Páginas

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

LUGAR NO MUNDO

“É preciso conquistar o seu lugar no mundo”. “É necessário conquistar o seu espaço”. Clichês clássicos. Normalmente, quem diz gosta de dar um ar de novidade na frase. Que até é correta. E deveria ser seguida por: “E respeitar o espaço e o lugar dos outros”.

Não me refiro ao lugar e ao espaço metafórico que a frase propõe. Me refiro à sua cadeira, aos seus ouvidos. Tenho certeza de que se cada um respeitasse seu lugar o mundo seria um lugar bem mais agradável de frequentar. 

Você está sentado em seu lugar no ônibus, preparado para uma viagem de quase quatro horas. O sujeito sentado na poltrona de trás acha que merece escorar seu pé descalço (já teve viagem em que só eu estava calçado, quase invadi a cabine do motorista pra não me sentir um maluco deslocado e solitário, mas temi o pior) bem ao seu alcance. Enquanto ouvem, você e ele, um novo sucesso do forró, que ele prefere ouvir sem fones. A senhora no banco ao lado resolve arrumar a bolsa, que dentro tem um saco de supermercado, daqueles barulhentos, e enquanto vasculha o conteúdo da bolsa fica lhe cutucando com os cotovelos.

No cinema o casal atrás de você resolve que o filme sem a interpretação deles dos fatos não é a mesma coisa. E a interpretação é tão genial que não se importam de dividir essas informações com o resto do público do cinema. Enquanto, claro, apoiam a perna na sua cadeira e a balança livremente.


Decididamente, é preciso conquistar o seu lugar do mundo. Mas o mais difícil é mantê-lo a salvo das invasões bárbaras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário