Paulo César
Francisco Pinheiro nasceu em 1949,
no Rio de Janeiro.
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Vai meu lamento vai contar
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Sai minha mágoa
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Adeus Bahia, zum-zum-zum
Sua primeira composição foi "Viagem", que compôs em
1964, com João de Aquino. Foi por intermédio desse parceiro que conheceu Baden Powell,
primo do violonista. Baden, 12 anos mais velho, era sua referência musical mais
forte. Tornaram-se amigos e juntos rodaram as noites do Rio, as reuniões das
casas dos compositores, os estúdios de gravação.
Certo dia, Baden mostrou a Paulo um samba novo, cujo refrão
folclórico ele recolhera nas suas andanças pela Bahia. Falava de um capoeirista
famoso chamado Besouro, que se tornou um mito - e um símbolo da luta pelo
reconhecimento da cultura negra no Brasil - nos anos que se sucederam à sua
morte.
Paulo mal pode acreditar quando o amigo insistiu para que
ele escrevesse a letra. Afinal, na época, o parceiro mais constante de Baden
era Vinicius de Moraes, considerado o maior letrista vivo.
Depois de uma semana, Paulo apareceu com a letra pronta.
Baden adorou e saiu mostrando para todo mundo. Mas Paulo ainda não estava
satisfeito. Voltou para casa, rasgou a letra e fez outra, essa sim definitiva.
Composição pronta, ele e Baden foram para o bar Veloso, hoje
Garota de Ipanema, na rua Montenegro. Lá, encontraram Vinícius, que estava com
alguns amigos, como Tom Jobim e o compositor Candinho, marido de Sylvinha Telles.
Baden tirou o violão da capa e o samba tomou conta do ambiente. Cantaram umas
dez vezes seguidas. Todos cantavam juntos, menos Vinícius, que permanecia quieto.
A certa altura, o poeta levantou-se como quem vai ao banheiro e desapareceu sem
dizer uma palavra. Paulo ficou decepcionado e todos notaram. Tom tentou
contemporizar: "Não liga, não, Paulinho, Vinícius é extremamente ciumento.
Não faz por mal."
Por ironia, Vinícius e Paulo, mais tarde, se tornariam
grandes amigos.
Em 1968, a TV Record criou mais um festival, chamado Bienal
do Samba. Esse, contudo, era diferente. Um evento de famosos. Os compositores
não inscreviam música. Eram convidados. Participaram dele João da Baiana,
Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, Cartola, Sinval Silva, Paulinho da Viola, Billy
Blanco, Elton Medeiros, Chico Buarque, Sergio Ricardo, dentre tantos outros.
Era a nata da música popular, e, óbvio, não poderiam faltar Baden e Vinícius de
Moraes. Baden, porém, respondeu que só participaria se fosse com "Lapinha".
Os organizadores recusaram alegando que Paulo era um desconhecido e, pela
regra, não poderiam convidar alguém que nunca havia gravado. Baden respondeu:
- Mudem o regulamento ou não contem comigo.
O samba ia ser defendido por Elis Regina. Ela e Baden eram
os maiores nomes dos programas musicais da Record, e Paulo Machado de Carvalho,
dono da emissora, mandou que abrisse o precedente.
Foi assim que o samba "Lapinha", primeira parceria
de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, defendido por Elis Regina, se tornou o
vencedor do festival.
Fonte: Histórias das Minhas Canções - Paulo César Pinheiro.
Lapinha
(Paulo Cesar Pinheiro/Baden Powell)
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me
enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó
almofadinha
Calça, culote, palitó
almofadinha
Vai meu lamento vai contar
Toda tristeza de
viver
Ai a verdade sempre
trai
E às vezes traz um
mal a mais
Ai só me fez
dilacerar
Ver tanta gente se
entregar
Mas não me conformei
Indo contra lei
Sei que não me
arrependi
Tenho um pedido só
Último talvez, antes
de partir
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me
enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó
almofadinha
Calça, culote, palitó
almofadinha
Sai minha mágoa
Sai de mim
Há tanto coração ruim
Ai é tão desesperador
O amor perder do
desamor
Ah tanto erro eu vi,
lutei
E como perdedor
gritei
Que eu sou um homem
só
Sem saber mudar
Nunca mais vou lastimar
Tenho um pedido só
Último talvez, antes
de partir
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me
enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó
almofadinha
Calça, culote, palitó
almofadinha
Adeus Bahia, zum-zum-zum
Cordão de ouro
Eu vou partir porque
mataram meu besouro
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