Quanto entro no supermercado um sujeito sentado na entrada me pede para lhe trazer, na volta, um pacote de bolachinhas recheadas.
Dentro do supermercado há algumas caixas de papelão onde eu posso
depositar comidas, roupas, brinquedos.
Quando saio, uma moça com filho no colo me
xinga porque não trouxe para ela um litro de leite para alimentar seu filho. No
caminho para casa, alguém me pede dinheiro para a passagem.
Abro a caixa do correio e vejo um envelope com alguns cartões
de Natal e um boleto para contribuição espontânea. De dentro do jornal salta um
boleto com valor a preencher para ajudar uma entidade beneficente qualquer.
Vou tomar banho, e no rádio alguém pede ajuda para outra
entidade. Na televisão, pedem que eu doe sangue e livros. Livros. Não basta ter
que ler, ler, ler como um desvairado, é preciso que você compre os livros e os passe
adiante.
O telejornal informa sobre uma enchente em uma cidade,
uma ventania em outra. As pessoas estão alojadas em ginásios de esportes esperando por
comida, cobertores e colchões. E, claro, já aparece o número de uma conta na qual é
possível depositar uma grana.
Eu sou pobre, e, sinceramente, me comovo com a dor dos outros.
Sei que a vida prega peças. E muito menos é justa. E creio que tudo isso acabe
banalizando a dor, o sofrimento e os apelos por ajuda.
E acho pouco provável que todas as pessoas bacanas e
sensíveis atendam toda essa demanda de solidariedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário