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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

DO DELÍRIO COTIDIANO

Véspera de ano novo, supermercado relativamente vazio, levando-se em consideração a efeméride.

Estou avaliando umas bandejas de carne: preço, sangueira, aparência, essas coisas. Quando me decido por um pedaço, vejo um camarada se aproximando, de lado, daquele jeito de quem escolhe carne, meio encurvado e andando como um caranguejo, e se a gente não firma o pé no chão, é derrubado pelo sujeito que não se dá conta que tem mais gente ali. Quem compra carne em supermercado sabe como é.

Ele olha a carne na minha mão e reprova acintosamente. O corte adequado é outro. Isso, obviamente, sem eu ter perguntado a opinião dele. Como sempre, um gentleman, respondo educadamente: “Pois é...”. Recolho minha carne e vou embora. O sujeito começa a analisar os mesmos pedaços que eu estava olhando sob sua censura.

Na fila do fiambre, na minha frente, um sujeito discursa animadamente para as atendentes e para quem quiser ouvir sobre as vantagens de entrar o ano com bons pensamentos e boas vibrações. Diante de meu eloquente desinteresse pela arenga toda, ele me cutuca e pergunta se não concordo. Novamente, educado, respondo: “Pois é...”

Agora nas verduras. Uma senhora empurra seu carrinho de compras em direção a uma funcionária que arruma umas maçãs no tabuleiro e, aos gritos, lógico, pergunta, muito indignada por não ter achado o que queria: “Onde tem papel de boca?”. 

Como sempre, nessas situações, um pequeno caos se forma, pois a funcionária, compreensivelmente, não sabe do que se trata. Pergunta para a moça do lado, que pergunta para outro, e todos, logicamente, param o que estavão fazendo para tentar atender (e entender) o desejo da cliente. Quando uma cliente fala “Guardanapo!”, tudo se esclarece.

Fui embora antes que a cliente essa procurasse sem sucesso um rolo de papel higiênico. Aí o caos seria total.

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