MEU TIPO INESQUECÍVEL:
JOSÉ DIRCEU, A “CARMINHA”
QUE VOCÊS AMAM ODIAR
Carlos Augusto Bissón - jornalista e escritor
QUE VOCÊS AMAM ODIAR
Carlos Augusto Bissón - jornalista e escritor
No Facebook (05/11/2012)
Como já era esperado, o Ministro Ricardo Lewandowski absolveu José Dirceu da acusação de corrupção ativa, ou seja, de ser o mentor do chamado “mensalão”. Deve atrair a ira pública, esta inflamada, evidentemente, pela mídia. Podem dizer o que quiserem a respeito de Lewandoski, mas o ministro tem conhecimento jurídico inegável e seus argumentos são bem razoáveis.
Se, observou ele na tarde desta quinta-feira (04/10), o STF reconhecer que houve compra de votos nas votações das reformas previdenciárias e tributária, então, não seria cabível anular o que o Congresso aprovou?
É o que me pergunto também. Os ministros do STF, por sinal, meio que perderam o rebolado quando Lewandowski disse isso, cena que, imagino, não vai passar nos noticiários televisivos.
Do meu particularíssimo ponto de vista, ele é que “o cara” e não Joaquim Barbosa. Como dizem os americanos, “he got balls”. Barbosa, simplesmente, está seguindo a mídia, a qual quer ditar o rumo dos acontecimentos. Notem: Lewandowski enfatizou que não está dizendo que Dirceu é inocente no esquema de corrupção. O que ele está afirmando é que as acusações ao ex-Chefe da Casa Civil se baseiam em “insinuações” e “presunções”, e não em provas jurídicas concretas, presentes nos autos. Juízes, para serem dignos desse nome, só podem elaborar seus pareceres em cima do que está nos autos dos processos, e não no que VEJA diz. Injusto, absurdo, imoral?
Bem, mas esta é a base do sistema jurídico internacional, o qual, por sua vez, dá sustentação à democracia pele ao direito do cidadão. A maioria das pessoas não aceita essa premissa.
Como disse o meu amigo Luiz Eduardo Robinson Achutti, querem que a vida funcione como uma novela de TV e decidiram (com sua própria cabeça?) pela condenação. José Dirceu foi escolhido para representar na vida política brasileira o que Carminha (Adriana Esteves) é em “Avenida Brasil”: o vilão, o criador de todo o “mal”. Mas, leio no meu Yahoo, “minha amiga”, aguardem sensacionais revelações nessa novela.
O verdadeiro vilão - até agora, não percerbido - vai emergir nos capítulos finais. Ou seja: até uma novela consegue demonstrar mais a complexidade da vida do que a nossa imprensa...
O fato é que, estivesse eu na condição de Presidente eleito do Brasil, a primeira coisa que faria ao colocar meu busanfan naquela cadeirinha do Palácio do Planalto seria dar uma ordem para o meu Chefe da Casa Civil: “Vá até o Congresso e compre todos os parlamentares vendáveis disponíveis. Afinal de contas, eles se dividiram em 30 partidos exatamente para me chantagear. Esses espertalhões são a maioria lá e a Constituição diz que preciso dos votos deles. Caso contrário, não consigo governar. Não poupe despesas”.
Como não me canso de repetir aqui, o sistema político-institucional brasileiro foi montado na Constituição “cidadã” de 1988 justamente para favorecer esse tipo de operação, dada a desvinculação do voto no Brasil para o Executivo e o Legislativo (você pode votar num radical esquerdista para presidente e num direitista igualmente radical para a deputado federal).
Daí a fajutice essencial da suposta indignação da imprensa em relação a esse fenômeno que ela batizou de “mensalão”. Não há mensalão como episódio singular, restrito ao Governo Lula.
Ele é institucionalizado no Brasil. Os pagamentos podem não ser sempre em cash, como Roberto Jefferson sugeriu que aconteceu no caso em questão, mas através de projetos inúteis de alto custo para os cofres do governo, impostos por parlamentares em troca de votos, cargos para cabos eleitorais que ajudaram nas campanhas e, sobretudo, disto que resolveram chamar eufemisticamente de “se integrar à base de sustentação do governo”.
Ou seja, ocupar um Ministério, já que ali é que está a bufunfa, a propina, obtida nas compras superfaturas nas áreas da Educação e Saúde, por exemplo, e na realização das obras públicas, estas, sim, megafaturadas. E foi sempre assim em nossa história republicana.
Não foi deste modo que FHC governou, inclusive aprovando a emenda da reeleição após um ano de “negociações” com o Congresso? Como vocês acham que “operava”, por exemplo, a coligação PSD-PTB, que mandava no Brasil até 1964? E os militares ? Estes não precisaram nem fechar o Congresso, como seus equivalentes cucarachas fizerem no resto da América Latina, porque sabiam que ele era comprável no atacado e no varejo.
Não me entendam mal.
Corrupção deve ser combatida e punida com todo o rigor, e é provável que José Dirceu tenha concebido todo esse esquema mesmo. Ele é o melhor, ou talvez o único, quadro produzido pelo PT com visão abrangente suficiente para elaborar uma estratégia de poder de “esquerda” num país socialmente desigual,mas com uma economia moderna e dinâmica, inserida no sistema capitalista internacional e submetida às regras deste.
Portanto, não vamos “forçar a barra” na avaliação desse julgamento e chegar ao ponto de endeusar o nosso judiciário. Ele é tão, ou mais, comprometido com esse sistema de privilégios e saque dos recursos públicos vigente no Brasil quanto a “classe política”.
E, no entanto, vejo pessoas aqui no Facebook chamarem um cangaceiro como Gilmar Mendes de patriota simplesmente porque ele está condenando todo mundo. É até compreensível. Pelo senso comum, só Lewandowski e Luiz Toffoli são “comprometidos com outros interesses que não o da justiça”. Os demais são “isentos e impolutos”. Agora, se querem realmente acabar ou, pelo menos, diminuir o índice da corrupção, mudem, para começar, o sistema eleitoral brasileiro: fim do voto obrigatório, vinculação do voto para presidente com o dos deputados federais etc.
Não há outra saída além desta para o aperfeiçoamento das nossas instituições políticas, com ou sem José Dirceu.
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