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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


VERBOS NOVOS E HORRÍVEIS
Ricardo Freire

Não, por favor, nem tente me disponibilizar alguma
coisa, que eu não quero. 
Não aceito nada que pessoas, empresas ou organizações
me disponibilizem. É uma questão de princípios. 
Se você me oferecer, me der, me vender, me emprestar,
talvez eu venha a topar.

Até mesmo se você tornar disponível, quem sabe, eu 
aceite. Mas, se  você insistir em disponibilizar, nada
feito.

Caso você esteja contando comigo para operacionalizar 
algo, vou dizendo desde de já: pode ir tirando seu
cavalinho da chuva. Eu não operacionalizo nada para 
ninguém e nem compactuo com quem operacionaliza.

Se você quiser, eu monto, eu realizo, eu aplico, eu
ponho em operação.
Se você pedir com jeitinho, eu até implemento, mas
operacionalizar, jamais.
O quê? Você quer que eu agilize isso para você? 
Lamento, mas eu não sei  agilizar nada. Nunca
agilizei. Está lá no meu currículo: faço tudo, menos 
agilizar.
Precisando, eu apresso, eu priorizo, eu ponho na
frente, eu dou um gás. Mas agilizar,desculpe, não 
posso, acho que matei essa aula.

Outro dia mesmo queriam reinicializar meu computador.
Só por cima do meu cadáver virtual. Prefiro comprar um 
computador novo a reinicializar o antigo. Até porque 
eu desconfio que o problema não seja assim tão grave.
Em vez de reinicializar, talvez seja o caso de
simplesmente reiniciar, e pronto.

Por falar nisso, é bom que você saiba que eu parei de 
utilizar. Assim, sem  mais nem menos. Eu sei, é uma
atitude um tanto radical da minha parte, mas eu não
utilizo mais nada. Tenho consciência de que a cada dia
que passa mais e mais pessoas estão utilizando, mas eu 
parei. Não utilizo mais. Agora só uso. E recomendo. Se
você soubesse como é mais elegante, também deixaria de utilizar e passaria a usar.
Sim, estou me associando à campanha nacional contra os verbos que acabam em "ilizar".

Se nada for feito, daqui a pouco eles serão mais
numerosos do que os terminados simplesmente em "ar". 

Todos os dias, os maus tradutores de livros de
marketing e administração  disponibilizam mais e mais 
termos infelizes, que imediatamente são
operacionalizados pela mídia, reinicializando palavras
que já existiam  e eram perfeitamente claras e 
eufônicas.
A doença está tão disseminada que muitos verbos
honestos, com currículo de ótimos serviços prestados, 
estão a ponto de cair em desgraça entre pessoas de
ouvidos sensíveis.
Depois que você fica alérgico a disponibilizar, como 
vai admitir, digamos, "viabilizar"?

É triste demorar tanto tempo para a gente se dar 
conta de que "desincompatibilizar" sempre foi um 
palavrão.

Precisamos reparabilizar nessas palavras que o pessoal
inventabiliza só  para complicabilizar.

Caso contrário, daqui a pouco nossos filhos vão 
pensabilizar que o certo é ficar se expressabilizando
dessa maneira. Já posso até ouvir as reclamações:

"Você não vai me impedibilizar de falabilizar do jeito 
que eu bem quilibiliser".

Problema seu. Me inclua fora dessa. 

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