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domingo, 6 de setembro de 2015

LEITURA DE DOMINGO

MOTEL

Luis Fernando Verissimo
Mirtes não se aguentou e contou para a Lurdes: 

- Viram teu marido entrando num motel.

A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes.

- Quando? Onde? Com quem?

- Ontem. No Discretissimu's.

- Com quem? Com quem?

- Isso eu não sei.

- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?

- Não sei, Lu.

- O Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.

Quando o Carlos Alberto chegou em casa e ... Lurdes anunciou que iria deixá-lo. E contou por quê.

- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você.

- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretissimu's! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.

- Pois então?

- Pois então que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que to das as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo mar ido e não reagir.

- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!

- Mas elas não sabem disso!

- Eu não acredito, Lurdes. Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?

- Vou.

Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa, com as malas, o Carl os Alberto a interceptou. Estava sombrio.

- Acabo de receber um telefonema - disse. - Era o Dico.

- O que ele queria?

- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.

- O quê?

- Você foi vista saindo do motel Discretissimu's ontem, com um homem.

- O homem era você.

- Eu sei, mas eu não fui identificado.

- Você não disse que era você?

- O quê? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a min ha própria mulher?

- E então?

- Desculpe, Lurdes, mas...

- O quê?

- Vou ter que te dar um tiro.

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