“Para mim é muito cedo, fui deitar dia claro, não consigo
definir aquele sujeito através do olho mágico. Estou zonzo, não entendo o
sujeito ali parado de terno e gravata, seu rosto intumescido pela lente. Deve
ser coisa importante, pois ouvi a campainha tocar várias vezes, uma a caminho
da porta e pelo menos três dentro do sonho. Vou regulando a vista, e começo a
achar que conheço aquele rosto de um tempo distante e confuso. Ou senão cheguei
dormindo ao olho mágico, e conheço aquele rosto de quando ele ainda pertencia
ao sonho. Tem a barba. Pode ser que eu já tenha visto aquele rosto sem barba,
mas a barba é tão sólida e rigorosa que parece anterior ao rosto. O terno e a
gravata também me incomodam. Eu não conheço muita gente de terno e gravata,
muito menos com os cabelos escorridos até os ombros. Pessoas de terno e gravata
que eu conheço, conheço atrás de mesa, guichê, não são pessoas que vêm bater à
minha porta. Procuro imaginar aquele homem escanhoado e em mangas de camisa,
desconto a deformação do olho mágico, e é sempre alguém conhecido, mas muito
difícil de reconhecer. E o rosto do sujeito assim frontal e estático embaralha
ainda mais o meu julgamento. Não é bem um rosto, é mais a identidade de um
rosto, que difere do rosto verdadeiro quanto mais você conhece a pessoa. Aquela
imobilidade é o seu melhor disfarce, para mim.”
Fantástico livro. Não só o primeiro parágrafo é inesquecível como o livro todo. Parabéns pela escolha.
ResponderExcluirPutz! O grande Chico Buarque nunca acertou a mão como escritor. Esse livro é chato como todos os outros!
ResponderExcluirCertamente o leitor que acha Chico Buarque chato deve se emocionar às lágrimas com as trepidantes aventuras de Sabrina e Júlia. E seu livro de cabeceira deve ser Poliana Moça.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNão falei isso, só disse que os livros dele são uma porcaria.
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