrine Viva", "Gritos na Multidão", “Dias
de Luta”, “Quinze anos”, além de “Flores em Você”, música que foi tema de
abertura da novela “O outro”, da rede Globo.
É deste disco a canção "Pobre Paulista" composta
por Edgard Scandurra aos 17 anos, que é uma crítica à opressão dos
governantes de São Paulo. Mas a canção desperta dúvidas de pessoas quanto aos
versos da terceira estrofe, que passa a ideia de bairrismo e preconceito contra
as populações de migrantes provenientes de outras regiões do Brasil que
encontram residência e trabalho em São Paulo - notadamente indivíduos oriundos
das regiões Norte e Nordeste ("Não
quero ver mais essa gente feia/Não quero ver mais os ignorantes/Eu quero ver
gente da minha terra/Eu quero ver gente do meu sangue").
O apelido Nasi, do vocalista Marcos Valadão, o bracelete com
a bandeira do estado de São Paulo usado por Edgard nas apresentações da banda e
a proximidade com a cena punk paulistana, em que grupos como o Olho Seco traziam
no repertório músicas como "Nada" (dos versos "Você devia de
proibir [sic] a migração do povão/A praça Princesa Isabel já virou clube de
camping") faziam sedimentar ainda mais a ideia de o Ira (ainda sem o ponto
de exclamação, só adotado em 1985) ser um grupo declaradamente fascista. Edgard
e Nasi desmentiam tal versão, atestando que não há conotações fascistas no
trecho, e sim uma crítica às pessoas que apoiavam a ditadura - seriam essas as
"feias e ignorantes", e não pessoas de outras cidades.
Em 2008, Nasi relatou em uma entrevista a Revista Trip que
Scandurra já tinha confessado que a música era preconceituosa com os migrantes,
e que por isso nunca mais a cantou. Trecho da entrevista: "Eu estava num
bar com minha ex-namorada e um casal de amigos, depois de um show do Acústico
MTV. Apareceu o Edgard bem na hora que o meu amigo estava falando sobre
"Pobre paulista". O Edgard senta na mesa e diz assim: "Olha, não
é nada disso, não tem nada dessa história de rebeldia juvenil. Realmente é um
preconceito contra a invasão de nordestinos, era o que eu estava pensando na época
e foi isso o que eu quis dizer mesmo, eu não aguentava essa coisa de música
baiana, de Caetano, de Gil". Na hora, esse foi mais um dos insights que eu
tive. Defendi durante anos essa letra, carreguei essa cruz. Agora, naquele dia,
eu saí de lá falando assim 'eu nunca mais canto essa
música'."
Pobre Paulista
Edgard Scandurra
Todos os não se agitam
Toda adolescência acata
E a minha mente gira
E toda ilusão se acaba
Dentro de mim sai um monstro
Não é o bem, nem o mal
É apenas indiferença
É apenas ódio mortal
Não quero ver mais essa gente feia
Não quero ver mais os ignorantes
Eu quero ver gente da minha terra
Eu quero ver gente do meu sangue
Pobre São Paulo
Pobre paulista
Eu sei que vivo em louca utopia
Mas tudo vai cair na realidade
Pois sinto que as coisas vão surgindo
É só um tempo pra se rebelar
Pobre São Paulo
Pobre paulista
Parou, pensou e chegou ... a essa conclusão
Nota da Redação: Apesar de Vivendo e Não Aprendendo ser um disco de estúdio
(com muitas brigas com o produtor Liminha), o grupo optou por não regravar Gritos
na Multidão e Pobre Paulista, alegando que dessa maneira não teria como fazerem
play back dessas músicas em programas
de TV.
Nota da Redação²: Edgard Scandurra gravou um vídeo dando sua versão acerca da
polêmica envolvendo Pobre Paulista. Para assisti-lo clique AQUI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário