Algumas coisas incomodam nas frutas. E elas são
inocentes.
O problema, como sempre, são as pessoas, que quando perguntadas, por exemplo, se esta ou aquela fruta está/é boa responde assim: “Sim, bem docinha”.
Bueno, dois problemas logo de cara. Primeiro perguntamos se ela é boa, não se é doce, amarga ou salgada. É uma simplificação absurda: doce = bom, não doce = ruim. A segunda coisa: mesmo que a maldita seja doce, mas muito doce, doce de doer os carrinhos a resposta vem sempre no diminutivo: “docinha”. Por que raios uma fruta não pode ser doce? Será pelo mesmo motivo de que não existem bolachas recheadas? Apenas “bolachinhas” recheadas.
Outra coisa. Tem gente que nunca come maçã, uva, laranja ou bergamota. Comem “uma fruta”. Não interessa qual tipo, o que interessa é comer “uma fruta”. Se um infeliz estiver hospitalizado então, mesmo que esteja com a garganta em frangalhos, um visitante sempre vai ouvir a recomendação de um parente: “leva uma fruta”. Limão ou melancia, tanto faz.
Por algum misterioso motivo, pessoas que trabalham em escritórios gostam muito de comer banana. Saem de casa atrasadas - “Só deu tempo de tomar um café e comer um pãozinho”, no caso o pãozinho é uma fatia de 4cm de pão caseiro feito por algum parente desocupado - mas sempre carregam na bolsa bananas enroladas em pano de prato com crochê nas pontas. Como a turma também sente muito frio, a bolsa acaba ficando colada ao casaquinho cheio de ácaros aquecido pelo corpo no trajeto dentro do ônibus – "O ar condicionado é muito frio." A banana já começou a pretear.
Chegando no escritório, mais café com bolachas. As bolachas são aquelas massudas, de engordar marido. As bananas vão para dentro de uma gaveta. Normalmente, entre um documento e outro e do lado da faca serrilhada que nunca vê água, apenas é limpa com guardanapo ou o pano das bananas. Que também nunca é limpo, apenas vai e vem carregando bananas e é sempre sacudido com muita veemência. Por algum motivo, a turma acredita que sacudir os panos os torna milagrosamente limpos.
Trinta minutos depois do café, ou antes, ainda não é nove da manhã, alguém pergunta: “Onde vamos almoçar?”. Quem trabalha em escritório, além de comer fruta, gosta de sair para almoçar em bando. Já que se falou em comida e o ambiente descontraiu, é hora de comer “uma fruta”. No caso, a banana. “Ai... tá me dando uma fome, vou ter que comer uma fruta”. Ao ser aberta a gaveta, uma ou duas mosquinhas que já rondavam a banana alçam voo. Esta, em sua ponta, já mostra aquele amarelo forte e translúcido e a consistência molenga indicando que ali onde estava, decididamente, não é o lugar dela. Sinais obviamente ignorados. Ao ser descascada a banana, instala-se no ambiente o inconfundível cheiro de quitanda.
Quem come banana gosta de fazê-lo olhando fixamente para alguém. Não há nada de intenção erótica nisso. É como quem abre a geladeira para pensar.
Depois de comida a banana, sua casca é descartada, claro, no lixo seco. De preferência com alguma gosma restante tocando o fundo da lixeira. As moscas vibram e seguem seu voo circular sobre a casca.
Normalmente, essa é a hora da turma da limpeza, que recolhe todos farelos, cascas e copos com resto de café (também no lixo seco, claro, onde mais?). Colocam um aromatizante no ambiente para espantar as moscas da banana, que voltam pra gaveta, agora com reforços de outras moscas.
Nisso claro, já passam das 10h e para quem não comeu nada de manhã (aquela fationa de pão já é negada), nada mais justo que comer umas bolachinhas recheadas. A bolachinha “é seca”. Mais café. Os farelos agora são debelados do colo e do teclado do computador com batidas da mão e assopros. Nesse processo, algum documento é amassado e outro fica com pingos de café. O copo descartável, claro, no lixo seco.
Com essa movimentação, alguém lembra (sempre tem alguém que lembra isso nessa hora) que trouxe uma “fatiazinha” de mamão pra lanchar. “Mamão é tãããão saudável”. Quem come mamão gosta de enfatizar – sempre – todas suas propriedades medicinais. A fatiazinha, no caso, é metade de um mamão que algum parente deixou na geladeira. É hora de segurar o mamão e despejar aquelas bolinhas todas no lixo (seco) e oferecer fatias de mesa em mesa.
As mosquinhas da banana gostam de bananas, ficam dentro das gavetas. Mas outras moscas gostam de cheiros e de confusão e sempre aparecem nessa hora. Normalmente é hora de chegar um cliente. Mais bolachas, mais café, mais frutas. Loop eterno.
O problema, como sempre, são as pessoas, que quando perguntadas, por exemplo, se esta ou aquela fruta está/é boa responde assim: “Sim, bem docinha”.
Bueno, dois problemas logo de cara. Primeiro perguntamos se ela é boa, não se é doce, amarga ou salgada. É uma simplificação absurda: doce = bom, não doce = ruim. A segunda coisa: mesmo que a maldita seja doce, mas muito doce, doce de doer os carrinhos a resposta vem sempre no diminutivo: “docinha”. Por que raios uma fruta não pode ser doce? Será pelo mesmo motivo de que não existem bolachas recheadas? Apenas “bolachinhas” recheadas.
Outra coisa. Tem gente que nunca come maçã, uva, laranja ou bergamota. Comem “uma fruta”. Não interessa qual tipo, o que interessa é comer “uma fruta”. Se um infeliz estiver hospitalizado então, mesmo que esteja com a garganta em frangalhos, um visitante sempre vai ouvir a recomendação de um parente: “leva uma fruta”. Limão ou melancia, tanto faz.
Por algum misterioso motivo, pessoas que trabalham em escritórios gostam muito de comer banana. Saem de casa atrasadas - “Só deu tempo de tomar um café e comer um pãozinho”, no caso o pãozinho é uma fatia de 4cm de pão caseiro feito por algum parente desocupado - mas sempre carregam na bolsa bananas enroladas em pano de prato com crochê nas pontas. Como a turma também sente muito frio, a bolsa acaba ficando colada ao casaquinho cheio de ácaros aquecido pelo corpo no trajeto dentro do ônibus – "O ar condicionado é muito frio." A banana já começou a pretear.
Chegando no escritório, mais café com bolachas. As bolachas são aquelas massudas, de engordar marido. As bananas vão para dentro de uma gaveta. Normalmente, entre um documento e outro e do lado da faca serrilhada que nunca vê água, apenas é limpa com guardanapo ou o pano das bananas. Que também nunca é limpo, apenas vai e vem carregando bananas e é sempre sacudido com muita veemência. Por algum motivo, a turma acredita que sacudir os panos os torna milagrosamente limpos.
Trinta minutos depois do café, ou antes, ainda não é nove da manhã, alguém pergunta: “Onde vamos almoçar?”. Quem trabalha em escritório, além de comer fruta, gosta de sair para almoçar em bando. Já que se falou em comida e o ambiente descontraiu, é hora de comer “uma fruta”. No caso, a banana. “Ai... tá me dando uma fome, vou ter que comer uma fruta”. Ao ser aberta a gaveta, uma ou duas mosquinhas que já rondavam a banana alçam voo. Esta, em sua ponta, já mostra aquele amarelo forte e translúcido e a consistência molenga indicando que ali onde estava, decididamente, não é o lugar dela. Sinais obviamente ignorados. Ao ser descascada a banana, instala-se no ambiente o inconfundível cheiro de quitanda.
Quem come banana gosta de fazê-lo olhando fixamente para alguém. Não há nada de intenção erótica nisso. É como quem abre a geladeira para pensar.
Depois de comida a banana, sua casca é descartada, claro, no lixo seco. De preferência com alguma gosma restante tocando o fundo da lixeira. As moscas vibram e seguem seu voo circular sobre a casca.
Normalmente, essa é a hora da turma da limpeza, que recolhe todos farelos, cascas e copos com resto de café (também no lixo seco, claro, onde mais?). Colocam um aromatizante no ambiente para espantar as moscas da banana, que voltam pra gaveta, agora com reforços de outras moscas.
Nisso claro, já passam das 10h e para quem não comeu nada de manhã (aquela fationa de pão já é negada), nada mais justo que comer umas bolachinhas recheadas. A bolachinha “é seca”. Mais café. Os farelos agora são debelados do colo e do teclado do computador com batidas da mão e assopros. Nesse processo, algum documento é amassado e outro fica com pingos de café. O copo descartável, claro, no lixo seco.
Com essa movimentação, alguém lembra (sempre tem alguém que lembra isso nessa hora) que trouxe uma “fatiazinha” de mamão pra lanchar. “Mamão é tãããão saudável”. Quem come mamão gosta de enfatizar – sempre – todas suas propriedades medicinais. A fatiazinha, no caso, é metade de um mamão que algum parente deixou na geladeira. É hora de segurar o mamão e despejar aquelas bolinhas todas no lixo (seco) e oferecer fatias de mesa em mesa.
As mosquinhas da banana gostam de bananas, ficam dentro das gavetas. Mas outras moscas gostam de cheiros e de confusão e sempre aparecem nessa hora. Normalmente é hora de chegar um cliente. Mais bolachas, mais café, mais frutas. Loop eterno.
KKKKKK... Trabalho com gente assim.
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