A onda é proibir
01 de fevereiro de 2013
Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Foi susto e tanto: assim que Elano fez o gol que daria a vitória do Grêmio sobre a LDU, torcedores mais entusiasmados fizeram a primeira avalanche no novo estádio tricolor. Primeira que ensaiam transformar em última, pois um pedaço do alambrado cedeu ao impacto e pessoas caíram no fosso que separa a arquibancada do gramado. Por sorte, a altura era pequena e as escoriações, superficiais.
O incidente remeteu à tragédia de Santa Maria. Deus nos livre e guarde de situações semelhantes! A direção gremista interditou a área e promete estudos a respeito da estrutura da casa recém-inaugurada. Engenheiros e arquitetos foram convocados para análises.
Ao mesmo tempo, ficou suspensa a estabanada alegoria que caracteriza a comemoração de gols do Grêmio. A Brigada Militar já havia vetado a coreografia, desde o fechamento do Olímpico, em dezembro, e ainda assim os mais fanáticos resolveram colocá-la em prática, para manter a tradição. Acredita-se que, sem o balé radical, não há risco de espectadores se machucarem.
Certo, desejamos participar de atividades públicas em paz e com segurança. Fora a turma do miolo mole, ninguém com a cabeça em ordem pretende ver um jogo de futebol com a intenção de provocar confusão ou ser vítima dela. Queremos voltar para casa sãos, e satisfeitos pelo lazer. Mas a proibição, se levada adiante, reforça a tendência de limitar, mais e mais, a espontaneidade nas arenas esportivas. Em nome do bem coletivo, baixam-se normas que encaixotam a emoção e pasteurizam a felicidade.
Repare como avançam as restrições. Já há algum tempo, não se permitem bandeiras nos estádios. Acabou o espetáculo bonito de vermos símbolos dos clubes, de variados formatos e tamanhos, a enfeitarem as sociais e as numeradas. Aquele colorido dava tremendo ar de festa. Ah, mas os mastros eram usados como armas! Eram um perigo! Quer dizer que, em vez de combaterem eventuais desordeiros, se eliminou o estandarte?!
Bebida também não pode, sob a alegação de que o pessoal enche a cara e parte para a briga. Meia-verdade. A cerveja que se consome no recinto do espetáculo não é a vilã de desentendimentos mais sérios. Baderneiros por vocação chegam em bandos, calibrados e enfumaçados, e passam pela triagem da entrada, onde deveriam ser barrados. Além disso, batalhas ocorrem pela certeza de impunidade. Quantos são os casos registrados de castigo para desordeiros?
Há a censura. Meses atrás, um árbitro se negou a começar jogo do Náutico ao se enfurecer com uma faixa exposta pelos fãs locais. Achou que era ofensiva. A polícia interveio, o cartaz foi recolhido e, posteriormente, aberto mais pra cima na arquibancada mesmo. Boa! Já se cogitou, até, de processar quem proferisse palavrões. Imagine, seriam milhares de ações por semana!
A avalanche gremista comporta risco, como tantas manifestações da vida. A vida é risco permanente. O homem tem instinto de preservação; o sobressalto de quarta fará com que haja moderação no futuro. No velho Olímpico, foram raros os episódios com ferimentos. Por isso, a diretoria do Grêmio disse, no final da tarde, que o veto é temporário. Menos mal.
Autoridades têm de combater os violentos. Já as arquibancadas devem pulsar de contentamento, devem ser tribunas livres. Os estádios não podem assemelhar-se a templos religiosos, em que recolhimento e silêncio são imprescindíveis. O que escrevo?! Até igrejas têm música e dança, pois Deus é alegria. Por que os estádios devem ser circunspectos e taciturnos?
O incidente remeteu à tragédia de Santa Maria. Deus nos livre e guarde de situações semelhantes! A direção gremista interditou a área e promete estudos a respeito da estrutura da casa recém-inaugurada. Engenheiros e arquitetos foram convocados para análises.
Ao mesmo tempo, ficou suspensa a estabanada alegoria que caracteriza a comemoração de gols do Grêmio. A Brigada Militar já havia vetado a coreografia, desde o fechamento do Olímpico, em dezembro, e ainda assim os mais fanáticos resolveram colocá-la em prática, para manter a tradição. Acredita-se que, sem o balé radical, não há risco de espectadores se machucarem.
Certo, desejamos participar de atividades públicas em paz e com segurança. Fora a turma do miolo mole, ninguém com a cabeça em ordem pretende ver um jogo de futebol com a intenção de provocar confusão ou ser vítima dela. Queremos voltar para casa sãos, e satisfeitos pelo lazer. Mas a proibição, se levada adiante, reforça a tendência de limitar, mais e mais, a espontaneidade nas arenas esportivas. Em nome do bem coletivo, baixam-se normas que encaixotam a emoção e pasteurizam a felicidade.
Repare como avançam as restrições. Já há algum tempo, não se permitem bandeiras nos estádios. Acabou o espetáculo bonito de vermos símbolos dos clubes, de variados formatos e tamanhos, a enfeitarem as sociais e as numeradas. Aquele colorido dava tremendo ar de festa. Ah, mas os mastros eram usados como armas! Eram um perigo! Quer dizer que, em vez de combaterem eventuais desordeiros, se eliminou o estandarte?!
Bebida também não pode, sob a alegação de que o pessoal enche a cara e parte para a briga. Meia-verdade. A cerveja que se consome no recinto do espetáculo não é a vilã de desentendimentos mais sérios. Baderneiros por vocação chegam em bandos, calibrados e enfumaçados, e passam pela triagem da entrada, onde deveriam ser barrados. Além disso, batalhas ocorrem pela certeza de impunidade. Quantos são os casos registrados de castigo para desordeiros?
Há a censura. Meses atrás, um árbitro se negou a começar jogo do Náutico ao se enfurecer com uma faixa exposta pelos fãs locais. Achou que era ofensiva. A polícia interveio, o cartaz foi recolhido e, posteriormente, aberto mais pra cima na arquibancada mesmo. Boa! Já se cogitou, até, de processar quem proferisse palavrões. Imagine, seriam milhares de ações por semana!
A avalanche gremista comporta risco, como tantas manifestações da vida. A vida é risco permanente. O homem tem instinto de preservação; o sobressalto de quarta fará com que haja moderação no futuro. No velho Olímpico, foram raros os episódios com ferimentos. Por isso, a diretoria do Grêmio disse, no final da tarde, que o veto é temporário. Menos mal.
Autoridades têm de combater os violentos. Já as arquibancadas devem pulsar de contentamento, devem ser tribunas livres. Os estádios não podem assemelhar-se a templos religiosos, em que recolhimento e silêncio são imprescindíveis. O que escrevo?! Até igrejas têm música e dança, pois Deus é alegria. Por que os estádios devem ser circunspectos e taciturnos?
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