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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

MÚSICA NA SEXTA

Paulo César Batista de Faria, o Paulinho da Viola, nasceu em 1942, no Rio de Janeiro.

Em 1969, foi o vencedor do "Festival da Record" com "Sinal fechado". Sobre a música, Paulinho respondeu o seguinte ao site Almanaque Brasil:

Quando fiz Sinal Fechado, não pensava na importância que poderia ter para aquele momento ou para o futuro. Não tinha a pretensão de que atravessasse décadas e entrasse para a história como divisor de águas. A música foi feita num período da minha vida que parecia meio nebuloso, como se eu estivesse num sonho. A gente estava vivendo um momento difícil, mas não pensava em fazer música de protesto. Só algum tempo depois fui convencido que Sinal Fechado só poderia ter surgido naquele momento.

Havia muita dificuldade das pessoas falarem. Viviam angustiadas, sentindo aquela pressão enorme. Era uma coisa tão pesada, como se as pessoas não tivessem consciência do que estava por vir e do que estava acontecendo. Na música acontecia o Tropicalismo, que sacudiu muita coisa. Havia discussão. Havia o pessoal ligado à música mais tradicional, que abominava aquilo, que achava uma alienação. E havia o outro lado, que propunha um rompimento, questionando uma série de valores. Isso tudo no bojo de um processo político muito difícil.

Como isso pôde resultar numa música? Para mim, virou uma coisa simples: a impossibilidade de duas pessoas conversarem. Me lembro de como a música surgiu. O cenário era o Monumento dos Pracinhas, por onde passei muito, desde menino. Aquele lugar sempre foi especial para mim. Sempre achei aquilo muito bonito. Tinha a sensação de que estava num ônibus lotado. Eu via uma pessoa na frente e precisava falar com ela, e ela queria falar comigo. Mas não podia, porque o ônibus estava cheio. A pessoa descia e eu, desesperado, não conseguia falar. Ela me dava um adeus e o ônibus partia. Essa imagem ficou tão forte que me ensejou a escrever. E depois evoluiu para a ideia das pessoas se encontrando num sinal de trânsito.

Não tinha essa consciência (do sinal como metáfora da época da composição). Foi uma coisa meio instintiva. Era uma angústia que se traduziu na letra. Tanto que, quando comecei, tinha forma de samba-canção. Mas eu queria uma coisa mais áspera. E para isso, fiz uma seqüência de acordes com certa dissonância, algumas inversões, usando o violão e fazendo arpejos - acordes pouco usados no meu trabalho.

No site de Paulinho da Viola há o seguinte texto sobre Sinal Fechado:

Sinal Fechado é um evento raro. Fundiram-se nesse ponto de 1969 a música erudita moderna e o samba. Não é difícil imaginar que Paulinho da Viola ouvia obras de compositores como Malcon Arnold, como ele nos confirma, mas Sinal Fechado não é apenas uma experimentação ou uma fusão bem sucedida de concertos modernos com a música brasileira. É algo mais.

Muitos pensam que a letra dessa música é um retrato da vida urbana na época da ditadura militar brasileira, que no ano anterior tinha realizado o seu pior evento até então ao suprimir os direitos constitucionais do cidadão através do AI-5. A ditadura acabou há tempos e um novo olhar nos mostra que esta obra não foi superada na forma, no conteúdo, na experiência estética e na abrangência de sua letra. Sinal Fechado faz mais sentido hoje do que quando foi composta. A estética fria e tensa não nos é mais tão estranha. É o hino do desencontro, do mundo contemporâneo, das cidades movimentadas, dos sinais fechados sempre presentes que nos forçam a observar as pessoas por dentro dos carros, da vida urbana, da necessidade de se buscar um lugar no futuro. Sinal Fechado já buscava seu lugar no futuro quando foi composta e certamente conseguiu.



Sinal Fechado
 (Paulinho da Viola)

Olá, como vai?
 Eu vou indo e você, tudo bem?
 Tudo bem, eu vou indo, correndo
 Pegar meu lugar no futuro, e você?
 Tudo bem, eu vou indo em busca
 De um sono tranqüilo, quem sabe?
 Quanto tempo...
 Pois é, quanto tempo...
 Me perdoe a pressa
 É a alma dos nossos negócios...
 Oh, não tem de que
 Eu também só ando a cem
 Quando é que você telefona?
 Precisamos nos ver por aí
 Pra semana, prometo,
 Talvez nos vejamos, quem sabe?
 Quanto tempo...
 Pois é, quanto tempo...
 
 Tanta coisa que eu tinha a dizer
 Mas eu sumi na poeira das ruas
 Eu também tenho algo a dizer
 Mas me foge a lembrança
 Por favor, telefone, eu preciso beber
 Alguma coisa rapidamente
 Pra semana...
 O sinal...
 Eu procuro você...
 Vai abrir! Vai abrir!
 Prometo, não esqueço
 Por favor, não esqueça
 Não esqueço, não esqueço
Adeus...

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