"A senhora condessa de Lorsange era uma dessas sacerdotisas
de Vênus cuja fortuna é obra de uma figura encantadora, de muito comportamento
mau e de muita trapaça, e cujos títulos, por mais pomposos que sejam, não se
encontram nos arquivos de Cítera, forjados pela impertinência que lhes dá forma
e mantidos pela tola incredulidade de quem os dá. Morena, muito viva, de belo
corpo, olhos negros e dotados de uma expressão prodigiosa, muito espírito e,
sobretudo, aquela incredulidade da moda que, dando mais chiste às paixões, faz
procurar com muito mais cuidado hoje a mulher em quem julgamos encontrá-lo.
Filha de grande comerciante da Rue Saint-Honoré, foi criada com uma irmã três
anos mais nova que ela, num dos melhores conventos de Paris onde, até os quinze
anos, nenhum conselho, mestre, bom livro ou talento lhe foi recusado. Nessa
época fatal para a virtude de uma jovem, tudo lhe faltou num único dia."
Justine ou As Desgraças da Virtude - Marquês de Sade -
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