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quinta-feira, 10 de julho de 2014

DO DELÍRIO COTIDIANO

A tarefa era simples, apenas descobrir o que o bistrô serviria no almoço. Em caso de nada extravagante, sentar e comer. A tentativa da empreitada começou pelo meio mais prosaico, perguntando para o atendente:

- O que é o almoço?

- É prato feito.

- Certo, e o que vem no prato feito?

- Frango ou bife.

- Que bom, e o que mais?

- É prato feito.

- Certo, além do frango ou do bife, o que mais vem no prato feito?

- É prato feito

- Feijão, arroz, massa e frango ou bife?

- Isso. Feijão, arroz, massa, batata frita e frango.

- Perfeito, eu quero um com bife

- Não quer frango?

- Não, bife.

- É frango assado.

- Sim. Não pode ser bife?

- Pode sim, mas o frango é assado.

- Bife.

- Certo. Arroz, feijão, massa, batata frita e bife. Arroz, feijão, massa, batata frita e bife, Arroz, feijão, massa, batata frita e bife...

O prato chegou em minutos. Arroz, feijão, bife e polenta. Sem massa, sem batata frita. Mas com farinha de mandioca. Colocaram farinha de mandioca com vontade ali. Como se tivessem passado por uma indústria moageira no trânsito entre a cozinha e a minha mesa.

Tudo bem. Pedi um refrigerante. O dono do bistrô deteve-se a examinar meu prato por um bom tempo e disse:

- Não veio o macarrão!

- Tudo bem.

- Ah, mas colocaram nhoque.

Olhei aquela massa uniforme e amarelada, mais dura do que a vida, maior que uma carteira de cigarros.

- Isso é nhoque?

- É. Nhoque de colher. Bom, né?

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