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segunda-feira, 30 de junho de 2014

TORMENTO

Longe de mim achar que um artista tem que ser comprometido com alguma causa. Esse tipo de coisa é um ranço que temos da época da ditadura. Não era de bom tom escrever uma música ou um poema que não tivesse “mensagem”. Era preciso que isso contestasse alguma coisa. O governo, a família, a sociedade ou a padaria. Era preciso, era necessário, que o público visse ali uma metáfora.

Mas também não precisávamos criar uma geração de amebas sem opinião. Ou, pior, com uma opinião genérica sobre tudo. Em que tudo é bonito e tudo tem a nos ensinar. Não é nem em cima do muro, é um fenômeno que permite estar em todos os lados do muro ao mesmo tempo. Uso “todos” os lados do muro, pois não acredito que o mundo - ou o que seja - possa ser separado por um muro em duas partes. Acho que somos separados por muitos muros, em muitas partes.

É claro que ainda temos os engajados - as “putinhas aborteiras” e outras turmas mantêm a tradição. E a coisa é tão exagerada que chega a ser caricata. Mas deixar a barba por fazer, usar óculos de grossos aros e ter o cabelo como o de um cineasta atormentado e cantar amenidades juvenis depois dos 40 também é demais.

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