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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

LENDAS URBANAS

Existe uma outra lenda urbana que graça livremente e medra pelas conversas, e é até plausível, mas que muito pouca gente chegou a presenciar a cena. É o sujeito que pede um prato de comida em uma casa, a pessoa diz que dará um prato de comida em troca da capina no quintal. O fim da história é que o sujeito recusa a proposta dizendo que está pedindo uma esmola, uma comida, um alimento, e não um emprego ou trabalho. o que redunda na conclusão rasteira e reta de que se trata de um mero vagabundo e aproveitador. Por partes.



O camarada, pra virar andarilho, pedinte, morador de rua, deve ter passado por algum revés na vida. Foi abandonado, traído, teve algum trauma. Drogou-se, está foragido ou coisa do gênero. Ou cansou da vida. Cansou do chefe, cansou de dar explicações, cansou de esperar o que achava que não precisava. E resolveu sair mundo afora. Sem compromisso.

Ou seja, esse vagabundo da lenda não é um trabalhador desafortunado em busca de recolocação no mercado. É apenas uma pessoa com fome.

E o que surpreende mais ainda é a pessoa achar um desaforo a recusa da oferta. Na verdade, ela poderia simplesmente dizer que não dá comida pra vagabundo e pronto. Mas isso não é suficiente, precisa testar o sujeito (ou seja, é uma pessoa que dispõe de tempo livre). E, normalmente, o espírito cristão que move esse tipo de oferta estende um prato cheio de arroz e alface murcha que sobrou da tele-entrega da noite anterior.

E você já pensou em capinar um pátio com a barriga roncando de fome enquanto aquela samaritana alma, de pés cruzados e robe de chambre, assiste o Vídeo Show?

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