Novos tempos
Cajo
Em Nova
Iguaçu/RJ, uma professora de inglês sofreu sindicância porque explicou aos
alunos por que a sua categoria estava entrando em greve. Acusação: doutrinação
ideológica. Na mesma região, uma professora de geografia também sofreu
investigação porque promoveu o evento “Diversidade e Sustentabilidade”, que
tratava de temas como violência contra a mulher, homofobia, transfobia e
acessibilidade. Foi acusada pelo advogado criador da página "Endireita
Londrina". Acusação: doutrinação ideológica.
Em Curitiba, lá mesmo, uma
socióloga foi afastada das aulas porque seus alunos apresentaram uma paródia da
música "Baile na Favela", citando Marx (em tempo: outros alunos
apresentaram outros trabalhos sobre outros pensadores, de outras cores ideológicas). Acusação:
doutrinação ideológica.
O fundador da chamada Escola sem Partido
fez representação, pedindo a exoneração de uma professora que desenvolveu um
trabalho com seus alunos porque as referências eram Chico Buarque, Milton
Santos, Paulo Freire e, até mesmo, a Veja. O 'sem noção' chegou a sugerir que
os alunos deveriam ler Reinaldo de Azevedo (sic).
Essas professoras, em razão do que
foi divulgado por sites fascistas, estão sendo perseguidas por aqueles que juram
que o governo que está sendo afastado tinha um projeto de poder. Estão sendo ameaçadas
por pessoas que acreditam na chamada grande imprensa que grita insistentemente
que o partido que está saindo queria se perpetuar no poder e que, para isso,
faria uso de todos os meios escusos. Estão sendo perseguidas por pessoas que
caíram no conto de que democracia é alternância no poder.
Eu pergunto qual o partido que não
tem projeto de poder? E mais: será que não entendem que o que provoca a
alternância no poder é o voto da maioria? E que não é porque é uma democracia
que deve obrigatoriamente haver alternância? Pergunte aos tucanos e demos se,
depois de eleitos para o governo federal, por exemplo, se depois do primeiro
mandato, abririam mão de concorrer ao segundo porque democracia exige
alternância no poder. Eles diriam que todos são livres para disputar quantas vezes
queiram, afinal, somos uma democracia. E paneleiros aplaudiriam. E se
alguém chamá-los à razão e disser que antes diziam outra coisa? "Que
antes"?
Nossa democracia está sendo
golpeada com o silêncio dos que bateram panelas crentes de que chegou o fim da
corrupção e que, com o usurpador, tudo voltaria ao normal. Saíram às ruas
protestando legitimamente e foram convocados por organizações tipo MBL,
Revoltados online, entre
outras, embora acreditassem que era tudo espontâneo. Ovelhas pastam espontaneamente.
Pediram escolas e hospitais padrão FIFA, mas aceitam que golpistas vendam o
país e suas riquezas, cujos frutos seriam destinados para educação e saúde. Não
teremos mais escolas e hospitais com os royalties do pré-sal, e sim escolas onde o
professor não poderá lecionar, mas sim apresentar conteúdos de forma mecânica e
previamente selecionados pelas cabeças pensantes atualizadas com ideias do
século 19.
Uma vez Lima Barreto disse que no
Brasil não havia povo, e sim público. Quando a direita consegue se organizar e
ir às ruas, o que se poderia querer, em uma sociedade democrática, era um
debate de ideias, um confronto legítimo que pudesse dar a todos a oportunidade
de, no voto, elegerem os governantes. E o que temos? Um golpe, um atentado à
democracia. Esta que durante toda a ditadura buscamos. Onde você estava naquela
época? Eu estava nas ruas e pelo Brasil afora tentando organizar resistências.
É a isso que vou me dedicar daqui para frente, até ver a democracia ser
restaurada no país que é de todos, e não só de uma parcela ínfima que se vale da
desinformação e da mentira para ascender a um poder que nunca teria pelo voto.
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