Comentei dia desses que tenho escutado e percebido cada vez menos
diálogos entre as pessoas. E cada vez ouço mais dois monólogos simultaneamente. Claro, estou partindo do princípio de que UM diálogo tenha UM
assunto.
- Bom dia! Como vai?
- Agora me dói a espinhela.
- Bom dia! Como vai?
- Bem, apesar da dor nas costas.
- Acordei com dor no ciático.
- Eu estou também com dor na gulliver.
- Eu também estava, mas já estou dobby. Me dói a gorlo.
- Agora me dói a espinhela.
- Me dói o mobral
- Em mim dói o sarapatel.
Diferentemente de Hyldon, aqui não tratamos das dores do
mundo. Tratamos da dor de cada pessoa, dois assuntos diferentes. A minha dor, a
sua dor. E assim seguem os embates. No ônibus, na volta pra casa, por exemplo:
- Olá, como foi seu dia?
- Correria. Muita ligação, muitos e-mails, todo mundo
precisando de mim.
- Eu cheguei de manhã e na minha caixa de mails tinha 500 para responder. Tudo passa por mim naquela empresa.
- Nem sei como consegui sair neste horário. Vou ter que
continuar trabalhando em casa.
- Eu não sei nem a que horas vou conseguir dormir.
Quer dizer, a primeira pergunta foi feita simplesmente para a pessoa contar o seu dia, não para ouvir o dia do outro.
Mas se você quer realemente fazer o teste de dois monólogos,
experimente começar assim uma conversa com alguém:
- Essa noite sonhei que...
Você não vai terminar a frase. Pelo menos não antes de ouvir
todo o sonho da outra pessoa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário