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segunda-feira, 22 de abril de 2013

VIDA CAMPESTRE

Os maiores entusiastas da vida campestre que eu conheço moram em centros urbanos, têm alguma grana e não se constrangem nem um pouco de usufruir dos privilégios de quaisquer destas condições.

A vida urbana tem seus problemas – engarrafamentos, vizinhos barulhentos, pessoas que apertam o pão no supermercado -, mas é uma conquista do ser humano. Da civilização sobre a barbárie. E mais do que isso: é uma opção.

As pessoas nascem, aqui ou acolá, e por influência da família ou da TV, decidem o que farão de suas vidas. Ou fazem o que está mais a mão pra viver, tocar a vida pra frente.

Nessa altura da vida o sujeito deve já ter a percepção de que gosta de andar em uma calçada de sapatos ou em um gramado espinhento com os pés descalços.

Os urbanos encantados com o rústico, estranhamente, decidem ficar na cidade. E passam o tempo chateando que não gostam de celular, que o frango do mercado não é igual ao caipira, que as buzinas o atazanam no trânsito... Juntam as economias e vão nas férias pro mato, onde o celular não pega e a comida deve ser conquistada na paulada, na lança ou no facão.

Ora, ora, Macieira, ora, ora.

Mas se esse é o ideal de vida, por que não ficar por lá? É só arremessar o telefone e o computador, simbolicamente, em uma avenida e se desnudar das camadas de civilização. Depois os sapatos e os antibióticos. Ficam todos na lixeira. Que usem o arbusto enquanto eu abuso das instalações hidráulicas. Deve ser bacana gente que manda empregados limparem os seus banheiros fazendo cocô no mato. Que espremam o xique-xique em busca de umas gotas de água enquanto eu tomo golões de água, de chope, de vinho, de uísque e de coca. Que protejam o dedão a socos dos bichos que sempre estão dispostos a morder alguém. Qualquer inseto aqui em casa é desencorajado por um detefon preto que tenho aqui que, suspeito, mataria até um pterodáctilo.

Que suem às bicas enquanto me refresco no ar refrigerado. Que fiquem lá, felizes. Contribuindo, inclusive, com esta atitude, para uma cidade melhor. É, acima de tudo, uma ação ecológica.
 
Luiggi

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