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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

MÚSICA NA SEXTA

Paulo César Francisco Pinheiro nasceu em 1949, no Rio de Janeiro.

Sua primeira composição foi "Viagem", que compôs em 1964, com João de Aquino. Foi por intermédio desse parceiro que conheceu Baden Powell, primo do violonista. Baden, 12 anos mais velho, era sua referência musical mais forte. Tornaram-se amigos e juntos rodaram as noites do Rio, as reuniões das casas dos compositores, os estúdios de gravação.

Certo dia, Baden mostrou a Paulo um samba novo, cujo refrão folclórico ele recolhera nas suas andanças pela Bahia. Falava de um capoeirista famoso chamado Besouro, que se tornou um mito - e um símbolo da luta pelo reconhecimento da cultura negra no Brasil - nos anos que se sucederam à sua morte.

Paulo mal pode acreditar quando o amigo insistiu para que ele escrevesse a letra. Afinal, na época, o parceiro mais constante de Baden era Vinicius de Moraes, considerado o maior letrista vivo.

Depois de uma semana, Paulo apareceu com a letra pronta. Baden adorou e saiu mostrando para todo mundo. Mas Paulo ainda não estava satisfeito. Voltou para casa, rasgou a letra e fez outra, essa sim definitiva.

Composição pronta, ele e Baden foram para o bar Veloso, hoje Garota de Ipanema, na rua Montenegro. Lá, encontraram Vinícius, que estava com alguns amigos, como Tom Jobim e o compositor Candinho, marido de Sylvinha Telles. Baden tirou o violão da capa e o samba tomou conta do ambiente. Cantaram umas dez vezes seguidas. Todos cantavam juntos, menos Vinícius, que permanecia quieto. A certa altura, o poeta levantou-se como quem vai ao banheiro e desapareceu sem dizer uma palavra. Paulo ficou decepcionado e todos notaram. Tom tentou contemporizar: "Não liga, não, Paulinho, Vinícius é extremamente ciumento. Não faz por mal."

Por ironia, Vinícius e Paulo, mais tarde, se tornariam grandes amigos.

Em 1968, a TV Record criou mais um festival, chamado Bienal do Samba. Esse, contudo, era diferente. Um evento de famosos. Os compositores não inscreviam música. Eram convidados. Participaram dele João da Baiana, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, Cartola, Sinval Silva, Paulinho da Viola, Billy Blanco, Elton Medeiros, Chico Buarque, Sergio Ricardo, dentre tantos outros. Era a nata da música popular, e, óbvio, não poderiam faltar Baden e Vinícius de Moraes. Baden, porém, respondeu que só participaria se fosse com "Lapinha". Os organizadores recusaram alegando que Paulo era um desconhecido e, pela regra, não poderiam convidar alguém que nunca havia gravado. Baden respondeu:

- Mudem o regulamento ou não contem comigo.

O samba ia ser defendido por Elis Regina. Ela e Baden eram os maiores nomes dos programas musicais da Record, e Paulo Machado de Carvalho, dono da emissora, mandou que abrisse o precedente.

Foi assim que o samba "Lapinha", primeira parceria de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, defendido por Elis Regina, se tornou o vencedor do festival.

Fonte: Histórias das Minhas Canções - Paulo César Pinheiro.


 Lapinha
 (Paulo Cesar Pinheiro/Baden Powell)

Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
 Quando eu morrer me enterre na Lapinha
 Calça, culote, palitó almofadinha
 Calça, culote, palitó almofadinha

Vai meu lamento vai contar
 Toda tristeza de viver
 Ai a verdade sempre trai
 E às vezes traz um mal a mais
 Ai só me fez dilacerar
 Ver tanta gente se entregar
 Mas não me conformei
 Indo contra lei
 Sei que não me arrependi
 Tenho um pedido só
 Último talvez, antes de partir

Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
 Quando eu morrer me enterre na Lapinha
 Calça, culote, palitó almofadinha
 Calça, culote, palitó almofadinha

Sai minha mágoa
 Sai de mim
 Há tanto coração ruim
 Ai é tão desesperador
 O amor perder do desamor
 Ah tanto erro eu vi, lutei
 E como perdedor gritei
 Que eu sou um homem só
 Sem saber mudar
 Nunca mais vou lastimar
 Tenho um pedido só
 Último talvez, antes de partir

Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
 Quando eu morrer me enterre na Lapinha
 Calça, culote, palitó almofadinha
 Calça, culote, palitó almofadinha

Adeus Bahia, zum-zum-zum
 Cordão de ouro
 Eu vou partir porque mataram meu besouro

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