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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

MONÓLOGOS

Comentei dia desses que tenho escutado e percebido cada vez menos diálogos entre as pessoas. E cada vez ouço mais dois monólogos simultaneamente. Claro, estou partindo do princípio de que UM diálogo tenha UM assunto.


- Bom dia! Como vai?

- Bem, apesar da dor nas costas.

- Acordei com dor no ciático.

- Eu estou também com dor na gulliver.

- Eu também estava, mas já estou dobby. Me dói a gorlo.

- Agora me dói a espinhela.

- Me dói o mobral

- Em mim dói o sarapatel.

Diferentemente de Hyldon, aqui não tratamos das dores do mundo. Tratamos da dor de cada pessoa, dois assuntos diferentes. A minha dor, a sua dor. E assim seguem os embates. No ônibus, na volta pra casa, por exemplo:

- Olá, como foi seu dia?

- Correria. Muita ligação, muitos e-mails, todo mundo precisando de mim.

- Eu cheguei de manhã e na  minha caixa de mails tinha 500 para responder. Tudo passa por mim naquela empresa.

- Nem sei como consegui sair neste horário. Vou ter que continuar trabalhando em casa.

- Eu não sei nem a que horas vou conseguir dormir.

Quer dizer, a primeira pergunta foi feita simplesmente para a pessoa contar o seu dia, não para ouvir o dia do outro.

Mas se você quer realemente fazer o teste de dois monólogos, experimente começar assim uma conversa com alguém:

- Essa noite sonhei que...

Você não vai terminar a frase. Pelo menos não antes de ouvir todo o sonho da outra pessoa.

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