É claro que é profundamente lamentável o caso do menino
Bernardo, de Três Passos. É claro que agora surgiram inúmeros técnicos e
especialistas em psicologia infantil e familiar. É claro que só um louco pode
achar razoável que uma madrasta mate um garoto com a conivência do pai. (É claro
que não é um caso isolado, mas isso é outro assunto.)
O que mais me chamou a atenção nesse caso – e não sei por
que ainda fiquei surpreso – foi a mobilização de uma cidade inteira em torno do
que “todos já sabiam”. Bastou os responsáveis pela investigação afirmarem que a
madrasta assassinou o menino com a ajuda de uma amiga e a anuência do pai para
histórias e certezas virem à tona.
Vizinhos viam o menino esperar do lado de fora da casa o pai chegar, mesmo em dias de chuva. A empregada afirma que a madrasta já havia
tentado sufocar o menino. Professores reparavam no surrado agasalho que
Bernardo usava para ir à escola. Quando acionada pela justiça, após o menino ir se queixar
da falta de atenção do pai, para pleitear a guarda da criança, uma família amiga
preferiu não se indispor com o pai do garoto.
E agora a casa da família – que teve uma tentativa de incêndio criminoso
por parte de populares debelada pela delegada local – está cheia de
cartazes pesarosos pelo triste final da história.
Tenho fama de insensível. Mas realmente
fico em dúvida se os cartazes são de pesar pela tragédia ou pela consciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário