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domingo, 15 de fevereiro de 2015

LEITURA DE DOMINGO

CARTAS NA RUA (Trecho)

Charles Bukowski

Todas as rotinas tinham armadilhas e apenas os carteiros regulares as conheciam. Todo o dia era a mesma merda, e você precisava estar preparado para um estupro, um assassinato, cães ou algum tipo de insanidade. Os regulares não revelavam seus segredinhos. Era a única vantagem que tinham – exceto saberem seus itinerários de cor. Era de matar para um novato, principalmente que bebia a noite inteira, ia para a cama às duas, levantava as quatro e meia depois de trepar e cantar a noite toda, e quase conseguindo sair ileso de tudo isso.

Um dia eu andava pela rua e o percurso corria bem, embora fosse uma rota nova, e pensei, Jesus Cristo, seja a primeira vez em dois anos que terei tempo para almoçar.

Eu sofria de uma ressaca horrível, mas mesmo assim tudo ia bem até chegar um bolo de cartas endereçadas a uma igreja. O endereço não tinha número, apenas o nome da igreja e do bulevar que ficava em frente. Subi, mareado, as escadas. Não encontrei a caixa de correio não havia ninguém por ali. Algumas velas ardiam. Pequenas bacias para mergulhar os dedos. E um púlpito vazio a me encarar, e todas as estátuas, de um vermelho pálido, azuis, amarelas, as aberturas fechadas, uma manhã fodida de calor.

Jesus Cristo, pensei.

E fui embora.

Dei a volta pela lateral da igreja e topei com uma escada que descia. Atravessei um porta aberta. Você sabe o que eu vi? Uma fila de banheiros. E chuveiros. Mas estava escuro. Todas as luzes apagadas. Como, diabos, esperam que um homem encontre uma caixa de correspondência no escuro? Então avistei o comutador. Apertei a chave e as luzes da igreja se ascenderam, dentro e fora. Avancei até a sala seguinte e havia batinas de padres estendidas numa mesa. Havia também um garrafa de vinho.

Pelo o amor de Deus, pensei, quem no mundo senão eu seria pego numa cena como essa?

Agarrei a garrafa de vinho, dei um bom gole, deixei as cartas sobre as batinas e voltei a passar pelos chuveiros e banheiros. Apaguei as luzes, dei uma boa cagada no escuro e fumei um cigarro. Pensei em tomar uma chuveirada, mas podia enxergar as manchetes: CARTEIRO É FLAGRADO BEBENDO O SANGUE DE CRISTO E TOMANDO BANHO NU NUMA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA.

Então, finalmente, não sobrou tempo para almoçar e quando voltei Jonstone me pôs no relatório por estar vinte e três minutos fora do horário programado.

Mais tarde descobri que a correspondência da igreja devia ser entregue na casa paroquial da esquina. Mas agora, claro, já sabia onde dar uma cagada e tomar um banho quando estivesse na pior.

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