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domingo, 4 de setembro de 2016

A CRÔNICA DO CAJO

Novos tempos

                   Cajo 
Em Nova Iguaçu/RJ, uma professora de inglês sofreu sindicância porque explicou aos alunos por que a sua categoria estava entrando em greve. Acusação: doutrinação ideológica. Na mesma região, uma professora de geografia também sofreu investigação porque promoveu o evento “Diversidade e Sustentabilidade”, que tratava de temas como violência contra a mulher, homofobia, transfobia e acessibilidade. Foi acusada pelo advogado criador da página "Endireita Londrina". Acusação: doutrinação ideológica. 

Em Curitiba, lá mesmo, uma socióloga foi afastada das aulas porque seus alunos apresentaram uma paródia da música "Baile na Favela", citando Marx (em tempo: outros alunos apresentaram outros trabalhos sobre outros pensadores, de outras cores ideológicas). Acusação: doutrinação ideológica. 

O fundador da chamada Escola sem Partido fez representação, pedindo a exoneração de uma professora que desenvolveu um trabalho com seus alunos porque as referências eram Chico Buarque, Milton Santos, Paulo Freire e, até mesmo, a Veja. O 'sem noção' chegou a sugerir que os alunos deveriam ler Reinaldo de Azevedo (sic). 

Essas professoras, em razão do que foi divulgado por sites fascistas, estão sendo perseguidas por aqueles que juram que o governo que está sendo afastado tinha um projeto de poder. Estão sendo ameaçadas por pessoas que acreditam na chamada grande imprensa que grita insistentemente que o partido que está saindo queria se perpetuar no poder e que, para isso, faria uso de todos os meios escusos. Estão sendo perseguidas por pessoas que caíram no conto de que democracia é alternância no poder. 

Eu pergunto qual o partido que não tem projeto de poder? E mais: será que não entendem que o que provoca a alternância no poder é o voto da maioria? E que não é porque é uma democracia que deve obrigatoriamente haver alternância? Pergunte aos tucanos e demos se, depois de eleitos para o governo federal, por exemplo, se depois do primeiro mandato, abririam mão de concorrer ao segundo porque democracia exige alternância no poder. Eles diriam que todos são livres para disputar quantas vezes queiram, afinal, somos uma democracia. E paneleiros aplaudiriam. E se alguém chamá-los à razão e disser que antes diziam outra coisa? "Que antes"? 

Nossa democracia está sendo golpeada com o silêncio dos que bateram panelas crentes de que chegou o fim da corrupção e que, com o usurpador, tudo voltaria ao normal. Saíram às ruas protestando legitimamente e foram convocados por organizações tipo MBL, Revoltados online, entre outras, embora acreditassem que era tudo espontâneo. Ovelhas pastam espontaneamente. Pediram escolas e hospitais padrão FIFA, mas aceitam que golpistas vendam o país e suas riquezas, cujos frutos seriam destinados para educação e saúde. Não teremos mais escolas e hospitais com os royalties do pré-sal, e sim escolas onde o professor não poderá lecionar, mas sim apresentar conteúdos de forma mecânica e previamente selecionados pelas cabeças pensantes atualizadas com ideias do século 19. 

Uma vez Lima Barreto disse que no Brasil não havia povo, e sim público. Quando a direita consegue se organizar e ir às ruas, o que se poderia querer, em uma sociedade democrática, era um debate de ideias, um confronto legítimo que pudesse dar a todos a oportunidade de, no voto, elegerem os governantes. E o que temos? Um golpe, um atentado à democracia. Esta que durante toda a ditadura buscamos. Onde você estava naquela época? Eu estava nas ruas e pelo Brasil afora tentando organizar resistências. É a isso que vou me dedicar daqui para frente, até ver a democracia ser restaurada no país que é de todos, e não só de uma parcela ínfima que se vale da desinformação e da mentira para ascender a um poder que nunca teria pelo voto.

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