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sexta-feira, 3 de junho de 2016

MÚSICA NA SEXTA

Ira! é uma banda brasileira de rock and roll, formada em 1981, na cidade de São Paulo. A banda anunciou seu término em setembro de 2007. Em 2014, anunciou sua volta. Entre tantas formações, a considerada “clássica” tem Nasi (vocal), Edgard Scandurra (guitarra e vocal), André Jung (bateria) e Ricardo Gaspa (baixo e vocal).

Em março de 1985, o Ira! lança seu primeiro LP, Mudança de Comportamento. No ano seguinte, o grupo lança o seu disco de maior sucesso até o Acústico MTV, de 2004, Vivendo e Não aprendendo. O LP traz muitas músicas que tocaram durante muito tempo (e até hoje) nas rádios, como "Envelheço na Cidade", "Vitrine Viva", "Gritos na Multidão", “Dias de Luta”, “Quinze anos”, além de “Flores em Você”, música que foi tema de abertura da novela “O outro”, da rede Globo.

É deste disco a canção "Pobre Paulista" composta por Edgard Scandurra aos 17 anos, que é uma crítica à opressão dos governantes de São Paulo. Mas a canção desperta dúvidas de pessoas quanto aos versos da terceira estrofe, que passa a ideia de bairrismo e preconceito contra as populações de migrantes provenientes de outras regiões do Brasil que encontram residência e trabalho em São Paulo - notadamente indivíduos oriundos das regiões Norte e Nordeste ("Não quero ver mais essa gente feia/Não quero ver mais os ignorantes/Eu quero ver gente da minha terra/Eu quero ver gente do meu sangue").

O apelido Nasi, do vocalista Marcos Valadão, o bracelete com a bandeira do estado de São Paulo usado por Edgard nas apresentações da banda e a proximidade com a cena punk paulistana, em que grupos como o Olho Seco traziam no repertório músicas como "Nada" (dos versos "Você devia de proibir [sic] a migração do povão/A praça Princesa Isabel já virou clube de camping") faziam sedimentar ainda mais a ideia de o Ira (ainda sem o ponto de exclamação, só adotado em 1985) ser um grupo declaradamente fascista. Edgard e Nasi desmentiam tal versão, atestando que não há conotações fascistas no trecho, e sim uma crítica às pessoas que apoiavam a ditadura - seriam essas as "feias e ignorantes", e não pessoas de outras cidades.

Em 2008, Nasi relatou em uma entrevista a Revista Trip que Scandurra já tinha confessado que a música era preconceituosa com os migrantes, e que por isso nunca mais a cantou. Trecho da entrevista: "Eu estava num bar com minha ex-namorada e um casal de amigos, depois de um show do Acústico MTV. Apareceu o Edgard bem na hora que o meu amigo estava falando sobre "Pobre paulista". O Edgard senta na mesa e diz assim: "Olha, não é nada disso, não tem nada dessa história de rebeldia juvenil. Realmente é um preconceito contra a invasão de nordestinos, era o que eu estava pensando na época e foi isso o que eu quis dizer mesmo, eu não aguentava essa coisa de música baiana, de Caetano, de Gil". Na hora, esse foi mais um dos insights que eu tive. Defendi durante anos essa letra, carreguei essa cruz. Agora, naquele dia, eu saí de lá falando assim 'eu nunca mais canto essa música'."

Pobre Paulista
Edgard Scandurra

Todos os não se agitam
Toda adolescência acata
E a minha mente gira
E toda ilusão se acaba

Dentro de mim sai um monstro
Não é o bem, nem o mal
É apenas indiferença
É apenas ódio mortal

Não quero ver mais essa gente feia
Não quero ver mais os ignorantes
Eu quero ver gente da minha terra
Eu quero ver gente do meu sangue

Pobre São Paulo
Pobre paulista

Eu sei que vivo em louca utopia
Mas tudo vai cair na realidade
Pois sinto que as coisas vão surgindo
É só um tempo pra se rebelar

Pobre São Paulo
Pobre paulista
Parou, pensou e chegou ... a essa conclusão

Nota da Redação: Apesar de Vivendo e Não Aprendendo ser um disco de estúdio (com muitas brigas com o produtor Liminha), o grupo optou por não regravar Gritos na Multidão e Pobre Paulista, alegando que dessa maneira não teria como fazerem play back dessas músicas em programas de TV.

Nota da Redação²: Edgard Scandurra gravou um vídeo dando sua versão acerca da polêmica envolvendo Pobre Paulista. Para assisti-lo clique AQUI.

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