REFAZENDA - 1975 - GILBERTO GIL
Quando finalmente entrou em estúdio com sua banda em meados de 1975, Gil já sabia o que desejava. Refazenda pintou como uma idéia de rever tudo, de voltar às raízes e de relembrar o sertão – com a música que vinha a partir de Luiz Gonzaga, ligada mais ao pop nordestino do que às manifestações da música folclórica, como havia sido com ‘Expresso 2222’.
Gil reencontrou Dominguinhos na gravação do disco "Cantar" de Gal Costa, ocasião em que o sanfoneiro foi contratado pela Philips e Gil ajudou na produção de um disco. Os irmãos Moacyr (baixista apelidado de Momó) e Perinho Albuquerque (maestro) eram amigos dos anos 60 – desde o espetáculo "Nós, por Exemplo", na Salvador de 1964 – e haviam acompanhado os baianos no exílio londrino, onde Gil conheceu o baterista Chiquinho Azevedo.
"No álbum Refazenda eu já trago a experiência com o violão ovation, com as novas tecnologias e com os novos pedais, para tocar coisas mais ligadas ao original nordestino". E o acordeom de Dominguinhos serve para manter presente o espírito do baião. Eu vinha de uma aproximação muito grande com o rock, mas dei marcha-ré e me afastei dessa ponta da seta, voltando lá pro fundo da história. Não estava necessariamente solitário nisso, pois todo o pessoal que estava começando – como Alceu Valença e Geraldinho Azevedo – estavam de uma certa forma com um compromisso com a música regional", analisa Gil.
A produção do disco começou com o resgate de "Essa é pra Tocar no Rádio", que Gil resolveu utilizar com o registro feito em 1973 – com Rubão Sabino no baixo e Aloisio Milanes no piano elétrico. Aquele take 2, gravado ao vivo no estúdio – com Gil cantando e fazendo o complicado riff de violão – pouco difere do take 1 aproveitado no CD "Cidade do Salvador". Salvo pelo acordeom de Dominguinhos, adicionado em overdub somente no take 2.
Uma das mais fortes do disco, "Pai e Mãe" teve muita repercussão. Segundo Gil, "foi o primeiro manifesto da nova afetividade que se desenvolvia na época, indiscriminada com relação à sexo. Por ter sido bem construída, com exemplares de homem e mulher no pai e na mãe, ficou bem protegida e não rendeu distorções por conta da letra que fala de ´aprender a beijar outros homens’", lembra Gil. "Meu pai ficou muito surpreso e encantado com esta música, que tornou-se uma unanimidade nos shows – como é até hoje Se Eu Quiser Falar com Deus", comenta. "Não era sobre sexo, mas sobre afeto, e Caetano chegou a dizer que é a música mais incrível sobre afetividade que nossa geração já produziu".
Lado 1
1. Ela - 2:00
2. Tenho Sede - 02:55
3. Refazenda - 06:42
4. Pai e Mãe - 09:53
5. Jeca Total - 13:49
6. Esse é Pra Tocar no Rádio - 16:40
Lado 2
1. Ê, povo, ê - 19:48
2. Retiros Espirituais - 24:00
3. O Rouxinol - 28:53
4. Lamento Sertanejo - 31:33
5. Meditação - 35:57
* Todas as músicas são de Gil, com exceção de "Tenho Sede" (Dominguinhos e Anastácia), "O Rouxinol" (Gil e Jorge Mautner) e "Lamento Setanejo" (Gil e Dominguinhos).
Gilberto Gil - violão, guitarra, voz
Dominguinhos - acordeom
Moacyr Albuquerque - baixo
Rubão Sabino - baixo
Frederiko - violão (O Rouxinol)
Chiquio Azevedo - bateria, percussão
Tuti Moreno - bateria (Jeca Total)
Hermes e Ariovaldo - percussão
Jorginho, Celso e Geraldo - flautas
Altamiro Carrilho - flauta (Pai e Mãe)
Maciel e Bogado - trombone
Formiga, Barreto e Niltinho - trompete
Luiz Paulo - bombardino
Aloísio Milanes - piano elétrico
Canhoto - cavaquinho
Dino - violão de 7 cordas
Perinho Albuquerque - direção musical, arranjos
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