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domingo, 13 de julho de 2014

LEITURA DE DOMINGO

Fulecagem demais para qualquer complexo de vira-latas

             Marcelo Mirisola
Não lembro se foi depois do jogo contra o México ou se foi depois do jogo contra o Chile. Com certeza, foi num desses Jornais Nacionais ufanistas, entre um engano e outro, quer dizer, entre um jogo e outro.  No intervalo daquilo que os marqueteiros  batizaram de Copa das Copas e que no dia 8 de julho acabou virando o fiasco dos fiascos.
Bonner entrevistava Felipão e Parreira. A dupla dinâmica se queixava do grito de guerra da torcida fuleco. A grudenta "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" era mais brochante do que a musiquinha que Fernanda Takai e Paulo Miklos venderam pro Itaú. Felipão sugeriu um pagode, disse que os jogadores se uniam em torno daquela aporrinhação, e o Bonner pôs no ar.  Eu pensei: "Técnico preocupado com musiquinha? Fudeu".

Luis Fernando Veríssimo escreve que uma lavada de dez a zero seria muito melhor que o famigerado sete a um.  Verdade. Segundo Veríssimo, o placar de dez a zero nos levaria para o "terreno do fantástico, do inimaginável, da galhofa cósmica".
Número ímpar machuca. Dos ímpares sete é o mais ferino. Oito a zero não seria tão ruim. A natureza dos pares - e sobretudo do oito - é dar voltas em si mesmo. O oito  sempre acaba redondo, tanto faz se oito ou oitenta. Sete é mais ácido que nove. Sete machuca, sete é corte de lâmina enferrujada. Tétano. Ferida de punhal. Uma incisão nos bagos, no orgulho. Um é o número da honra e do orgulho. Um único gol. O gol de honra.

A conta do orgulho ferido, da humilhação: sete a um.

Voltando a entrevista. Na hora que a dupla Felipão/Parreira conclamou a nação fuleco a providenciar um novo grito de guerra, nessa hora, juro e repito - sem querer ser profeta de retrovisor - a palavra "fudeu" reverberou violentamente na minha cachola.

Nem vou falar dos jogadores chorões, do fato de nossos fulecos entrarem em campo com a mãozinha nos ombros uns dos outros, da infantilidade geral, do ectoplasma nazistóide embutido no hino a capela, dos achaques sempiternos do Galvão Bueno. Bom esquecer da simpatia quase doentia da Fátima Bernardes mas é bom lembrar do prejuízo que o comércio teve, do viaduto que desabou em BH,das prisões arbitrárias e da truculência da polícia e dos defensores da moral, dos bons costumes e da bola rolando. Nem vou falar do Itaquerão ocupado pelazelitebranca que mandou dona Dilma ir tomar no fuleco, de jogar um país inteiro nas costas do Neymar que acabou quebrado porque se trata de uma enxurrada de mentiras que nenhum Atlas suportaria, além do aluvião desgovernado,  todos os maus presságios supracitados e mais o cabelo tingido de morte do Zé Maria Marin.

Tudo começou com um gol contra do Marcelo( pô! isso nao é nome de jogador de futebol! ). Já era o sinal da sombra, da maldição que bordejava sobre nossos cornos desde 195o e que foi trazida de volta para satisfazer o ego de um demagogo. Puta ideia infeliz.

O tiro saiu pela culatra. Lula ressuscitou o complexo de vira-latas. E pior que o complexo de vira-latas é ter que explicar do que se trata. O nome desse novo complexo, que acomete toda a clamídia, é complexo de poodle.

Para os marqueteiros e fazedores de selfie, levar sete gols na semifinal é evidência de um sucesso estrondoso. Vamos fazer de conta que o brasileiro não é mais vira-latas, que aprendeu a fazer um gol na Alemanha, e agora sabe andar sobre as duas patinhas e dissociar política partidária de futebol. Vamos lá!

Para reafirmar nosso novo pedigree só falta trocar Pelé por Maradona.  Soy loco por ti Evita! Porque as chances  de a "presidenta", novamente ela, entregar a taça pro Messi são mais factíveis que a casa da moeda deles. Se bem.. que eu aposto que vai dar Alemanha.

Chega! Bom parar por aqui, antes que alguém me lembre do Fred.

É fulecagem demais pra qualquer complexo de vira-latas.

https://br.noticias.yahoo.com/blogs/autor/marcelo-mirisola/

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