Paulo César Batista de Faria, o Paulinho da Viola, nasceu em 1942, no Rio de Janeiro.
No site de Paulinho da Viola há o seguinte texto sobre Sinal Fechado:
Em 1969, foi o vencedor do "Festival da Record" com
"Sinal fechado". Sobre a música, Paulinho respondeu o seguinte ao
site Almanaque Brasil:
Quando fiz Sinal Fechado, não pensava na importância que
poderia ter para aquele momento ou para o futuro. Não tinha a pretensão de que
atravessasse décadas e entrasse para a história como divisor de águas. A música
foi feita num período da minha vida que parecia meio nebuloso, como se eu
estivesse num sonho. A gente estava vivendo um momento difícil, mas não pensava
em fazer música de protesto. Só algum tempo depois fui convencido que Sinal
Fechado só poderia ter surgido naquele momento.
Havia muita dificuldade das pessoas falarem. Viviam
angustiadas, sentindo aquela pressão enorme. Era uma coisa tão pesada, como se
as pessoas não tivessem consciência do que estava por vir e do que estava
acontecendo. Na música acontecia o Tropicalismo, que sacudiu muita coisa. Havia
discussão. Havia o pessoal ligado à música mais tradicional, que abominava
aquilo, que achava uma alienação. E havia o outro lado, que propunha um
rompimento, questionando uma série de valores. Isso tudo no bojo de um processo
político muito difícil.
Como isso pôde resultar numa música? Para mim, virou uma
coisa simples: a impossibilidade de duas pessoas conversarem. Me lembro de como
a música surgiu. O cenário era o Monumento dos Pracinhas, por onde passei
muito, desde menino. Aquele lugar sempre foi especial para mim. Sempre achei
aquilo muito bonito. Tinha a sensação de que estava num ônibus lotado. Eu via
uma pessoa na frente e precisava falar com ela, e ela queria falar comigo. Mas
não podia, porque o ônibus estava cheio. A pessoa descia e eu, desesperado, não
conseguia falar. Ela me dava um adeus e o ônibus partia. Essa imagem ficou tão
forte que me ensejou a escrever. E depois evoluiu para a ideia das pessoas se
encontrando num sinal de trânsito.
Não tinha essa consciência (do sinal como metáfora da época
da composição). Foi uma coisa meio instintiva. Era uma angústia que se traduziu
na letra. Tanto que, quando comecei, tinha forma de samba-canção. Mas eu queria
uma coisa mais áspera. E para isso, fiz uma seqüência de acordes com certa dissonância,
algumas inversões, usando o violão e fazendo arpejos - acordes pouco usados no
meu trabalho.
No site de Paulinho da Viola há o seguinte texto sobre Sinal Fechado:
Sinal Fechado é um evento raro. Fundiram-se nesse ponto de
1969 a música erudita moderna e o samba. Não é difícil imaginar que Paulinho da
Viola ouvia obras de compositores como Malcon Arnold, como ele nos confirma,
mas Sinal Fechado não é apenas uma experimentação ou uma fusão bem sucedida de
concertos modernos com a música brasileira. É algo mais.
Muitos pensam que a letra dessa música é um retrato da vida
urbana na época da ditadura militar brasileira, que no ano anterior tinha
realizado o seu pior evento até então ao suprimir os direitos constitucionais
do cidadão através do AI-5. A ditadura acabou há tempos e um novo olhar nos
mostra que esta obra não foi superada na forma, no conteúdo, na experiência
estética e na abrangência de sua letra. Sinal Fechado faz mais sentido hoje do
que quando foi composta. A estética fria e tensa não nos é mais tão estranha. É
o hino do desencontro, do mundo contemporâneo, das cidades movimentadas, dos
sinais fechados sempre presentes que nos forçam a observar as pessoas por
dentro dos carros, da vida urbana, da necessidade de se buscar um lugar no futuro.
Sinal Fechado já buscava seu lugar no futuro quando foi composta e certamente
conseguiu.
Olá, como vai?
Sinal Fechado
(Paulinho da Viola)
Olá, como vai?
Eu vou indo e você,
tudo bem?
Tudo bem, eu vou
indo, correndo
Pegar meu lugar no
futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo
em busca
De um sono tranqüilo,
quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto
tempo...
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos
negócios...
Oh, não tem de que
Eu também só ando a
cem
Quando é que você
telefona?
Precisamos nos ver
por aí
Pra semana, prometo,
Talvez nos vejamos,
quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto
tempo...
Tanta coisa que eu
tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira
das ruas
Eu também tenho algo
a dizer
Mas me foge a
lembrança
Por favor, telefone,
eu preciso beber
Alguma coisa
rapidamente
Pra semana...
O sinal...
Eu procuro você...
Vai abrir! Vai abrir!
Prometo, não esqueço
Por favor, não
esqueça
Não esqueço, não
esqueço
Adeus...
Nenhum comentário:
Postar um comentário