Existe uma outra lenda urbana que graça livremente e medra
pelas conversas, e é até plausível, mas que muito pouca gente chegou a
presenciar a cena. É o sujeito que pede um prato de comida em uma casa, a
pessoa diz que dará um prato de comida em troca da capina no quintal. O fim da
história é que o sujeito recusa a proposta dizendo que está pedindo uma esmola,
uma comida, um alimento, e não um emprego ou trabalho. o que redunda na
conclusão rasteira e reta de que se trata de um mero vagabundo e aproveitador.
Por partes.
O camarada, pra virar andarilho, pedinte, morador de rua,
deve ter passado por algum revés na vida. Foi abandonado, traído, teve algum trauma.
Drogou-se, está foragido ou coisa do gênero. Ou cansou da vida. Cansou do
chefe, cansou de dar explicações, cansou de esperar o que achava que não
precisava. E resolveu sair mundo afora. Sem compromisso.
Ou seja, esse vagabundo da lenda não é um trabalhador desafortunado
em busca de recolocação no mercado. É apenas uma pessoa com fome.
E o que surpreende mais ainda é a pessoa achar um
desaforo a recusa da oferta. Na verdade, ela poderia simplesmente dizer que não
dá comida pra vagabundo e pronto. Mas isso não é suficiente, precisa testar o
sujeito (ou seja, é uma pessoa que dispõe de tempo livre). E, normalmente, o
espírito cristão que move esse tipo de oferta estende um prato
cheio de arroz e alface murcha que sobrou da tele-entrega da noite anterior.
E você já pensou em capinar um pátio com a barriga roncando de fome enquanto aquela samaritana alma, de pés cruzados e robe de chambre, assiste o Vídeo Show?
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