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quinta-feira, 4 de abril de 2013

OPINIÃO

A DIVERTIDA DISCUSSÃO SOBRE O
TRANSPORTE PÚBLICO DE PORTO ALEGRE


Carlos Augusto Bissón

Pois, acredito que as recentes manifestações contra o aumento da passagem de ônibus em Porto Alegre de 2,85 reais para 3,05 estão crescendo em termos relativos, e repercutindo nos jornais mais do que deviam, não apenas porque muitos usuários de transporte público estão nas ruas protestando, mas porque, num certo sentido, há descontentes “motorizados” endossando-as. Sobre isto, falo mais adiante.

Ah, e não se pode deixar de mencionar, também que temos uma imprensa naturalmente sequiosa de notícias, a qual, infelizmente para ela, atua numa cidade onde nada de realmente importante acontece - porque, como o RS, estacionou há três décadas - pouco lhe restando, portanto, senão amplificar qualquer “ato de repúdio” promovido pela meia-dúzia de sempre.
Enlouqueci? Pode ser, mas quem não, em Porto Alegre? O que interessa, porém, é que a chave para o entendimento dos protestos estudantis é o fato de que o Prefeito José Fortunati (PDT) foi reeleito no primeiro turno com 65% dos votos, fenômeno que gerou ressentimentos insanáveis. Há muito tempo, friso, pouco se me dá quem é o prefeito de Porto Alegre, pela irrelevância e impotência do cargo numa cidade essencialmente reacionária e imobilista, mas, na postagem que fiz quando Fortunati foi eleito, eu disse que ele – que fala sempre em Deus em seus pronunciamentos – iria precisar mesmo de um aliado deste porte para governar.

Com o resultado eleitoral acachapante que obteve, o prefeito vai “pagar” por esse “pecado” até o final do mandato, pois humilhou seus opositores, deixando-os sem espaço político significativo. Era preciso, portanto, na ótica daqueles últimos, “fazer alguma coisa”. Os descontentes, muitos deles até sem filiação partidária, têm se esmerado nesta tarefa corajosamente, abusando, inclusive, da crescente capacidade gaúcha de beirar o ridículo - como aquela de reclamar da presença de um boneco no Largo Glênio Peres. A conversa da “privatização dos espaços públicos”, decididamente, não colou entre maiores de 25 anos, já que ninguém realmente sério, a exceção dos tarados ou dos dementes políticos, se importa em passear num parque ou entrar num teatro por estes ostentarem um anúncio da Coca-Cola. Imagino, aliás, o “chilique ideológico” que muita gente desta cidade teria se a Prefeitura colocasse uma gigantesca peça da Nike na marquise de seu prédio, coisa que vi em Montevidéu (2011).

Como, por “falta de vontade política”, não tem havido, há décadas, repito, um projeto administrativo que efetivamente modernize e aperfeiçoe o perfil urbano de Porto Alegre, a discussão na cidade tem se limitado à histeria ecológica “neocolona” contra o corte de árvores exóticas ou, até, quanto ao objeto de seu plantio – e vi, num blog, uma crítica severa à preferência da SMAM por jerivás...
Sendo assim, as forças anti-Fortunati, seja qual for a sua coloração partidária, viram no aumento da passagem uma oportunidade para se colocar politicamente na ribalta, liderando o coro dos descontentes numa coisa, por fim, supostamente séria, palpável, de provável interesse da sociedade.

O fato é que o êxito da ação dos manifestantes – e foram cinco mil nesta segunda-feira, 1º de abril – é fruto da circunstância de que quem anda por Porto Alegre de carro, lotação ou ônibus sofre com os congestionamentos diários do trânsito, sobretudo nas horas de pique, em função das obras viárias que estão sendo realizadas na cidade – e, o que é altamente problemático, ao mesmo tempo. A irritação é geral, inclusive de minha parte, e imagino que muitos que estão em pé, presos no interior de um ônibus, sintam enorme desconforto diante desta situação, pela lentidão com que os veículos se movem.

Entretanto, quem dirige automóvel experimenta igual ou maior descontentamento, já que, em tese, o carro deveria aumentar a autonomia e capacidade de movimentação de quem o tem. Contudo, não é o que está acontecendo. Pior para o prefeito, o qual, para seu azar, ainda comete eventuais deslizes de linguagem. Pois bem, não tenho automóvel e só pego ônibus se este passar pela minha frente (as distâncias que percorro são curtas). Ainda assim, não posso deixar de considerar divertidas as declarações que tenho lido e ouvido por parte dos estudantes que estão protestando contra o aumento das passagens.

Uma delas é de que os ônibus estão sempre insuportavelmente lotados e que atrasam muito (este último item se explica pelo congestionamento citado anteriormente). Bem, já andei de transporte público nas principais cidades do mundo: Londres, Paris, Nova Iorque, Madri etc. Você não pode nem pensar em pegar o metrô que me parece ser o mais organizado e eficiente do mundo, o de Londres, entre 16h30min e 18 horas (o expediente de trabalho lá é o das 9 às 17 horas). Se conseguir entrar nos vagões, você vai se sentir uma “sardinha em lata”, termo que vi nos cartazes dos manifestantes infanto-juvenis porto-alegrenses. O que se vê em plena Europa, naquele horário, não difere em nada dos trens lotados da Central do Brasil. O mesmo acontece quando se pega o metrô de Nova Iorque, por exemplo, na Estação Wall Street.

A outra queixa é de que temos em Porto Alegre a “passagem mais cara do Brasil”. Pode até ser, mas, reconheça-se algo elogiável nesta cidade muquirana, o transporte público de Porto Alegre é, com todas as suas possíveis precariedades, um dos melhores, se não o melhor, das capitais do país – há um bom tempo, aliás, e até por empenho das administrações anteriores. Tente pegar o metrô em São Paulo, por exemplo. Você vai encontrar filas e mais filas às 16h. As estações são um lixo. E os ônibus que circulam por lá são, visivelmente, bem mais velhos do que os nossos. Isto só para citar a maior e mais rica cidade do país. Olhem, essa coisa de que transporte público é, ou deve ser, uma maravilha SEMPRE nada mais é do que uma invenção dos “maqueteiros”, digo, de alguns arquitetos e urbanistas “fora do ar”, esse povo que quer que as cidades não tenham nem carros e nem gente – embora, pitorescamente, digam o contrário - para que se assemelhem às maquetes que montam.

À exceção de Dubai, onde a riqueza do petróleo permite paradas de ônibus abertas, mas com refrigeração (!!!), transporte público é, em maior ou menor grau, algo que se aceita e se usa em todo mundo apenas porque ele, se for metrô, é mais rápido e barato do que o automóvel, já que estes é caro e não há estacionamentos disponíveis para todos. Por fim, o outro argumento dos jovens, cuja ilimitada possibilidade hormonal permite esse tipo de formulação, é que o aumento “prejudicou o lazer e as atividades culturais” dos jovens. Vejamos: são 20 centavos por passagem, 40 a mais por dia no ida e volta.

Sob esta circunstância, o aumento do custo mensal desse pessoal é de...12 reais. Só que eles pagam a metade da passagem ...6 reais... Compra-se uma cerveja e uma carteira de cigarro ou se vai ao cinema com isso?

Pois é...

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