João Lutfi, o Sérgio
Ricardo, nasceu em 1932 em Marília, SP. Ingressou, em 1940, no Conservatório de Música de Marília,
São Paulo, para estudar piano e teoria musical. Desde pequeno ouvia seu pai
tocar alaúde e sua mãe cantar.
Em 1960, gravou o LP "A bossa romântica de Sérgio
Ricardo", lançado pela Odeon, com destaque para sua canção
"Pernas". Obteve muito sucesso, em seguida, com "Zelão", que já apresentava uma ruptura com a temática "amor,
sorriso e flor" da bossa nova.
Sérgio Ricardo é sempre lembrado pela sua inusitada
participação no II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Ao
tentar apresentar a classificada “Beto Bom de Bola”, foi vaiado a ponto de não
conseguir cantar ou se fazer ouvir. Foi desclassificado ao quebrar o violão e
atirá-lo na plateia.
(Por coincidência ou ironia, a música vencedora do festival,
Ponteio, de Edu Lobo e Capinan, dizia em seu refrão: “Quem me dera agora
eu tivesse a viola pra cantar”.)
Em 1974 Sérgio gravou a trilha sonora de um filme que
dirigiu, “A Noite do Espantalho”. O disco, que tem produção e arranjos de
Sérgio Ricardo, conta com a participação de Alceu Valença e Geraldo Azevedo, que
também atuam no filme.
Sobre o disco, Alceu Valença conta em seu site:
“Eu e Geraldo fomos
convidados a participar da série Disco de Bolso, do Pasquim, ao lado de Sérgio
Ricardo. O projeto desandou, mas Sérgio, que ia dirigir um filme rodado em Nova
Jerusalém, no sertão de Pernambuco, me disse: “Você será o espantalho”.
Aceitei, gravei as músicas da trilha, fui para Recife, fiz shows por lá. Um
produtor da TV Globo Nordeste me assistiu e me indicou para a Som Livre, com a
qual assinei meu primeiro contrato para um trabalho solo.”
É deste disco a música Martelo a Bala e Facão.
Martelo a bala e facão
(Sérgio Ricardo)
Zé Tulão é chegada a tua hora
Vá fazendo o teu
último pedido
É na faca é na foice
é no estampido
É no verso é na rima
e sem demora
Já que tu vai correr
comece agora
Que no fim da peleja
esta Maria
Vai levar das minhas
mãos a luz do dia
Que só sendo jagunço
em qualquer lida
Pode o cabra possuir
tudo na vida
E entregar a uma
mulher toda alegria
Treme a terra e o
trovão se arrebenta
Toda vez que um
vaqueiro se enfurece
Mãos pro céu se
levantam numa prece
Corre o fraco e o
forte não se aguenta
Pára o rio o mar não
se movimenta
E se então é por amor
a luta dobra
Pois coragem de amar
tenho e de sobra
Se acabou Zé do Cão
prepara a cova
Que eu te pego te
alejo e dou-te sova
E te faço rastejar
pior que cobra
É o inferno no meu
canto de guerra
Pois consigo arrancar
da pedra o pranto
O meu nome é temido
em todo canto
Onde voam as aves
sobre a terra
E se existe um amor
atras da serra
Não há nada que feche
o meu caminho
Eu enfrento a vereda
e todo espinho
Ouve bem Zé Tulão
segura o tombo
Que eu te capo te
esfolo caço e zombo
Sou leão e tu és o
passarinho
Se é o inferno no teu
canto de guerra
É no inferno o meu
canto de paz
Por amor eu derrubo
Satanás
Bem e mal são a luta
desta terra
Mas comigo o que é
mal a lança ferra
Corre Cão Pé de Vento
e Lucifer
Corre todo diabo que
vier
Pelo bem desse amor
digo e não nego
Eu enfrento um
batalhão e não me entrego
Zé do Cão tu pra mim
é uma mulher
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