Antônio Moreira da Silva nasceu no Rio de Janeiro, em 1902.
Iniciou a carreira artística ainda na década de 1920, cantando música romântica em bares e bailes pela cidade do Rio de Janeiro. Em 1931, foi contratado pela Odeon e lançou seu primeiro disco, com as macumbas "Ererê" e "Rei de Umbanda", ambas de Getúlio Marinho.
Segundo todos que o conheceram, sua imagem de malandro e boêmio se tratava apenas de um personagem. Ele era, na verdade, um cidadão exemplar e cumpridor de seus deveres.
Em 1952, transferiu-se para a gravadora Continental e no disco de estréia lançou os sambas "Cavaleiro de Deus", de Airton Amorim e Ferreira Gomes, e "Na subida do morro", de sua autoria e Ribeiro Cunha, com acompanhamento de Severino Araújo e Orquestra Tabajara. A música foi interpretada por Moreira em diversos discos e também no filme "Maria 38" (1959), direção Watson Macedo.
Imaginei uma letra dessa num tempo politicamente correto como o atual. Causaria alvoroço e passeatas.
Na Subida Do Morro
Moreira da Silva / Ribeiro Cunha
Na subida do morro me contaram
Que você bateu na minha nêga
Isso não é direito
Bater numa mulher
Que não é sua
Deixou a nêga quase nua
No meio da rua
A nêga quase que virou presunto
Eu não gostei daquele assunto
Hoje venho resolvido
Vou lhe mandar para a cidade
De pés juntos
Vou lhe tornar em um defunto
Você mesmo sabe
Que eu já fui um malandro malvado
Somente estou regenerado
Cheio de malícia
Dei trabalho à polícia
Prá cachorro
Dei até no dono do morro
Mas nunca abusei
De uma mulher
Que fosse de um amigo
Agora me zanguei consigo
Hoje venho animado
A lhe deixar todo cortado
Vou dar-lhe um castigo
Meto-lhe o aço no abdômen
E tiro fora o seu umbigo
Aí meti-lhe o aço, quando ele vinha caindo disse,
- 'Morengueira, você me feriu",
Eu então disse-lhe:
- 'É claro, você me desrespeitou, mexeu com a minha nega'.
Você sabe que em casa de vagabundo, malandro não pede emprego,
está armado? Eu quero é ver gordura que a banha está cara!
e pra mim tem que ser vegetal por causa do colesterol,
Aí meti a mão lá na duana, saquei da peixeira, sou Pernambucano, peguei o Vargolino pelo abdome, desci pelo duodeno, vesícula biliar e fiz-lhe uma tubagem; ele caiu, bum!, todo ensangüentado.
E as senhoritas e senhoras, como sempre, nervosas:
- "Meu Deus, esse homem morre, Moço! Coitado, olha aí, está se esvaindo em sangue'
Aí veio aquela baba de quiabo.
- Minha senhora, dê-lhe óleo a canforado, penicilina, estreptomicina crebiosa em grazida e até vacina Sabin'
Mas o homem já estava frio, estava na horizontal,
Agora, malandro que é malandro não denuncia o outro, espera para tirar a forra.
Então diz o malandro:
Vocês não se afobem
Que o homem dessa vez
Não vai morrer
Se ele voltar dou prá valer
Vocês botem terra nesse sangue
Não é guerra, é brincadeira
Vou desguiando na carreira
A justa já vem
E vocês digam
Que estou me aprontando
Enquanto eu vou me desguiando
Vocês vão ao distrito
Ao delerusca se desculpando
Foi um malandro apaixonado
Que acabou se suicidando.
Com Dicionário Cravo Albin
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