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terça-feira, 30 de abril de 2013

A IMBECILIDADE NÃO TEM LIMITES

Fã faz plástica facial para ficar com o rosto igual ao da Angelina Jolie


A americana Stefanini, fã da atriz Angelina Jolie, fez uma cirurgia na face para ficar com o rosto idêntico ao da atriz americana.

Stefanini vendeu uma casa, no valor de U$$ 260 mil dólares, para pagar a cirurgia e passou a morar em um trailer. Ela acredita que irá recuperar o dinheiro cobrando para se apresentar na mídia.

Apesar de ter ficado bastante parecida com Jolie, a americana não gostou muito e disse que vai processar os médicos para recuperar parte do dinheiro. "Era para a minha voz ter ficado igual também, além disso, não estou com a fisionomia idêntica como os cirurgiões prometeram", disse. 

PRIMEIROS PARÁGRAFOS INESQUECÍVEIS



Naquele ano de 1925, quando floresceu o idílio da mulata Gabriela e do árabe Nacib, a estação das chuvas tanto se prolongara além do normal e necessário que os fazendeiros, como um bando assustado, cruzavam-se nas ruas a perguntar uns aos outros, o medo nos olhos e na sua voz:

- Será que não vai parar?

Gabriela, cravo e canela - Jorge Amado - 1958

FRASE DO DIA

“Como eu cheguei a Hollywood? De trem.”
John Ford

FIFA

Na Copa das Confederações e na Copa do Mundo de 2014 será proibido fumar nos estádios, assistir a partidas de futebol em pé e xingar jogadores, árbitros ou torcedores. 


Mas a porra da caxirola do Carlinhos Brown, que a torcida do Bahia arremessou às pencas para dentro do gramado da Fonte Nova no Ba-Vi de domingo, está liberada.


De olho na Copa, jornal inglês critica Caxirola: "poupem-nos"
   Terra

O lançamento da caxirola, instrumento musical licenciado pela Fifa e que deve ser amplamente usado durante a Copa do Mundo de 2014, foi ironizado nesta segunda-feira pelo jornal inglês The Guardian. A publicação comparou o pequeno chocalho feito de plástico e inventado pelo músico Carlinhos Brown com as vuvuzelas que marcaram o Mundial de 2010, na África do Sul.

"Se você achava que as vuvuzelas eram ruins, espere até ouvir a caxirola", escreveu John Crace, em um dos blogs da publicação. "Poupem-nos do som da Copa do Mundo de 2014 no Brasil" foi a chamada para o texto.

O instrumento foi lançado no clássico entre Bahia e Vitória, pelo Campeonato Baiano, neste domingo, na Arena Itaipava Fonte Nova. Espécie de chocalho, a caxirola não empolgou e chegou a ser jogada no campo como protesto pelo resultado da partida – o Vitória venceu por 2 a 1.

​Para o The Guardian, o lançamento do instrumento é uma prova de que nenhum momento de espontaneidade deixará de ser explorado comercialmente. De acordo com a análise, as vuvuzelas africanas eram mais autênticas, não pareciam planejadas.

"Parecia que os amantes do futebol na África do Sul estavam empolgados por sediar o Mundial e estavam aproveitando da sua própria maneira".

O jornalista descreve a Caxirola como uma peça de plástico nas cores verde e amarelo, pequena suficiente para caber em uma mão e parecida com uma granada, que faz "um inofensivo e não muito alto chocalhar".

"Os brasileiros deveriam ter ido além e entregado garrafas de valium para os fãs de futebol chacoalharem", disse o texto, citando a medicação calmante forte e de acesso controlado.

DAS MADRUGADAS

Sempre atento, professor Valdir Machado envia importantíssima lembrança.

Escutem o que o Dom Salvador fez antes de rumar pros USA. Um clássico de nossa "black music". Isto tudo vai desencadear os bailes funk dos anos 70 no RJ. Bons dias!



 

Por Tárik de Souza

"Este não é apenas um disco seminal, recuperado pelo trabalho meticuloso do titã pesquisador Charles Gavin. É um estuário. Todos os rios negros que formaram o funk/hip hop nativo confluem para ele. Comandado pelo pianista paulista Salvador Silva Filho, o Dom Salvador, Som, Sangue e Raça, de 1971, um ano depois da explosão de Tim Maia, cataliza a formação bossa nova & jazz do lider com rhythm & blues de integrantes como o saxofonista Oberdã Magalhães, sobrinho do mestre do samba enredo Silas de Oliveira e futuro líder da Banda Black Rio, que desde o grupo Impacto 8 (entre outros Robertinho Silva, bateria, Raul de Souza, trombone) já vinha tentando agregar MPB com Stevie Wonder & James Brown. Entram ainda na mistura samba, sotaque nordestino e até o lado negro gato da Jovem Guarda representado pela presença autoral de Getúlio Cortes (irmão do posterior Gerson King Combo, o nosso James Brown cover) em Hei Você!, uma das faixas mais destacadas. Além destes elementos e da presença de Rubão Sabino (baixo), que ainda se assinava Rubens, do baterista Luis Carlos (outro que integraria a Black Rio), o disco arregimenta o trompete e flugelhorn do músico de sinfônica Darcy no lugar do original Barrosinho (mais um fundador da BR), que estava excursionando durante a gravação, mas seria o titular da banda.

Egresso do Beco das Garrafas e a caminho dos EUA, para onde se mudaria em definitivo ainda nos 70, Dom Salvador liderou o Copa Trio ao lado do baixista Gusmão e do batera Dom Um Romão. O grupo serviria de suporte para as decolagens de Elis Regina e Jorge Ben (antes do Jor), entre outros. Formou também o Rio 65 Trio com o baterista Edison Machado. O noneto Abolição (aí incluído o vocal de sua esposa, Mariá) foi uma saída para o desgastado formato trio da bossa nova. E não só. Cada faixa de Som, Sangue e Raça é diferente da anterior por conta de um cuidadoso trabalho de fusão de elementos sonoros até contraditórios como o pique folk de retreta de Folia de Reis moldado em acordeon, sopros (até tu, tuba?) e uma intrusa cuíca. Moeda, Reza e Cor tem um encadeamento de sopros que lembra os arranjos de Gil Evans para Miles Davis, mas logo desagua num solo de piano funkiado pelo baixo elétrico. Samba do Malandrinho levado pianinho (no elétrico digitar de Don Salvador) remete para a bossa nova com direito a improvisos jazzísticos.

Já Tio Macrô, repleto de reviradas de sopro e contraritmo sustentado por baixo engata num samba funk. Intercalando grandiloquencia e balanço, Uma Vida abre com declamação e uma longa introdução pianística depois picotada pelos sopros. E tome funk na veia como nas instrumentais Guanabara e Number One. O piano elétrico alicerça O Rio, um funk andante que desata em samba de escola com direito a apitos. Também a construção de sopros funkiados da faixa título acaba num samba, movido a cuíca. Com acordeon e costura acústica, Tema pro Gaguinho lembra o choro dos regionais, só que devidamente turbinado. Hey! Você (belíssima a condução de sopros) combina R&B com um ritmo de baião que antecipa a fusão de Burt Bacharach. A tamborilada Evo emoldura um funkafro com cuíca e coro. A riqueza das combinações torna o resultado muito acima da média do pop ralo das FMs, o que talvez explique o fato de o disco não ter estourado a despeito de tantos ganchos no recheio. Agora em CD remasterizado haveria até uma nova chance, se a situação não tivesse mudado. Para pior."

1 - Uma Vida -- Dom Salvador E Abolição -- (Arnoldo Medeiros & Dom Salvador)
2 - Guanabara -- Dom Salvador E Abolição -- (Arnoldo Medeiros & Dom Salvador)
3 - Hei! Você -- Dom Salvador E Abolição -- (Getúlio Cortes & Nelsinho)
4 - Som, Sangue E Raça -- Dom Salvador E Abolição -- (Marco Versiani & Dom Salvador)
5 - Tema Pro Gaguinho -- Dom Salvador E Abolição -- (Dom Salvador)
6 - O Rio -- Dom Salvador E Abolição -- (Arnoldo Medeiros & Dom Salvador)
7 - Evo -- Dom Salvador E Abolição -- (Pedro Santos & Dom Salvador)
8 - Number One -- Dom Salvador E Abolição -- (Dom Salvador)
9 - Folia De Reis -- Dom Salvador E Abolição -- (Paulo Silva & Jorge Canseira)
10 - Moeda, Reza E Cor -- Dom Salvador E Abolição -- (Marcos Versiani & Dom Salvador)
11 - Samba Do Malandrinho -- Dom Salvador E Abolição -- (Dom Salvador)
12 - Tio Macrô -- Dom Salvador E Abolição -- (Arnoldo Medeiros & Dom Salvador)

Músicos:

Piano: Dom Salvador
Saxofone e flauta: Oberdan Magalhães
Guitarra: José Carlos
Vocal: Getúlio Cortês
Baixo: Rubão Sabino
Bateria e vocais: Luiz Carlos Santos
Trompete e flugelhorn: Darcy
Vocal: Mariá
Percussão e vocal: Nelsinho
Trombone: Serginho

segunda-feira, 29 de abril de 2013

CORREIO DO CORVO


Compositor Paulo Vanzolini morre aos 89 anos em São Paulo

FOLHA DE SÃO PAULO

O compositor e zoólogo Paulo Vanzolini morreu neste domingo aos 89 anos, vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia. Ele estava internado desde a noite da última quinta (25) -- seu aniversário -- na UTI do hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Deixa mulher, a cantora Ana Bernardo, e cinco filhos do primeiro casamento.
O velório, reservado a familiares e amigos, será nesta manhã, no Albert Einstein. O enterro deve ocorrer durante a tarde, no Cemitério da Consolação.

Um dos ícones do samba paulistano, criou clássicos como "Ronda", "Volta por Cima" e "Praça Clóvis", interpretados por grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Maria Bethânia e Paulinho da Viola.

No mês passado, Vanzolini foi um dos 87 artistas a se apresentar em evento no Teatro Oficina promovido pela Casa de Francisca, pequena casa de shows paulistana. Também em março, recebeu o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) pelo conjunto da obra.

Compositor bissexto, de músicas que chegavam a demorar um ano a ficar prontas, Vanzolini não tocava nenhum instrumento (para escrever as canções, entoava-as a amigos músicos) e tinha, assumidamente, um "grande problema com a afinação" (como disse em entrevista ao "Jornal do Brasil", em 1970), mas se firmou como um grande compositor de samba.

Compunha nas horas vagas do trabalho como zoólogo de renome internacional especializado em répteis. Com doutorado em Harvard, Vanzolini foi por três décadas diretor do Museu de Zoologia da USP, onde trabalhou por mais de 50 anos.
"Não tenho carreira de compositor. Música, para mim, é um hobby. Trabalho 15 horas por dia como zoólogo, adoro minha profissão. Não sei cantar, nem sei a diferença entre o tom maior e o menor", disse, em 1997, em entrevista à Folha.

Filho do engenheiro Carlos Alberto Vanzolini, Paulo Emílio Vanzolini nasceu em São Paulo em 1924 e morou, dos quatro aos seis anos de idade, no Rio. Desde cedo, habituou-se a ouvir sambas nas rádios. Aos 18 anos, ao entrar na Faculdade de Medicina da USP, em 1942, passou a frequentar rodas paulistanas de samba.

Naquela época, aceitou um convite do primo Henrique Lobo para trabalhar no programa "Consultório Sentimental", de Cacilda Becker, de quem se tornaria amigo. No programa, falando como "doutor Edson Gama", Vanzolini dava receitas de emagrecimento.
Antes mesmo de concluir o curso universitário, ingressaria como pesquisador no Museu de Zoologia. A medicina na USP, ele sempre disse, foi só um caminho para facilitar a admissão no doutorado em zoologia em Harvard.

Em 1948, casou-se com Ilze, secretária da reitoria da USP, com quem teria cinco filhos, incluindo o diretor de cinema e sócio da Conspiração Filmes, Tony Vanzolini. Embarcou com Ilze para os EUA, onde faria o doutorado e conviveria com músicos de jazz.
A primeira composição, "Ronda", é de 1951, ano em que também publicou o volume de poemas "Lira", pelos Cadernos do Clube de Poesia de São Paulo. A canção seria gravada só dois anos depois, em 1953, no lado B de um LP de Inezita Barroso, de quem era amigo.

A música ficaria famosa na voz de Marcia, nos anos 1960, e ganharia o país graças também a intérpretes como Bethânia (que a incluiu, em 1978, no LP "Álibi"), Carmen Costa, Angela Maria e Nora Ney.

Caetano Veloso fez uma referência melódica a "Ronda" em "Sampa", outro grande clássico paulistano. Vanzolini não via a referência como homenagem. "Uma música é considerada plágio quando tem oito compassos de outra. 'Sampa' tem 14 compassos de 'Ronda'. É uma citação", disse, ao "Jornal do Brasil", em 2000. Mas o compositor dizia não se importar, já que não gostava de "Ronda". "É muito piegas. Tem que gente que diz que 'Ronda' é o hino de São Paulo. Que belo hino! É a história de uma prostituta que vai matar o amante."

Nos anos 50, trabalhando na produção de programas musicais na Record, ficou amigo de outro grande representante do samba paulistano, Adoniram Barbosa Ðcom quem acabou nunca compondo, apesar de muitos planos nesse sentido.

Em 1963, foi a vez do cantor Noite Ilustrada lançar a segunda composição de Vanzolini a ser gravada, "Volta por Cima" --antes recusada por Inezita, que a considerou pouco comercial. A gravação, além de se tornar conhecida no país inteiro, foi incluída no filme "O Dragão da Maldade" contra o "Santo Guerreiro" (1969), que renderia a Glauber Rocha o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes. A música faria sucesso também na voz de Jair Rodrigues.

Só em 1967, mais de 20 anos depois de começar a compor, Vanzolini teria um disco inteiro gravado com suas canções. Produzido por seus amigos Luís Carlos Paraná (dono do lendário bar Jogral) e Marcus Pereira, "11 Sambas e uma Capoeira" teve músicas interpretadas por nomes como Chico Buarque ("Praça Clóvis" e "Samba Erudito"), Cristina Buarque ("Chorava no Meio da Rua") e o próprio Paraná ("Capoeira do Arnaldo"). Anos depois, esse seria considerado pelo compositor como seu único disco "que presta".
Vários outros anos se passariam até, em 1979, ele mesmo gravar suas músicas, em "Paulo Vanzolini por Ele Mesmo".

Embora tenha composto quase sempre sozinho, Vanzolini chegou a fazer parcerias, especialmente com Toquinho, que divide com ele a assinatura de músicas como "Na Boca da Noite" e "Boba".

Em 1993, depois de três décadas como diretor do Museu de Zoologia, teve aposentadoria compulsória, mas continuou trabalhando de segunda a sábado na instituição. "É a única coisa de que gosto, a única coisa que sei fazer [...]. Um dia eu nasci e já era zoólogo", comentou, em 2002, à revista "Scientific American Brasil".

Em 2009, foi retratado no documentário "Um Homem de Moral", de Ricardo Dias, que pôs imagens da metrópole para dialogar com canções como "Samba Erudito" e "Cuitelinho".
Nos últimos anos, Vanzolini já não costumava compor, apesar de ainda participar de shows, nem trabalhava no museu, embora colhesse os frutos de seu esforço -- em 2012, ganhou R$ 300 mil da Fundação Conrado Wessel por sua produção científica.

Em 2004, foi internado no Hospital Sírio Libanês, com problemas cardíacos. Mas o maior representante da boemia paulistana nunca dispensou sua cervejinha. "Isso os médicos ainda não me tiraram", disse à Folha em 2009. E até os últimos dias, todo sábado, segundo seu amigo também compositor Eduardo Gudin, ele ia ao Bar do Alemão, na zona oeste da capital, ouvir sua atual mulher, a cantora Ana Bernardo, e lá ficava até a madrugada chegar.

CINEMA

"Abismo Prateado" transforma música de Chico Buarque em drama sobre separação

Inspirado em "Olhos nos Olhos", filme estrelado por Alessandra Negrini acompanha jornada de um dia na vida de mulher abandonada pelo marido

Luísa Pécora, iG São Paulo

Uma canção de Chico Buarque lançada em 1976 serviu de ponto de partida para o cineasta cearense Karim Aïnouz criar seu quarto longa de ficção, "O Abismo Prateado", que estreia nesta sexta-feira (26). Na imaginação do diretor, "Olhos nos Olhos" deixou de ser música e se tornou a carta de amor que a protagonista, Violeta, escreve para o marido que a abandonou:

"Quando você me deixou, meu bem, me disse para ser feliz e passar bem / Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci, mas depois, como era de costume, obedeci / Quando você me quiser rever já vai me encontrar refeita, pode crer / Olhos nos olhos, quero ver o que você faz / Ao sentir que sem você eu passo bem demais."
                                          Alessandra Negrini em "O Abismo Prateado". Foto: Divulgação

Tendo as primeiras estrofes da canção de Chico Buarque como base, "O Abismo Prateado" acompanha a trajetória de Violeta durante apenas um dia, quando descobre que seu casamento acabou.

Pela primeira vez, o diretor de "Madame Satã", "O Céu de Suely" e "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo" trabalha com uma atriz tão famosa quanto Alessandra Negrini, e o filme faz um claro e bem-sucedido esforço de despi-la dos traços de celebridade e tranformá-la em uma mulher comum.
                                            Karim Aïnouz, Alessandra Negrini e Chico Buarque

Aos 40 anos e casada desde os 22, Violeta é dentista, usa roupas simples e vai ao trabalho de bicicleta. Depois de uma intensa relação sexual com o marido, toma banho, seca os cabelos e toma café em um apartamento recém-comprado na zona sul do Rio de Janeiro.

Acompanha o filho de 14 anos em parte do caminho até a escola, segue para o trabalho, recebe seus pacientes e, durante um intervalo, vai à academia.

Desesperada e sem conseguir entrar em contato com Djalma, Violeta decide procurá-lo em Porto Alegre. Após perder o último voo e sem encontrar forças para voltar para casa, ela pega um táxi para Copacabana para uma noite de sofrimento, reflexão e autodescobrimento que incluirá novas amizades, uma frenética sessão de dança e, é claro, a canção de Chico Buarque.

"O Abismo Prateado" carrega algumas das marcas de Aïnouz, como protagonistas solitários, papéis femininos fortes e uma notável sensibilidade ao tratar de seus dramas pessoais.

Apesar dos poucos diálogos e dos longos silêncios, o som é uma das características mais marcantes do longa, no qual o mar, uma obra, o trânsito e o rádio do táxi se combinam para sugerir o estado emocional de Violeta, afastando a necessidade de recorrer a explicações excessivas ou cenas óbvias de choradeira e desespero.

Seguindo o mesmo tom do diretor, Negrini acerta ao fazer um trabalho sutil e contido, usando a respiração como o fio condutor da personagem - pesada e ofegante nos momentos de desespero, silenciosa e tranquila conforme os versos de "Olhos nos Olhos" ganham sentido.

CLÁSSICOS PARA A VIDA ETERNA

DAY AFTER DAY (1977) ALAN PARSONS

Sérgio Luiz Gallina



Alan Parsons nasceu em Londres em 20 de dezembro de 1948. Produtor de discos, atuou como engenheiro de som no estúdio Abbey Road, onde trabalhou em produções dos Beatles e no disco The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd.


Lançado pela Arista Records, I Robot (1977), baseado na série Os Robôs, de Isaac Asimov, que explora temas filosóficos sobre inteligência artificial, é o segundo álbum da banda The Alan Parsons Project.


And picture a memory
Of days in your life
You knew what it meant to be happy and free
With time on your side
----
Remember your daddy
When no one was wiser
Your ma used to say
That you would go further than he ever could
With time on your side
----
Think of a boy with the stars in his eye
Longing to reach them but frightened to try
Sadly, you'd say, someday, someday
----
But day after day
The show must go on
And time slipped away
Before you could build any castles in Spain
The chance had gone by
----
With nothing to say
And no one to say it to
Nothing has changed
You've still got it all to do
Surely you know
The chance has gone by
----
Think of a boy with the stars in his eye
Longing to reach them but frightened to try
Sadly, you'd say, someday, someday
----
But, day after day
The show must go on
And you gaze at the sky
And picture a memory of days in your life
With time on your side
----
With time on your side
(day after day the show must go on)...
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FRASE DO DIA

"O meu show faz sucesso do Oiapoque ao Chuí. São dois: um no Oiapoque e outro no Chuí."
Eduardo Dusek

domingo, 28 de abril de 2013

CURTA NO TOA


O Troco


Gênero:  Ficção
Subgênero:  Comédia
Diretor:  André Rolim
Elenco:  Cinira Fiuza, Liéser Touma, Siomara Schröder
Duração:  11 min     Ano:  2008     Bitola:  HDV
País:  Brasil     Local de Produção:  SP
Cor:  Colorido
Sinopse:  Uma atendente de tele-marketing tenta convencer um casal a adquirir mais um produto de sua empresa.

LEITURA DE DOMINGO


Para ler ouvindo Um Homem Chamado Alfredo

Vista Cansada

 OTTO LARA RESENDE


Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa ideia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou. Fugiu enquanto pôde do desespero que o roía – e daquele tiro brutal.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia a dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

CASAMENTO GAY

Volta à tona a questão do casamento gay por conta da sua aprovação na França. Eu não sou a favor. Mas também não sou contra.

Pra falar a verdade, sou a favor de poucas coisas. Que me deixem quieto e que usem fones de ouvidos nos ônibus, por exemplo.

Eu, sinceramente, não entendo essa questão do reconhecimento da sociedade. Entendo as questões legais, de plano de saúde, herança etc. Mas acho que isso poderia ser resolvido de outras maneiras, via testamentos, sei lá.

Mas a questão de querer ser reconhecido como união não entendo. Nem de ser orgulhoso por sua condição. Não basta a gente aceitar as pessoas como elas são? Temos que aplaudir?

Eu, por exemplo, acho que toco “Acontece”, do Cartola, melhor do que ninguém. E claro que eu me acho injustiçado cada vez que falam do Cartola na TV ou no rádio e esquecem de mim. Mas o que vou fazer?? Uma passeata tocando meu violão pela cidade? Me enforcar com a corda mi do meu cavaquinho?

Eu me recolho à minha insignificância e vou tocar violão dentro de casa.

FRASE DO DIA

"Os trópicos não são tristes, faltou um olhar carnavalesco ao Lévi-Strauss."
Jorge Mautner

DAS MADRUGADAS

Autumn Leaves  - 1964 in Milan

E olha a turma:

Miles Davis - trumpet
Wayne Shorter - tenor sax
Herbie Hancock - piano
Ron Carter - bass
Tony Williams - drums


 

O NASCIMENTO DE VÊNUS

A deusa de Botticelli incorpora o ideal de beleza do Renascimento: seus membros claros são longos e elegantes, os ombros se inclinam, a barriga é sensualmente arredondada e sua expressão de rosto refinado apresenta algo de etéreo. A pintura pode ser vista como a manifestação física de uma beleza considerada divina e perfeita.

Tudo ao redor da deusa são simbolos da primavera, época de novos começos e renovação. A figura icônica de Vênus encontra-se no centro da composição, perfeitamente equilibrada.

O quadro provavelmente foi encomendado por um rico membro da família Medici, Lorenzo di Pierfrancesco de' Medici, para ser colocado em sua vila em Castello, próximo a Florença. Na itália renascentista era comum que obras com cenas mitológicas fossem encomendadas para decorar móveis de madeira.

Botticelli rompeu com essa tradição ao pintar O Nascimento de Vênus, pois produziu a primeira obra em tela para mostrar uma imagem mitológica em grande escala - tamanho que só era usado para pinturas religiosas.
 

Detalhes de O Nascimento de Vênus se destacam:

1. Vênus:

A deusa surge como uma mulher feita. Sua mão direita cobre um dos seios, enquanto a esqueda segura os longos cabelos dourados sobre a região púbica. Sua pose clássica, conhecida como Vênus pudica, vai contra representações de outros artistas sobre a deusa, que aparecia de forma mais erótica. A vênus de Botticelli representa o ideal de beleza italiano do século XV.

2. Concha:

A deusa está prestes a deixar seu barco, uma concha ancorada no centro da composição. Embora o nome do quadro se refira ao nascimento de Vênus, este fato se deu em circunstâncias menos poéticas. De acordo com a mitologia grega, a deusa teria surgido da espuma fértil criada quando os órgãos genitais de seu pai, Urano, foram jogados no mar.

3. Zéfiro e Clóris:

O deus alado Zéfiro, personificação do vento oeste, traz movimento à cena. Suas bochechas são representadas de modo que o espectador acredite que ele está soprando para que as ondas empurrem Vênus em direção à praia. O deus aparece com uma mulher, provavelmente Clóris, uma ninfa moral roubada pelo deus para ser sua noiva.

4. Flora:

A figura feminina à direita é identificada como Flora, a deusa das flores. Uma figura alegórica, a deusa representa a primavera, tempo de renovação. Ao redor de seu pescoço aparecem folhas de murta, a árvore sagrada de Vênus.

O Nascimento de Vênus

Ficha Técnica - O Nascimento de Vênus:
Autor: Sandro Botticelli
Ano: 1485
Técnica: Têmpera sobre tela
Tamanho: 172,5cm x 278,5cm
Movimento: Renascimento

Fonte: Universia Brasil

DAS MADRUGADAS

Há quem sambe muito bem, há quem sambe por sambar... E há, por incrível que pareça, quem não entenda a genialidade de João Gilberto. Sem mais.

sábado, 27 de abril de 2013

CAYMMI


A difícil conquista de Dorival Caymmi

Inveja, ciúmes, indiferença... Livro conta como foi a chegada do baiano ao Rio

Julio Maria - O Estado de S.Paulo

Dorival Caymmi deitava na rede com a cabeça quente. Ao contrário da ideia de que tudo lhe chegava pelas mãos do vento, de que sua vida foi uma eterna tarde à sombra de um coqueiro em Itapuã, Caymmi sofreu calado. 

Sua chegada ao estrelato na voz de Carmen Miranda cantando O Que É Que a Baiana Tem?, em 1938, lançada no filme Banana da Terra, o fez vítima duas vezes: Carmen - não havia como ser o contrário - ofuscou a relevância de Caymmi. Diante do carisma avassalador da ‘pequena notável’, pouca gente queria saber que cabeça estava por trás daquelas canções. 

E O Que É Que a Baiana Tem? foi só o começo. Menos de um ano depois, em 1939, Carmen embarcou para os Estados Unidos levando mais três composições na bagagem: A Preta do Acarajé, Roda Pião e O Dengo (lançado em 1941). Nos anos em que autor de música mal recebia direito autoral, Caymmi sentia o peso da indiferença ao seu nome no mundo novo que Carmen conquistava.


A classe dos compositores do Rio de Janeiro também não recebeu o baiano com um festival de acarajés. Afinal, como é que um sujeito de fala mansa saía das terras lá de cima cheio de risinhos para ganhar Carmen logo na chegada? 

Notas em jornais o desqualificavam de tal forma que o periódico O Imparcial, da Bahia, assumiu sua defesa, questionando "de onde poderia sair tamanha resistência?". Caymmi incomodava o mundo sem mover um fio do seu bigode.

O Que É Que a Baiana Tem? pisou também no pé de Ary Barroso. A música para o filme Banana da Terra seria A Baixa do Sapateiro, de Ary, se ele não tivesse pedido um aumento em seu cachê por saber que os direitos da canção passariam a ser do produtor Wallace Downey assim que o filme fosse lançado no exterior. Ary saiu da jogada e Caymmi entrou. Ganhou a gravação de Carmen e a ira de Ary. 

O jornalista e compositor Antonio Maria quis saber de Ary o que ele achava do baiano. "Ele veio ruim da Bahia, só melhorou no meio do caminho...", disse. E o acusou ainda de ter praticado plágio. Jogou tão baixo que teve de reconhecer depois que foi longe demais. Já nos fins dos anos 90, quando a neta Stella Caymmi o entrevistou para lançar a biografia Dorival Caymmi, O Mar e o Tempo, o compositor disse que se ressentia sobretudo de episódios do início de carreira. "Ele sentia não ter tido sua importância reconhecida."

Stella volta agora às memórias do avô com O Que É Que a Baiana Tem - Dorival Caymmi na Era do Rádio, uma detalhada pesquisa que traça um momento histórico de vitórias e percalços de um dos maiores compositores brasileiros. Caymmi foi atormentado, sofreu pressões de diferentes grupos da sociedade dos anos 40 e 50 e foi atingido por ciúme, inveja e indiferença mesmo depois de cair nas graças de Carmen Miranda.

Seu primeiro contrato com uma gravadora veio logo depois do estouro da Baiana, uma experiência que o deixou traumatizado. A Odeon estipulava simplesmente seis sucessos obrigatórios por ano. Que Caymmi se virasse para fazer outras baianas virarem fenômeno de vendas. O compositor olhou aquilo desconfiado: "Isso não vai dar certo e você vai me mandar embora", disse aos diretores da companhia. A profecia se cumpriu em 1941. Uma história conta que a Odeon o demitiu por sua demora em criar novas músicas. O fato é que, no olho da rua, Dorival Caymmi voltou aos diretores da Odeon apenas para lembrar: "Eu disse que isso não iria dar certo".

Stella tem suas desconfianças sobre as razões que teriam motivado Villa-Lobos a desencorajar Caymmi dos estudos de música. O interessante do trabalho do baiano era seu primitivismo, defendia Villa. Logo, interferências a ele com conceitos acadêmicos poderiam colocar em risco sua autenticidade. Mais tarde, Caymmi contou à neta que seu sonho era estudar música. "E desde quando estudo atrapalha?", questiona Stella.

Em 2014 serão celebrados os 100 anos de nascimento de Dorival, morto em 2008. Dentre os lançamentos, um disco em família (gravado por Nana, mãe de Stella, Danilo e Dori), que também será lançado em DVD, trará uma canção inédita. Cantiga de Cego foi feita em parceria com o poeta Jorge Amado para ser trilha da adaptação teatral de seu livro Terras do Sem Fim. Mais do que suscitar revisionismos, 2014 pode ser a chance para se colocar o pingo certo no único i de Caymmi.

HOMENAGEM


Ella Fitzgerald ganha homenagem do Google por 96 anos

Ella Fitzgerald foi homenageada pelo Google nesta quinta-feira (25) com um doodle em comemoração ao dia em que faria 96 anos anos. 

A cantora de jazz americana, conhecida como "primeira dama da canção", venceu 14 prêmios durante a carreira e é apontada como uma das maiores vozes do século XX.
Ella Fitzgerald é homenageada pelo Google no dia em que completaria 96 anos

Em seus 59 anos de carreira, ela recebeu a Medalha Nacional das Artes do presidente americano Ronald Reagan, bem como a Medalha Presidencial da Liberdade, do sucessor de Reagan, George H. W. Bush. Ela morreu em 1996, aos 79 anos.

CARA

Cara, cada um fala o que quer, cara. Eu, cara, por exemplo, cara, dou meus palpites sem ninguém perguntar, cara. Mas, cara, exagerar com alguns cacoetes fica meio chato, cara.


Cara, estava escutando, cara, TV ontem, cara, porque eu sou assim, cara, eu não assisto TV, sabe, cara? Eu escuto TV, cara. Desde que a gente andava, cara, com o Renato, cara. Aí, cara, escutei o vocalista, cara, daquela banda, cara, de Brasília, cara. O rock de Brasília foi revolucionário, cara, o Capital fez parte disso, cara. O Capital, cara, tocou com Renato, cara. Renato tava sempre com a gente, cara. Puta poeta, cara. Então, cara, tem gente que acha, cara, que o Capital, cara, é uma banda de cover, cara, que quer grana, cara. Gente... nada a ver, cara, a gente toca isso porque a gente fez parte disso, cara. Renato andava com a gente, cara.


Loop eterno... que coisa chata...

MÚSICA

Jane Duboc: “Não lamento por não estar na TV”

Cantora lança CD com pianista americano Jeff Gardner e diz que não sente falta da exposição dos anos 1980, quando emplacou músicas em novelas e sucessos no rádio

DANILO CASALETTI (Época)

Jane Duboc está de trabalho novo. Neste final de semana, dias 26 e 27 de abril, ela lançaHome is a river, CD gravado em parceria com o pianista americano Jeff Gardner. Os shows acontecem no Tom Jazz, em São Paulo, casa que Jane ajudou a fundar em 2005, quando foi casada com o empresário Paulo Amorim.

O álbum, gravado em apenas dois dias em um estúdio no interior de São Paulo, traz 12 composições de Gardner, algumas assinadas apenas pelo pianista e outras feitas em parceria com a própria Jane, Simone Guimarães e Maria Kem. “O disco ficou bem com a cara dele e com toda a nossa afinidade musical: jazz, bossa nova, samba, blues”, diz Jane, uma apaixonada por jazz desde pequena. 

Para o show, ela ainda selecionou canções de Dolores Duran, Johnny Alf e Duke Ellington.
Jane começou a cantar profissionalmente no início da década de 1970, ao lado de nomes como Raul Seixas e Egberto Gismonti. Nos anos 1980 - tempos bastante democráticos para a música brasileira – alcançou o sucesso com temas românticos, como “Chama da paixão”, “Sonhos” e “Besame”. Fase, segundo Jane, de muito trabalho, principalmente na televisão.

“Hoje em dia, aqui no Brasil, se você não tiver patrocínio, não conseguir participar de editais, você não faz mais nada”, diz Jane, que, apesar disso, nunca parou de gravar, além de escrever, compor, produzir e se apresentar em festivais de jazz pelo mundo todo. Nos anos 2000, Jane chegou a abrir uma gravadora, a Jam Music, pela qual lançou, além de trabalhos próprios, o primeiro disco do filho, o cantor e compositor Jay Vaquer.

ÉPOCA - Como conheceu o Jeff Gardner?

Jane Duboc – Nos conhecemos quando frequentávamos os mesmos lugares de jazz em São Paulo. Ele sempre me mostrava as canções dele. Certa vez, eu estava fazendo um show com o Egberto Gismonti e ele veio falar comigo. Logo depois, comecei a fazer um disco com versões em inglês das músicas do Jay (cantor, filho de Jane) e o chamei para me ajudar. Nessa convivência, ele foi me mostrando algumas composições e decidimos registrar em CD. Fomos a um estúdio em Araras (interior de São Paulo) e gravamos tudo em dois dias. O disco ficou bem com a cara dele e com toda a nossa afinidade musical: jazz, bossa nova, samba, blues.

ÉPOCA Você sempre gostou de cantar em inglês, não é?

Jane – Sempre. Em casa, minha mãe era fanática por Frank Sinatra e Ella Fitzgerald. Meu pai era fã das big bands de jazz. Ainda nova, fui para os Estados Unidos e cantava por lá, em tudo quanto era lugar.

ÉPOCA – Por isso, em 2009, você fez um disco só com canções do repertório da Ella?

Jane – Sim, fiz com o Victor Biglione (guitarrista). Ficou muito bonito. Ganhou o Prêmio da Música Brasileira de melhor disco de música estrangeira. São com canções que Ella mais regravou. Demos um toque mais brasileiro, para ficar um pouco diferente. De tanto que eu ouvi os discos da Ella, ela parece ser uma tia para mim. Lembro que eu até beijava as capas dos LPs dela, de tanto que gostava.

ÉPOCA – Você tinha uma gravadora, a Jam Music. Resolveu parar?

Jane - Sim, eu fechei. Fiz o disco com as canções do Jay (Sweet face of love - Jane Duboc sings Jay Vaquer) e, quando fui ver, a gravadora estava com alguns problemas. Hoje em dia não dá mais. Eu até tinha uma salinha no centro do Rio com pessoas trabalhando. Mas só gastei dinheiro. É muito difícil manter uma gravadora para artistas mais alternativos. Não dá para brigar com quem tem dinheiro de marketing para tocar em rádio ou TV. O YouTube é legal, mas as coisas acontecem de forma passageira por lá.

ÉPOCA - Você fez muito sucesso nos anos 1980 com canções românticas, como “Sonhos” e “Chama da paixão”. Sente falta dessa fase?

Jane – Não sinto. Eu havia gravado um disco e os diretores da Continental, gravadora na qual estava na época, disseram que eu precisava fazer algo que alcançasse um público maior. O Cido Bianchi, músico que foi do Jongo Trio, era meu amigo e me mostrou um jingle que ele tinha feito. Colocamos uma terceira parte na letra e gravamos. Era a “Chama da paixão”. É uma música bonita, tem uma melodia bonita e o arranjo do Lincoln Olivetti ficou supermoderno para a época. Eu sempre cantei o popular. Nos Estados Unidos, eu cantava música lírica nas igrejas, soul, jazz e blues em clubes de negros e bossa nova para os ricos. Também cantava rock em alguns clubes. Aliás, sempre cantei muito rock. Nunca tive o menor problema de sair do palco depois de ter cantando com o Hermeto Pascoal e, logo em seguida, cantar com o Raul Seixas.

ÉPOCA – Você ainda canta essas músicas?

Jane – Canto, claro. As pessoas sempre pedem. E o fato de elas terem tocado em novelas não significa que são canções ruins. São músicas lindas. É uma bobagem achar que o que é popular não tem qualidade. Isso em qualquer tipo de arte. “Chama da paixão” eu gravei em inglês recentemente. Gravei em um tom menor, ficou mais jazzística. O pessoal lá (nos Estados Unidos)gostou muito.

ÉPOCA - O canal Viva vem reprisando, já há algum tempo, edições do programa Globo de Ouro. Você já assistiu? Você esteve em vários...

Jane – Sim. Vejo também meus amigos. Foi uma época de muito trabalho. Comprei meu apartamento (risos). É preciso ganhar dinheiro também, não é? Hoje em dia, aqui no Brasil, se você não tiver patrocínio, não conseguir participar de editais, você não faz mais nada. Lembro-me da época em que trabalhava com Egberto (Gismonti), com o Toquinho. A gente saía fazendo show pelo país todo, ficava meses em cartaz, tudo sem patrocínio. Sempre dava certo. Hoje tudo tem que ser mega demais. Por isso estou nessa de piano e voz. Nem cenário tem. Mas tem música. E música de boa qualidade.

ÉPOCA – Mas você nunca deixou de trabalhar...

Jane - Nunca! O que acontece é que atualmente o espaço está bem menor. Não tem quase programas de música na televisão. Mas vou à Finlândia, me apresento em festival de jazz com o Wagner Tiso, vou a Portugal, ao Japão, aos Estados Unidos. Nunca parei. Já escrevi três livros para crianças. Um deles vai virar peça.

ÉPOCA – Hoje você tem outra visão do que é o sucesso?

Jane- Eu trabalho para servir à música. Nunca fui atrás de fama ou sucesso. Nunca me deslumbrei. Não me lamento por não estar na TV. Olho para o céu e agradeço. Não somos nada dentro do Universo. Está tudo bem.

ÉPOCA – Agora, você também é conhecida como mãe do Jay Vaquer...

Jane – O Jay é um espetáculo. Ele fez duas faculdades. Além de ser publicitário, é ator formado na Escola Célia Helena. Ele tem muito valor. O Jay sempre leu muito, por isso ele escreve muito bem. As letras dele são verdadeiras crônicas da atualidade. As melodias e harmonias são riquíssimas. E não sou eu que estou dizendo, todos os músicos e artistas que convivem com ele dizem isso. Ele é muito na dele. Casado há dez anos, me deu um neto que é a coisa mais fofa. Pelo volume das coisas que ele já fez, pelo número de fãs que ele tem, ele deveria ter um espaço maior na mídia.

FRASE DO DIA


"As mulheres são muito importantes para mim. Elas me deixam louco."
Ringo Starr

DAS MADRUGADAS


DAS MADRUGADAS


Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
   O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.


Vinícius de Moraes