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quarta-feira, 23 de abril de 2014

DAS COMOÇÕES

É claro que é profundamente lamentável o caso do menino Bernardo, de Três Passos. É claro que agora surgiram inúmeros técnicos e especialistas em psicologia infantil e familiar. É claro que só um louco pode achar razoável que uma madrasta mate um garoto com a conivência do pai. (É claro que não é um caso isolado, mas isso é outro assunto.)

O que mais me chamou a atenção nesse caso – e não sei por que ainda fiquei surpreso – foi a mobilização de uma cidade inteira em torno do que “todos já sabiam”. Bastou os responsáveis pela investigação afirmarem que a madrasta assassinou o menino com a ajuda de uma amiga e a anuência do pai para histórias e certezas virem à tona.

Vizinhos viam o menino esperar do lado de fora da casa o pai chegar, mesmo em dias de chuva. A empregada afirma que a madrasta já havia tentado sufocar o menino. Professores reparavam no surrado agasalho que Bernardo usava para ir à escola. Quando acionada pela justiça, após o menino ir se queixar da falta de atenção do pai, para pleitear a guarda da criança, uma família amiga preferiu não se indispor com o pai do garoto.

E agora a casa da família – que teve uma tentativa de incêndio criminoso por parte de populares debelada pela delegada local  está cheia de cartazes pesarosos pelo triste final da história.

Tenho fama de insensível. Mas realmente fico em dúvida se os cartazes são de pesar pela tragédia ou pela consciência.

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