Jane Duboc: “Não lamento por não estar na TV”
Cantora lança CD com pianista americano Jeff Gardner e diz que não sente falta da exposição dos anos 1980, quando emplacou músicas em novelas e sucessos no rádio
DANILO CASALETTI (Época)
Jane Duboc está de trabalho novo. Neste final de semana, dias 26 e 27 de abril, ela lançaHome is a river, CD gravado em parceria com o pianista americano Jeff Gardner. Os shows acontecem no Tom Jazz, em São Paulo, casa que Jane ajudou a fundar em 2005, quando foi casada com o empresário Paulo Amorim.
O álbum, gravado em apenas dois dias em um estúdio no interior de São Paulo, traz 12 composições de Gardner, algumas assinadas apenas pelo pianista e outras feitas em parceria com a própria Jane, Simone Guimarães e Maria Kem. “O disco ficou bem com a cara dele e com toda a nossa afinidade musical: jazz, bossa nova, samba, blues”, diz Jane, uma apaixonada por jazz desde pequena.
Para o show, ela ainda selecionou canções de Dolores Duran, Johnny Alf e Duke Ellington.
Jane começou a cantar profissionalmente no início da década de 1970, ao lado de nomes como Raul Seixas e Egberto Gismonti. Nos anos 1980 - tempos bastante democráticos para a música brasileira – alcançou o sucesso com temas românticos, como “Chama da paixão”, “Sonhos” e “Besame”. Fase, segundo Jane, de muito trabalho, principalmente na televisão.
“Hoje em dia, aqui no Brasil, se você não tiver patrocínio, não conseguir participar de editais, você não faz mais nada”, diz Jane, que, apesar disso, nunca parou de gravar, além de escrever, compor, produzir e se apresentar em festivais de jazz pelo mundo todo. Nos anos 2000, Jane chegou a abrir uma gravadora, a Jam Music, pela qual lançou, além de trabalhos próprios, o primeiro disco do filho, o cantor e compositor Jay Vaquer.
ÉPOCA - Como conheceu o Jeff Gardner?
Jane Duboc – Nos conhecemos quando frequentávamos os mesmos lugares de jazz em São Paulo. Ele sempre me mostrava as canções dele. Certa vez, eu estava fazendo um show com o Egberto Gismonti e ele veio falar comigo. Logo depois, comecei a fazer um disco com versões em inglês das músicas do Jay (cantor, filho de Jane) e o chamei para me ajudar. Nessa convivência, ele foi me mostrando algumas composições e decidimos registrar em CD. Fomos a um estúdio em Araras (interior de São Paulo) e gravamos tudo em dois dias. O disco ficou bem com a cara dele e com toda a nossa afinidade musical: jazz, bossa nova, samba, blues.
ÉPOCA Você sempre gostou de cantar em inglês, não é?
Jane – Sempre. Em casa, minha mãe era fanática por Frank Sinatra e Ella Fitzgerald. Meu pai era fã das big bands de jazz. Ainda nova, fui para os Estados Unidos e cantava por lá, em tudo quanto era lugar.
ÉPOCA – Por isso, em 2009, você fez um disco só com canções do repertório da Ella?
Jane – Sim, fiz com o Victor Biglione (guitarrista). Ficou muito bonito. Ganhou o Prêmio da Música Brasileira de melhor disco de música estrangeira. São com canções que Ella mais regravou. Demos um toque mais brasileiro, para ficar um pouco diferente. De tanto que eu ouvi os discos da Ella, ela parece ser uma tia para mim. Lembro que eu até beijava as capas dos LPs dela, de tanto que gostava.
ÉPOCA – Você tinha uma gravadora, a Jam Music. Resolveu parar?
Jane - Sim, eu fechei. Fiz o disco com as canções do Jay (Sweet face of love - Jane Duboc sings Jay Vaquer) e, quando fui ver, a gravadora estava com alguns problemas. Hoje em dia não dá mais. Eu até tinha uma salinha no centro do Rio com pessoas trabalhando. Mas só gastei dinheiro. É muito difícil manter uma gravadora para artistas mais alternativos. Não dá para brigar com quem tem dinheiro de marketing para tocar em rádio ou TV. O YouTube é legal, mas as coisas acontecem de forma passageira por lá.
ÉPOCA - Você fez muito sucesso nos anos 1980 com canções românticas, como “Sonhos” e “Chama da paixão”. Sente falta dessa fase?
Jane – Não sinto. Eu havia gravado um disco e os diretores da Continental, gravadora na qual estava na época, disseram que eu precisava fazer algo que alcançasse um público maior. O Cido Bianchi, músico que foi do Jongo Trio, era meu amigo e me mostrou um jingle que ele tinha feito. Colocamos uma terceira parte na letra e gravamos. Era a “Chama da paixão”. É uma música bonita, tem uma melodia bonita e o arranjo do Lincoln Olivetti ficou supermoderno para a época. Eu sempre cantei o popular. Nos Estados Unidos, eu cantava música lírica nas igrejas, soul, jazz e blues em clubes de negros e bossa nova para os ricos. Também cantava rock em alguns clubes. Aliás, sempre cantei muito rock. Nunca tive o menor problema de sair do palco depois de ter cantando com o Hermeto Pascoal e, logo em seguida, cantar com o Raul Seixas.
ÉPOCA – Você ainda canta essas músicas?
Jane – Canto, claro. As pessoas sempre pedem. E o fato de elas terem tocado em novelas não significa que são canções ruins. São músicas lindas. É uma bobagem achar que o que é popular não tem qualidade. Isso em qualquer tipo de arte. “Chama da paixão” eu gravei em inglês recentemente. Gravei em um tom menor, ficou mais jazzística. O pessoal lá (nos Estados Unidos)gostou muito.
ÉPOCA - O canal Viva vem reprisando, já há algum tempo, edições do programa Globo de Ouro. Você já assistiu? Você esteve em vários...
Jane – Sim. Vejo também meus amigos. Foi uma época de muito trabalho. Comprei meu apartamento (risos). É preciso ganhar dinheiro também, não é? Hoje em dia, aqui no Brasil, se você não tiver patrocínio, não conseguir participar de editais, você não faz mais nada. Lembro-me da época em que trabalhava com Egberto (Gismonti), com o Toquinho. A gente saía fazendo show pelo país todo, ficava meses em cartaz, tudo sem patrocínio. Sempre dava certo. Hoje tudo tem que ser mega demais. Por isso estou nessa de piano e voz. Nem cenário tem. Mas tem música. E música de boa qualidade.
ÉPOCA – Mas você nunca deixou de trabalhar...
Jane - Nunca! O que acontece é que atualmente o espaço está bem menor. Não tem quase programas de música na televisão. Mas vou à Finlândia, me apresento em festival de jazz com o Wagner Tiso, vou a Portugal, ao Japão, aos Estados Unidos. Nunca parei. Já escrevi três livros para crianças. Um deles vai virar peça.
ÉPOCA – Hoje você tem outra visão do que é o sucesso?
Jane- Eu trabalho para servir à música. Nunca fui atrás de fama ou sucesso. Nunca me deslumbrei. Não me lamento por não estar na TV. Olho para o céu e agradeço. Não somos nada dentro do Universo. Está tudo bem.
ÉPOCA – Agora, você também é conhecida como mãe do Jay Vaquer...
Jane – O Jay é um espetáculo. Ele fez duas faculdades. Além de ser publicitário, é ator formado na Escola Célia Helena. Ele tem muito valor. O Jay sempre leu muito, por isso ele escreve muito bem. As letras dele são verdadeiras crônicas da atualidade. As melodias e harmonias são riquíssimas. E não sou eu que estou dizendo, todos os músicos e artistas que convivem com ele dizem isso. Ele é muito na dele. Casado há dez anos, me deu um neto que é a coisa mais fofa. Pelo volume das coisas que ele já fez, pelo número de fãs que ele tem, ele deveria ter um espaço maior na mídia.
Cantora lança CD com pianista americano Jeff Gardner e diz que não sente falta da exposição dos anos 1980, quando emplacou músicas em novelas e sucessos no rádio
DANILO CASALETTI (Época)
Jane Duboc está de trabalho novo. Neste final de semana, dias 26 e 27 de abril, ela lançaHome is a river, CD gravado em parceria com o pianista americano Jeff Gardner. Os shows acontecem no Tom Jazz, em São Paulo, casa que Jane ajudou a fundar em 2005, quando foi casada com o empresário Paulo Amorim.
O álbum, gravado em apenas dois dias em um estúdio no interior de São Paulo, traz 12 composições de Gardner, algumas assinadas apenas pelo pianista e outras feitas em parceria com a própria Jane, Simone Guimarães e Maria Kem. “O disco ficou bem com a cara dele e com toda a nossa afinidade musical: jazz, bossa nova, samba, blues”, diz Jane, uma apaixonada por jazz desde pequena.
Para o show, ela ainda selecionou canções de Dolores Duran, Johnny Alf e Duke Ellington.
Jane começou a cantar profissionalmente no início da década de 1970, ao lado de nomes como Raul Seixas e Egberto Gismonti. Nos anos 1980 - tempos bastante democráticos para a música brasileira – alcançou o sucesso com temas românticos, como “Chama da paixão”, “Sonhos” e “Besame”. Fase, segundo Jane, de muito trabalho, principalmente na televisão.
“Hoje em dia, aqui no Brasil, se você não tiver patrocínio, não conseguir participar de editais, você não faz mais nada”, diz Jane, que, apesar disso, nunca parou de gravar, além de escrever, compor, produzir e se apresentar em festivais de jazz pelo mundo todo. Nos anos 2000, Jane chegou a abrir uma gravadora, a Jam Music, pela qual lançou, além de trabalhos próprios, o primeiro disco do filho, o cantor e compositor Jay Vaquer.
ÉPOCA - Como conheceu o Jeff Gardner?
Jane Duboc – Nos conhecemos quando frequentávamos os mesmos lugares de jazz em São Paulo. Ele sempre me mostrava as canções dele. Certa vez, eu estava fazendo um show com o Egberto Gismonti e ele veio falar comigo. Logo depois, comecei a fazer um disco com versões em inglês das músicas do Jay (cantor, filho de Jane) e o chamei para me ajudar. Nessa convivência, ele foi me mostrando algumas composições e decidimos registrar em CD. Fomos a um estúdio em Araras (interior de São Paulo) e gravamos tudo em dois dias. O disco ficou bem com a cara dele e com toda a nossa afinidade musical: jazz, bossa nova, samba, blues.
ÉPOCA Você sempre gostou de cantar em inglês, não é?
Jane – Sempre. Em casa, minha mãe era fanática por Frank Sinatra e Ella Fitzgerald. Meu pai era fã das big bands de jazz. Ainda nova, fui para os Estados Unidos e cantava por lá, em tudo quanto era lugar.
ÉPOCA – Por isso, em 2009, você fez um disco só com canções do repertório da Ella?
Jane – Sim, fiz com o Victor Biglione (guitarrista). Ficou muito bonito. Ganhou o Prêmio da Música Brasileira de melhor disco de música estrangeira. São com canções que Ella mais regravou. Demos um toque mais brasileiro, para ficar um pouco diferente. De tanto que eu ouvi os discos da Ella, ela parece ser uma tia para mim. Lembro que eu até beijava as capas dos LPs dela, de tanto que gostava.
ÉPOCA – Você tinha uma gravadora, a Jam Music. Resolveu parar?
Jane - Sim, eu fechei. Fiz o disco com as canções do Jay (Sweet face of love - Jane Duboc sings Jay Vaquer) e, quando fui ver, a gravadora estava com alguns problemas. Hoje em dia não dá mais. Eu até tinha uma salinha no centro do Rio com pessoas trabalhando. Mas só gastei dinheiro. É muito difícil manter uma gravadora para artistas mais alternativos. Não dá para brigar com quem tem dinheiro de marketing para tocar em rádio ou TV. O YouTube é legal, mas as coisas acontecem de forma passageira por lá.
ÉPOCA - Você fez muito sucesso nos anos 1980 com canções românticas, como “Sonhos” e “Chama da paixão”. Sente falta dessa fase?
Jane – Não sinto. Eu havia gravado um disco e os diretores da Continental, gravadora na qual estava na época, disseram que eu precisava fazer algo que alcançasse um público maior. O Cido Bianchi, músico que foi do Jongo Trio, era meu amigo e me mostrou um jingle que ele tinha feito. Colocamos uma terceira parte na letra e gravamos. Era a “Chama da paixão”. É uma música bonita, tem uma melodia bonita e o arranjo do Lincoln Olivetti ficou supermoderno para a época. Eu sempre cantei o popular. Nos Estados Unidos, eu cantava música lírica nas igrejas, soul, jazz e blues em clubes de negros e bossa nova para os ricos. Também cantava rock em alguns clubes. Aliás, sempre cantei muito rock. Nunca tive o menor problema de sair do palco depois de ter cantando com o Hermeto Pascoal e, logo em seguida, cantar com o Raul Seixas.
ÉPOCA – Você ainda canta essas músicas?
Jane – Canto, claro. As pessoas sempre pedem. E o fato de elas terem tocado em novelas não significa que são canções ruins. São músicas lindas. É uma bobagem achar que o que é popular não tem qualidade. Isso em qualquer tipo de arte. “Chama da paixão” eu gravei em inglês recentemente. Gravei em um tom menor, ficou mais jazzística. O pessoal lá (nos Estados Unidos)gostou muito.
ÉPOCA - O canal Viva vem reprisando, já há algum tempo, edições do programa Globo de Ouro. Você já assistiu? Você esteve em vários...
Jane – Sim. Vejo também meus amigos. Foi uma época de muito trabalho. Comprei meu apartamento (risos). É preciso ganhar dinheiro também, não é? Hoje em dia, aqui no Brasil, se você não tiver patrocínio, não conseguir participar de editais, você não faz mais nada. Lembro-me da época em que trabalhava com Egberto (Gismonti), com o Toquinho. A gente saía fazendo show pelo país todo, ficava meses em cartaz, tudo sem patrocínio. Sempre dava certo. Hoje tudo tem que ser mega demais. Por isso estou nessa de piano e voz. Nem cenário tem. Mas tem música. E música de boa qualidade.
ÉPOCA – Mas você nunca deixou de trabalhar...
Jane - Nunca! O que acontece é que atualmente o espaço está bem menor. Não tem quase programas de música na televisão. Mas vou à Finlândia, me apresento em festival de jazz com o Wagner Tiso, vou a Portugal, ao Japão, aos Estados Unidos. Nunca parei. Já escrevi três livros para crianças. Um deles vai virar peça.
ÉPOCA – Hoje você tem outra visão do que é o sucesso?
Jane- Eu trabalho para servir à música. Nunca fui atrás de fama ou sucesso. Nunca me deslumbrei. Não me lamento por não estar na TV. Olho para o céu e agradeço. Não somos nada dentro do Universo. Está tudo bem.
ÉPOCA – Agora, você também é conhecida como mãe do Jay Vaquer...
Jane – O Jay é um espetáculo. Ele fez duas faculdades. Além de ser publicitário, é ator formado na Escola Célia Helena. Ele tem muito valor. O Jay sempre leu muito, por isso ele escreve muito bem. As letras dele são verdadeiras crônicas da atualidade. As melodias e harmonias são riquíssimas. E não sou eu que estou dizendo, todos os músicos e artistas que convivem com ele dizem isso. Ele é muito na dele. Casado há dez anos, me deu um neto que é a coisa mais fofa. Pelo volume das coisas que ele já fez, pelo número de fãs que ele tem, ele deveria ter um espaço maior na mídia.
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