Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo
ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela
cabeça de macho altivamente erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava
e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos
trinta, montava um alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata
e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões
de metal. Tinha um violão a tiracolo; sua espada, apresilhada aos arreios,
rebrilhava ao sol daquela tarde de outubro de 1828 e o lenço encarnado que
trazia ao pescoço esvoaçava no ar como uma bandeira. Apeou na frente da venda
do Nicolau, amarrou o alazão no tronco dum cinamomo, entrou arrastando as
esporas, batendo na coxa direita com o rebenque, e foi logo gritando, assim com
ar de velho conhecido:
— Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e
nos grandes dou de talho!
Havia por ali uns dois ou três homens, que o miraram de
soslaio sem dizer palavra. Mas dum canto da sala ergueu-se um moço moreno, que
puxou a faca, olhou para Rodrigo e exclamou:
— Pois dê!
Um Certo Capitão Rodrigo - Erico Verissimo - 1948
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